José Luís Peixoto representa hoje uma nova geração de escritores, mas nem sempre foi assim... E na contagem decrescente para novo romance (’Cemitério de Pianos’, ed. Bertrand), a apresentar segunda-feira no S. Luiz, Lisboa, refizemos com ele o percurso de uma vida.
Homem de família, faz disso prova no novo romance, tem dois filhos: o João e o André, sendo o primeiro fruto de uma relação anterior à que mantém com a actriz Margarida Cardeal, de quem tem o André, de dois anos.
A história de amor do casal é, no mínimo, curiosa e isto porque verem-se e amarem-se foi obra de um momento... de televisão!
“Eu estava em Cabo Verde e vi-a numa novela que passava na RTP-África (‘Terra Mãe’), mas o mais engraçado é que ela também me viu pela primeira vez na televisão a falar de um livro meu (‘A Criança em Ruínas’), título que escreveu depois num papel que colou no frigorífico para não se esquecer de comprar... Estranho, não é?!”, recorda José Luís com a cumplicidade de Margarida que lhe vai corrigindo datas e detalhes. Um encontro casual em casa de amigos comuns fez o resto, já lá vão, sensivelmente, três anos.
José Luís Marques Peixoto nasceu em Galveias, em 1974, publicando por sua conta e risco o primeiro livro (’Morreste-me’, 2000), onde fazia por resolver a lenta e dolorosa morte do pai, vítima de cancro.
No mesmo ano, saltou do anonimato ao ganhar a segunda edição do Prémio Saramago, com um primeiro romance de nome ‘Nenhum Olhar’. Estava lançado. Em 2005 ‘descobriu’ o teatro com ‘Anathema’ e ‘A Manhã’, a que se seguiu a co-autoria de ‘Negócios Estrangeiros’, a estrear em Dezembro .
“Quase acidentalmente a escrita para teatro ganhou um papel muito importante na minha vida”, concluiu.
"A FAMÍLIA É SEMPRE ESPAÇO FORMADOR DE INDIVÍDUOS" (José Luís Peixoto, escritor)
Correio da Manhã – ‘Cemitério de Pianos’ é um título bizarro, como convém a uma metáfora, mas qual é ela?
José Luís Peixoto – No centro da temática deste romance está a questão da filiação e a forma como as gerações são continuações umas das outras, como a morte é vencida por aquilo que se conseguiu transmitir aos outros, neste caso particular, aos filhos. Assim, o ‘cemitério de pianos’ é também uma metáfora dessa forma de transcendência, uma vez que os pianos sem conserto, aparentemente mortos, encontram novas vidas através das suas peças nos pianos que ajudam a arranjar.
– Fala de pianos sem conserto, mas parece querer consertar a vida: a dos filhos corrigindo a dos pais?
– Corrigir a vida, sim... No sentido em que todas as pessoas tentam fazer o melhor possível com a vida de que dispõem. No entanto, mais do que uma redenção, trata-se de uma continuação. O nascimento não é uma passagem do nada para o tudo, assim como a morte não é uma passagem do tudo para o nada.
– O maratonista Francisco Lázaro foi a sua musa inspiradora...
– Francisco Lázaro foi o primeiro grande maratonista português, tendo morrido durante a maratona dos Jogos Olímpicos de 1912, depois de ter sido considerado um dos candidatos mais fortes ao título. Por um lado, escolhi basear-me nele porque a sua história é fascinante e, pessoalmente, parece-me que é bastante simbólica de uma certa ideia do nosso país: de esperança desmedida e de desalento também desmedido. Por outro lado, Lázaro, na Bíblia, é aquele que Jesus resgata do reino dos mortos, aquele que ressuscita, o que serve na perfeição a ideia essencial por detrás deste romance. E, depois, foi também assim que me senti ao tentar descrever todos os seus pensamentos durante essa maratona fatídica.
– E porquê de novo o espaço familiar como núcleo de mais um romance?
– Em todos os livros que escrevi está presente uma reflexão acerca das diversas relações familiares. O interesse por este tema tem a ver com o facto de me parecer que a família é sempre espaço formador de indivíduos. Mesmo que essa família não seja tradicional, mesmo que não existam laços de sangue. A família é o espaço dos afectos mais fortes e também dos conflitos mais intensos. Creio que, neste romance, essa reflexão é feita com uma profundidade que, até aqui, ainda não tinha conseguido. Nesse sentido, estou convencido de que se trata de um romance de maturidade.
Escritor, 32 anos de idade e seis de livros, o Prémio Saramago abriu-lhe portas que tem sabido manter abertas. Representado em antologias de prosa e poesia nacionais e estrangeiras, é nosso colaborador na revista ‘Domingo’.
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