A edição de hoje
A última das ‘Três Marias’, autoras do polémico ‘Novas Cartas Portuguesas’, deixou-nos ontem, aos 87 anos.
O livro ‘Minha Senhora de Mim’, que Maria Teresa Horta publicou em 1971, valeu-lhe “uma tareia à mão de fascistas”, incomodados com a maneira como descreveu o desejo sexual e colocou a mulher no centro do jogo erótico. Mas o episódio de violência foi o impulso de que precisava para se juntar a Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Velho da Costa (1938-2020) – as chamadas ‘Três Marias’ – para desafiar o regime com ‘Novas Cartas Portuguesas’, livro que os censores de Salazar consideraram “imoral” e “pornográfico” e que levou as autoras a tribunal.
Maria Teresa Horta – que morreu ontem, em Lisboa, aos 87 anos – não mais perderia a aura de contestatária e até ao fim não deixaria de defender a causa das mulheres. Nascida em Lisboa, em 1937, descendente de uma família da alta aristocracia portuguesa (a Marquesa de Alorna era sua antepassada), estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, publicou o primeiro livro de poesia em 1960 (aos 23 anos) e fez-se jornalista – uma das primeiras mulheres a entrar nas redações em Portugal.
Passou pelo ‘Diário de Lisboa’, ‘República’, ‘O Século’, ‘A Capital’, ‘Diário de Notícias’ e ‘Jornal de Letras e Artes’, entre outros. Escreveu sempre – tanto poesia quanto prosa. Ganhou muitos prémios, mas ficou na memória a sua recusa em aceitar das mãos de Passos Coelho o Prémio D. Dinis 2011 (considerava que o então primeiro-ministro estava “a destruir o País”).
Foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade (depois de já ter sido agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique). Garantia não conseguir viver sem escrever e dizia muitas vezes: “Eu sou a minha poesia.”
Maria Teresa Horta estará hoje em câmara ardente das 18h00 às 22h00 nas Capelas Exequiais da Basílica da Estrela, em Lisboa. As exéquias fúnebres serão reservadas à família.
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