Ney Matogrosso, cantor, inicia amanhã, no Casino <BR>de Espinho, uma série de concertos em Portugal, que culminará quinta-feira no Coliseu de Lisboa. Em destaque estará o seu novo álbum “Cartola”, um disco sobre o conhecido sambista e filósofo Cartola.
Correio da Manhã – O que podemos esperar deste seu novo espectáculo?
Ney Matogrosso – Preparei uma espécie de recital, um espectáculo muito emocional, que embora não inclua muito a dança é bastante envolvente.
– Quer dizer que não vamos assistir àquelas manifestações de exuberância do Ney?
– Ninguém me vai ver dançar muito, mas este é um espectáculo que tem uma exuberância emocional muito grande e que me deixa exausto. Não é um espectáculo muito visual. Não há cenário, nem um figurino muito extravagante, mas emocionalmente é muito forte. Quando ele acaba fico com dor no peito.
– Já veio várias vezes actuar em Portugal. Que memórias guarda dos seus espectáculos?
– Sempre fui muito bem recebido aqui. Aliás, Portugal é o único país fora do Brasil em que estou a apresentar o disco "Cartola". Embora ele não seja muito conhecido aqui, tem um universo emocional muito grande. Acho que as pessoas vão compreender.
– Depois do álbum "Batuque", o Ney volta a debruçar-se sobre o passado da Música Popular Brasileira (MPB) neste disco dedicado ao Cartola. Porquê esta revisitação?
– A revisitação ao passado da MPB sempre esteve presente na minha vida. Volta e meia vou lá atrás buscar alguma coisa. É algo que faço há muitos anos, não por falta de repertório novo, mas porque gosto. Aliás, os repertórios que tenho escolhido quase posso considerar inéditos em termos do povo brasileiro de agora porque só uma minoria conhece.
– Este disco foi editado no Brasil juntamente com um livro sobre o Ney que ainda não se sabe se vai ser publicado em Portugal. Que livro é esse?
– É um livro que inclui fotografias minhas de 1975 até 1986. Era uma ideia bem antiga. No início dos anos 80 cheguei até a fazer um esboço do livro. Só que depois faltou o dinheiro e acabei por guardar a ideia. Desta vez apareceu o Bené Fonteles, que é um artista plástico que tinha uma ligação com a editora da Universidade de Brasília, e que tornou possível o projecto. Todas as fotos deste livro são de um único fotógrafo que eu achava importante que as pessoas conhecessem.
– Esse livro tem o título de "Ousar Ser". A ousadia sempre foi uma característica sua. Arrepende-se de alguma coisa que tenha feito?
– Não. Acho que fui sempre coerente. Fui pelo caminho mais longo mas fui sempre igual. Consegui não me perder de mim mesmo. Nunca me deixei dominar pela máquina. Sempre consegui ter um pensamento independente dentro do contexto do produto e do objecto de consumo.
– E hoje sente-se uma referência da música brasileira?
– Sim, com certeza, afinal estou no activo há 30 anos.
– Numa entrevista há quatro anos em sua casa no Rio de Janeiro, revelou-se um pouco descontente e amargurado com a situação da música brasileira na altura, virada para o axé. Entretanto, essa fase já passou. Está mais contente?
– É, essa fase já passou, mas aquilo que eu sentia não era amargura. Não perco o meu tempo com essas coisas. Só que, nessa altura, o Brasil estava embebido de uma mentalidade muito descartável e é contra ela que eu me expressava. Não tenho nada contra o axé, sou é contra a mentalidade que gera produtos que a gente ouve até não suportar mais.
– Já está a trabalhar em novos originais?
– Acabei de receber uma proposta de um grupo brasileiro chamado Pedro Luis e a Parede que tem uma parte de percussão muito interessante. E eles convidaram-me para participar num projecto que, curiosamente, vai contar com um músico português, que é o Pedro Jóia.
EM HINO, UMA HOMENAGEM
Vigésimo quinto trabalho discográfico da carreira de Ney Matogrosso, “Cartola” nasceu de uma proposta para musicar o livro “Ousar Ser”, obra que poderá vir a ser editada em Portugal. “Estou a fazer força para que isso aconteça”, diz o cantor.
Para o novo trabalho “Cartola”, Ney Matogrosso escolheu as suas treze canções favoritas do músico, a saber: “O Sol Nascerá (A Sorrir)”, “Sim”, “Cordas de Aço”, “Corra e Olhe o Céu”, “As Rosas não falam”, “Acontece”, “Tive Sim”, “O Mundo é um Moinho”, “Peito Vazio”, “Senões”, “Ensaboa” e “Desfigurado”.
Ney de Souza Pereira nasceu a 1 de Agosto de 1941 na pequena cidade de Bela Vista, no Mato Grosso do Sul. Desde cedo demonstrou vocação artística: cantava, pintava e interpretava. Teve a infância e a adolescência marcadas pela solidão, em parte voluntária, diz-se porque gostava de passar horas seguidas no mato, acompanhado somente pelos seus cães. Em 1973 gravou o seu primeiro disco com o grupo Secos e Molhados, que se tornou um fenómeno da música brasileira. Em 1975 lançou o seu primeiro trabalho de originais, assumindo-se hoje como uma das referências da MPB. O próprio não tem pudor em dizê-lo.
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