"Um adeus mais-que perfeito" narra a vida de uma mulher, mas também é uma reflexão sobre a condição humana.
Em julho quem gosta de bom teatro tem de ir a Almada. O Festival que acontece anualmente na cidade da margem sul do Tejo e que já vai na 42ª edição é uma referência de boa produção teatral, nacional e internacional. E no âmbito deste evento a companhia anfitriã estreou "Um adeus mais-que-perfeito". No palco Duarte Guimarães e Pedro Walter protagonizam uma espécie de monólogo a duas vozes. Teresa Gafeira é a encenadora e conseguiu a partir de um belíssimo e denso texto criar uma peça intensa, que durante uma hora prende a atenção do público.
"Um adeus mais-que-perfeito" escrito pelo Prémio Nobel da Literatura Peter Handke quando tinha 30 anos, durante o processo de luto provocado pela morte da mãe, que se suicidou aos 51 anos, em 1971, com barbitúricos, é um relato da vida de uma mulher da Europa Central num período difícil, marcado pela segunda guerra mundial. A peça conta a vida difícil da mãe até à espiral de sofrimento que a levou ao suicídio. É uma história de uma mulher da Europa central nascida nos destroços dos impérios que ruíram na primeira guerra mundial no território que agora é Áustria, mas também com raízes eslovenas e num país mais tarde anexado pela Alemanha nazi, de onde são originários o pai do escritor e outro soldado alemão, pai dos irmãos e marido da mãe. Escrita pelo filho, relatada por uma voz masculina, a peça tem um olhar feminista sobre o sofrimento e a condição das mulheres. A mãe do escritor, com origem num mundo rural, pequenos-burguês, conservador e católico, onde as mulheres eram vistas como impertinentes e levianas se ousassem ter voz. O texto é a forma que Peter Handke encontrou para exorcizar o seu sofrimento e encontrar um consolo com a morte prematura da mãe, mas também é um relato sobre a vida e a existência humana.
Esta peça está em cena no festival , mas até dia dia 18 de julho há muitas outras propostas que merecem atenção em Almada.
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