Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, mostra-se confiante no sucesso da próxima viagem literária da instituição. Desta feita, o destino é França, onde se recria a participação portuguesa na I Guerra Mundial e a dramática batalha de La Lys.
Correio da Manhã – Quem decide os percursos das viagens literárias do CNC?
Guilherme d’Oliveira Martins – As viagens literárias enquadram-se há muitos anos no nosso programa e são decididas em conjunto ou através de sugestões. Há um ano fomos a África e antes disso tínhamos ido ao Brasil com o Padre António Vieira nas mãos. Desta vez tivemos a proposta de fazer uma viagem a propósito do livro ‘A Filha do Capitão’ de José Rodrigues dos Santos. Será uma viagem a França no espaço correspondente à zona onde esteve o corpo Expedicionário Português entre 1916 e 1918 na 1.ª Guerra Mundial.
– O livro reporta não só à 1.ª Guerra como à presença portuguesa nesse conflito...
– Houve um grande debate na sociedade portuguesa sobre a nossa participação na Guerra e o resultado foi o golpe de Estado de Sidónio Pais em 1917 que veio a gerar um regime muito fugaz de cerca de um ano. O livro é muito interessante pois acompanha ‘in loco’ o percurso e, sobretudo, um momento dramático que é a batalha de La Lys. Houve um grande sacrifício de homens e de meios, já que os portugueses não tinham grandes condições... Portugal foi carne para canhão.
– O enredo também fala de uma belíssima história de um amor em tempo de guerra...
– Qualquer viagem literária tem uma componente humana e a ideia é visitar os locais onde os acontecimentos ocorram. É curioso mas penso que este amor poderia ter sido protagonizado por qualquer pessoa próxima de nós. A propósito de uma história de amor podemo-nos interrogar sobre o momento histórico e como Portugal participou através do Corpo Expedicionário nesse cenário.
– Vai estar presente na viagem?
– Infelizmente, por questões de agenda, não poderei mas o CNC prestou, e prestará, todo o apoio ao projecto.
– O que é que os participantes podem esperar?
– Além de visitar os locais, serão surpreendidos com pequenos momentos. E esta viagem não é para eruditos mas sim para pessoas comuns interessadas em conhecer novos espaços.
– Que tipo de pessoas costumam aderir às viagens do CNC?
– Dou-lhe um exemplo: na viagem a África tivemos desde uma jovem com 16 anos – que os pais autorizaram a participar – até uma senhora de provecta idade. Ou seja, vêm pessoas de várias faixas etárias.
– Mas são pessoas de todo o País?
– Sim, de Norte a Sul do País e até das regiões autónomas.
– O portal do CNC tem dois anos de vida. Sabe quem o visita?
– Estamos neste momento à beira dos três milhões de visitantes o que é algo – mesmo em termos europeus – excepcional para um portal de cultura. Os nossos visitantes situam-se sobretudo na faixa entre os 20 e os 35 anos, mas através desses visitantes temos outros: os pais, os avós, os professores...
– Quantos sócios tem o CNC?
– Temos 200 sócios efectivos porque existe um ‘numerus clausus’ e é um processo de difícil acesso. Mas depois temos cerca de 1200 sócios auxiliares que acompanham permanentemente as nossas actividades onde se incluem dois passeios por semana, cursos livres, viagens de estudo...
– Quer conquistar mais sócios?
– Através do portal temos tido uma enorme participação das pessoas e regularmente fazemos campanhas de angariação de sócios. No entanto, não estamos dramaticamente à procura de novos sócios porque temos os suficientes e ainda os amigos do CNC.
– Mas gostaria que os jovens interagissem mais...
– Sim e vimos que os mais jovens são muito activos nos nossos ‘cyber’ jogos e também no Campeonato Nacional de Língua Portuguesa, no qual participam com os professores. A ideia nasceu no CNC, em estreita articulação com a escritora Isabel da Nóbrega.
– Sente que a vossas actividades são suficientemente divulgadas?
– Confesso que gostaríamos que a divulgação fosse maior, mas, de qualquer modo, estamos satisfeitos porque ‘atingimos’ sectores que nos interessavam como os estudantes de várias idades e os professores, além dos naturais frequentadores das nossas actividades.
Licenciado e Mestre em Direito, o ex-ministro e secretário de Estado Guilherme d’Oliveira Martins e vice-presidente da Comissão Nacional da UNESCO. Presidente do Tribunal de Contas, é membro do Conselho de Administração da Fundação Mário Soares, professor na Universidade Lusíada e membro da Convenção para o Futuro da Europa. Autor de diversos livros, foi condecorado com as ordens do Infante D. Henrique, Isabel a Católica e do Cruzeiro do Sul.
O Centro Nacional de Cultura existe desde 1945
e situa-se na zona histórica do Chiado, em Lisboa, mas desde o passado dia 28 de Janeiro que tem sede também no Porto. Por ali passaram presidentes com nomes grandes das artes e letras, entre os quais se destacam Sophia de Mello Breyner Andersen e Francisco Sousa Tavares. “Em 1920 existia, na zona da biblioteca, uma sala de jogos clandestina, sujeita a várias rusgas mas as pessoas acabavam por conseguir escapar”, conta, entre risos, Guilherme d’Oliveira Martins, seu actual presidente. Até ao 25 de Abril, o CNC funcionava como um circuito restrito e dirigido apenas à elite. Porém, o cenário alterou-se e, com o início dos Passeios de Domingo, no final dos anos 80, o CNC abriu portas a vários públicos.
Com partida marcada para 4 de Abril, nesta viagem os participantes visitam os locais históricos por onde passaram as tropas portuguesas na Flandres e também os cenários que alimentaram o amor do Capitão Afonso Brandão e da francesa de olhos verdes, Agnès. Durante sete dias são vários os locais a visitar, entre os quais Paris, Compiègne, Péronne, Gosnay e Lille.
A organização da viagem está a cargo do Centro Nacional de Cultura (www.cnc.pt
ou 21 346 67 22) e da Liga dos Combatentes (www.ligacombatentes.org.pt ou 21 346 82 45). Curiosamente, o CNC já organizou várias viagens literárias em torno de romances de Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Padre António Vieira... Esta próxima viagem é a primeira que é organizada em torno de um romance cujo autor ainda está vivo.
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