Soraia Chaves é uma das personagens que fogem das tropas de Napoleão em 'Linhas de Wellington'. O filme realizado por Valeria Sarmiento depois da morte de Raul Ruiz chega hoje aos cinemas portugueses.
Correio da Manhã - Martírio não lhe parece um nome estranho para uma cortesã?
Soraia Chaves - Até acho que é um nome bem bonito e com uma certa ironia, tendo em conta o à-vontade e convicção com que faz o seu papel.
- É um nome simbólico?
- Pelo contrário. até lhe vejo muita força. Faz o que faz como forma de sobrevivência mas também com a perspectiva de ser importante para as tropas. Há uma troca fascinante: ajuda-os a terem alguns momentos felizes e eles ajudam-na a sobreviver.
- Sendo ‘Linhas de Wellington' um filme sobre o efeito da guerra em várias pessoas, a sua personagem é a que sobrevive melhor?
- Sem ser insensível ao que se passa, ela tem uma grande capacidade de abstracção. Mas não sobrevive melhor. Todos estão a ver o horror.
- Que tipo de preparação fez para esta personagem?
- A mesma de sempre, tirando o estudo de uma época. O Carlos Saboga recomendou-me ‘El-Rei Junot', do Raul Brandão. O meu método de trabalho acaba por ser tentar perceber a história da personagem, entrar-lhe na cabeça e entendê-la, para lhe dar forma.
- Tal como vê a personagem, a vida dela já era assim antes das invasões francesas?
- No filme fica em aberto, mas na minha cabeça ela não fazia isto antes. É uma forma de sobrevivência.
- O que a levou a querer participar neste filme?
- Desde que o Paulo Branco me apresentou o projecto, tive noção de que era especial. Fiquei fascinada com a beleza da escrita e a estrutura do argumento do Carlos Saboga. Era irrecusável. Um filme de época, um filme de guerra, um filme que trata da nossa História, com uma equipa de profissionais incríveis... Não havia forma de recusar a oportunidade.
- Quando Raul Ruiz morreu sentiu que o filme poderia não avançar?
- Não conhecendo o Raul Ruiz - a nossa única conversa foi na entrevista em que o Paulo Branco estava a apresentar-lhe actores para fazer o elenco -, fiquei surpreendida com o desaparecimento dele e senti que havia uma grande tristeza nas pessoas que o conheciam bem. Percebeu-se que o filme iria ser concretizado e a dúvida era quem iria realizar. Quando se soube que seria a Valeria Sarmiento fiquei muito feliz.
- Não foi a primeira vez que foi dirigida por uma realizadora...
- Tinha feito uma curta-metragem com a Fátima Ribeiro e o ‘Barcelona Cidade Neutral' também foi feito por uma realizadora catalã.
- Nota-se diferenças quando se é dirigida por uma cineasta mulher?
- Todos os realizadores são diferentes e têm sensibilidade diferentes. A forma como a Valeria trabalhou connosco, sendo um filme de guerra... Senti que trouxe, na forma como pegou nas cenas, a sua enorme sensibilidade. Tem classe e transmite-a para a tela. Às vezes ia para o ‘set' com a cena preparada na cabeça e achava que seria muito crua. E ela, de forma muito natural e subtil, explicava que era outra coisa.
- A cena em que está na tina de água quente com o Marcello Urgeghe é muito ternurenta...
- É linda. Tem uma beleza e uma classe incrível. Mas podia ser mais brejeira e cómica. Ela introduziu elementos como a câmara que dança à volta da banheira, a canção que a Martírio canta. É mágico ver como ela transformou aquela cena.
- É-lhe indiferente que haja pessoas que vão ver um filme seu para a ver pouco vestida?
- (risos) Quero acreditar que as pessoas são um bocadinho mais inteligentes do que isso. Este filme não serve para mostrar o corpo seja de quem for. Tem a sua substância e retrata uma época. Não vai certamente satisfazer os voyeuristas. Se alguém for ao engano, tenho pena dele.
- Grande parte das cenas são de exteriores, com centenas de figurantes e de animais. Houve momentos de caos na rodagem?
- Estava tudo muito bem organizado. Fiquei impressionada com a produção. Imagino que não seja fácil gerir tanta gente e houve um trabalho extraordinário. De cada vez que chegava a um décor ficava impressionada com o guarda-roupa, com os utensílios. Parecia que nos tinham transportado para o passado. Foi muito impactante, pois nunca tinha estado numa produção com esta dimensão. Graças à direcção de arte senti que estava noutra época.
- Entrar num filme com mais de uma dezena de personagens importantes é muito diferente de ser a protagonista?
- É muito diferente.
- Sente-se menos responsabilidade?
- De todo. Sente-se que temos que trabalhar em grupo e que todos temos a nossa importância de forma igual. Houve um entusiasmo colectivo maravilhoso. Antes, durante e depois da rodagem, em Veneza, num momento especial.
- No Festival de Veneza pareciam genuinamente felizes por estarem juntos.
- Felicíssimos e juntos nesta aventura.
- Acha que o filme pode ser muito visto no estrangeiro?
- Para já, está a suscitar muito interesse das distribuidoras, o que já é um óptimo sinal no cinema português. Se vai ser visto ou não, é uma incógnita.
- Em Portugal é vista todas as noites por um milhão de pessoas na telenovela ‘Dancin' Days'. Quantas espera levar às salas de cinema para verem ‘Linhas de Wellington'?
- A linguagem televisiva e cinematográfica são diferentes, tal como os públicos são diferentes. Infelizmente parece que as pessoas estão com preguiça de sair de casa e dirigirem-se às salas de cinema. Gostava que o filme fosse visto por um milhão, mas não acredito muto nisso.
PERFIL
Soraia Chaves nasceu há 30 anos em Lisboa e tornou-se conhecida em 2005, quando a sua 'Amélia' foi uma tentação para 'O Crime do Padre Amaro'. Desde então, protagonizou filmes como 'Call Girl' e 'A Bela e o Paparazzo'. Depois de ter ido estudar em Madrid, voltou para Portugal e é uma das protagonistas da telenovela da SIC 'Dancin' Days'.
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