A edição de hoje
Regressou a Lisboa a famosa ‘Ópera do Malandro’, bem melhor que muitos musicais da Broadway nova-iorquina ou do West End de Londres. E mesmo que fosse só para ouvir as inspiradíssimas canções de Chico Buarque valia a pena uma deslocação ao Coliseu dos Recreios, onde está em cena até ao próximo dia 18.
O enredo vem, por transposição, das famosas ‘óperas’ do ‘Mendigo’ (John Gay) e dos ‘Três Vinténs’ (Brecht/Weill), adaptadas ao bairro carioca da Lapa nos anos 40, durante a ditadura brasileira.
Nesta segunda digressão ao nosso país, a obra não perdeu nada em fulgor, trazendo, agora, alguns artistas de primeiro elenco como a fantástica Soraya Ravenle (no papel de Teresinha), Cláudio Lins (Max) e a mãe, a respeitada Lucinha Lins, no exigente papel de Vitória, e Nuno Leal Maia (Duran), em alguma desvantagem em relação a Mauro Mendonça.
O trabalho de composição de Chico é absolutamente notável do ponto de vista musical, aliando o ritmo e a ‘ginga’ brasileira a poemas sedutores que fazem sonhar e reflectir numa inteligente alegoria que combina o amor com a traição, o sexo com a política, a corrupção com a violência e a ingenuidade com o oportunismo. Durante três horas, que passam a correr, o público é envolvido num Mundo em que tudo de trafica e pouca gente ama verdadeiramente.
Entre tangos e boleros, valsas e sambas e extractos de óperas do repertório lírico, envolvida por uma energia contagiante, a ‘Ópera do Malandro’ brilha numa bem elaborada adaptação e encenação de Charles Moeller, com direcção musical de Cláudio Botelho, que vestiu com novas roupagens as partituras de Chico Buarque. Mais uma vez, a cenografia, simétrica e pouco inventiva, destoa num trabalho que agrada e põe toda a gente a trautear as músicas durante e depois do espectáculo.
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