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Manuel António Pina escreveu ensaio sobre filme "Aniki-Bobó"

Um ensaio que o poeta e cronista Manuel António Pina escreveu sobre "Aniki-Bobó", filme de Manoel de Oliveira que diz fazer "espelhar nas crianças os problemas do Homem", é editado esta semana, um mês depois da morte do escritor.

16 de novembro de 2012 às 10:49

O ensaio foi escrito por encomenda do Instituto de Cinema do Reino Unido para uma colecção de livros sobre filmes clássicos do cinema mundial, mas a publicação sobre a obra portuguesa não chegou a concretizar-se, disse à agência Lusa fonte da editora Assírio & Alvim.

O texto, inédito, é uma reflexão de Manuel António Pina sobre o primeiro filme de ficção do realizador Manoel de Oliveira, contextualizando-o na época em que estreou - estava-se em 1942, em pleno Estado Novo - e analisando-o na actualidade, setenta anos depois.

Sustentado por várias entrevistas de Manoel de Oliveira à imprensa portuguesa e bibliografia sobre cinema, Manuel António Pina conta que o realizador, então com 34 anos, partiu para "Aniki-Bobó" com o "rótulo de subversivo", porque tinha feito o documentário "Douro, faina fluvial", que "subverteu por completo os cânones formais e temáticos em voga" e pôs em causa "o prestígio do país".

Inspirado num conto de Rodrigues de Freitas, o filme conta "a história do deslumbrado e terreno amor de Carlitos, menino tímido e sonhador, por Teresinha", tendo um rival, Eduardito, "um pequeno rufia, atrevido e destemido" e é interpretado por pequenos atores amadores no Porto e Gaia.

Para Manuel António Pina, este universo infantil de "Aniki-Bobó" "é uma reprodução do mundo real dos homens tal como o conhecemos, reduzido, no entanto, à sua mais funda e descarnada estrutura: Bem e Mal, justiça e injustiça, esperança e medo, felicidade e infelicidade, desejo e morte, amor e ódio".

Se hoje "Aniki-Bobó" é considerado um "clássico do cinema português", filme que antecipou e enunciou "muitos dos processos do futuro neo-realismo italiano", Manuel António Pina recorda que quando estreou foi considerado imoral e subversivo, apupado em Lisboa e, por causa dele, o realizador teve de esperar quase vinte anos para voltar a fazer cinema.

"O seu nome foi riscado pelo bom gosto oficial do regime salazarista e todos os projectos, e foram muitos, que levou ao Fundo do Cinema lhe foram sucessivamente recusados", escreve.

Em pouco mais de 60 páginas, Manuel António Pina sustenta que a história de Manoel de Oliveira - que dentro de semanas cumpre 104 anos - é também a história do cinema português.

É uma obra "que tem estado sempre à frente do seu tempo, fazendo e desfazendo modas e rompendo cânones", sublinhou o autor.

"Aniki-Bobó" será apresentado no domingo no Museu Nacional da Imprensa, no Porto, com a presença de António Roma Torres.

Manuel António Pina, poeta, cronista, jornalista, Prémio Camões 2011, morreu aos 68 anos, a 19 de Outubro passado.

O seu último livro de originais, "Como se desenha uma casa", venceu na semana passada o prémio de poesia Teixeira de Pascoaes, atribuído pela autarquia de Amarante.

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