Um ano após a Morte de João Ribas, os Tara Perdida editam ‘Luto’. As novas canções foram feitas a partir da dor e da revolta e contam já com o novo vocalista, Tiago Afonso. O guitarrista Rui Costa (Ruka) fala sobre a perda e a continuação do grupo.
No final do ano passado dizia que era o público que iria definir o futuro dos Tara Perdida. Como é que sentiram os fãs depois da morte do João Ribas?
Todos sentimos muito a morte do João, mas também sentimos logo que os fãs estavam connosco. A melhor forma de homenagear o João era continuar, também a bem da nossa sanidade mental. Curiosamente, acho que o regresso a estúdio acabou por funcionar para nós quase como uma sala de terapia.
E como é que foi a adaptação do novo vocalista, Tiago Afonso?
Bem, tenho de confessar que não foi fácil ouvir o Tiago a cantar as canções que foram gravadas com a voz do João. Mas a vida continua e o João não volta.
Porque é que a escolha recaiu sobre o Tiago?
Acho que o Tiago foi a melhor escolha que poderíamos ter tido. Ele enquadrava-se muito bem na linguagem dos Tara Perdida. O Tiago era dos Easyway, que são uma banda mais melódica, e claro que vinha com os seus vícios mas nós ajudámo-lo a cortar com eles [risos]. Lembro-me, por exemplo, de lhe ter dito para não se preocupar tanto com a afinação e mais com o cantar ‘lá de dentro’.
O João Ribas já conhecia o Tiago?
Sim, já éramos todos amigos. Uma coisa engraçada com o Tiago é que ele é uma pessoa com o cérebro limpo, que nem sequer bebe [risos]. E por isso decorou as coisas muito rápido. Para mim ele é neste momento o melhor vocalista em Portugal. Não posso dizer outra coisa.
Mas durante muito tempo muita gente pensou que era o Ruka que iria ocupar o lugar do João?
Eu canto neste disco o tema ‘Até Ao Fim’, só que quero o melhor para os Tara Perdida [risos]. Ainda houve amigos que queriam que eu fosse para vocalista do grupo, mas a verdade é que a minha voz não chega lá. Sou bom nos tons baixos, assim na onda de um Jorge Palma, mas mais do que isso já não dá. O que eu quero é sempre uns Tara Perdida em grande. Preferi alguém que cantasse bem e neste aspeto acho que fui honesto comigo próprio e com o grupo.
O que é que aprendeu com o João ao longo destes anos?
Aprendi a não me deslumbrar, aprendi o valor da amizade e a importância do pôr o coração naquilo que fazemos. Acho que o João sabia que era influente para os outros, mas não sabia o quanto. Se calhar é por isso que para muita gente é quase uma afronta continuarmos, mas é isto que queremos fazer. Para nós é um estilo de vida. Se queres que te diga, hoje até acho que a motivação é a dobrar. Quanto ao Ribas, ele há de ser o maior de todos até daqui a cem anos. Posso dizer que hoje continuamos a ser uma banda cheia de força. A revolta é positiva e tenho a certeza de que vamos arrasar por onde passarmos. Há um ciclo que se fecha e outro que se abre.
Decidiram intitular o novo disco de ‘Luto’. É difícil ultrapassar este período?
Sim. É muito difícil. Quando o João morreu eu fiquei desfeito, até porque acompanhei todo o seu percurso até ao final. Posso dizer que estive presente no último momento do João.
E em algum momento vos passou pela cabeça colocar um ponto final no grupo?
Não. A melhor maneira era mesmo continuar. É verdade que podíamos fazer outra banda, mas eu sinto que o João continua vivo enquanto os Tara Perdida também continuarem. Posso dizer que até ao momento em que o Ribas fechou os olhos eu nunca acreditei que ele ia morrer. Parece que estive a viver num outro mundo qualquer.
E estas novas canções foram mais difíceis de escrever do que era habitual?
Devo dizer-te que estas novas composições saíram de penálti, tal era a revolta. Estávamos a gravar uma música e de repente já estava a sair outra. Tudo o que se fez neste disco foi com amor e verdade.
Já lá vão muitos anos de estrada, 20 para ser mais preciso. Ainda se lembra do primeiro concerto dos Tara Perdida?
Então não! Até me lembro do que levávamos vestido. Recordo-me que o baixista tinha de parar o carro de cem em cem metros porque estava avariado [risos].
Mas foi muito difícil vingar no início?
Bom, o João Ribas já vinha dos Censurados e por isso havia muita gente atrás dele com curiosidade para ver como era a nova banda do Ribas. E começámos aí a nossa luta. Curiosamente, nunca tivemos de tocar as músicas dos Censurados, mas sempre tivemos a atenção de todos. Acima de tudo, os Tara Perdida foram uma banda que começou de uma enorme amizade entre todos.
Sempre permaneceram fiéis a uma estética. É esse o segredo?
Nós somos uma banda que se movimenta entre o underground e o mainstream. Continuamos a fazer um som audaz. Quem é que faz esta barulheira que nós fazemos? [risos]. A mim sempre me interessou mais a energia das pessoas e uma certa atitude. O Ribas, por exemplo, adorava provocar e criar controvérsias. Por isso chegámos a ser criticados em programas de televisão.
Mas uma banda punk em Portugal ter sobrevivido às mudanças de tendências num mercado tão pequeno é obra!
Nós fomos sobrevivendo porque sempre fomos fazendo por conquistar o público. Quando dizem que o mercado dá para todos, eu não concordo nada com isso. É preciso não esquecer quem nos ouve.
E como é que isso se faz?
Primeiro é preciso sempre passar uma boa mensagem e cantá-la. E depois é preciso que os músicos acreditem naquilo que fazem. Eu costumo dizer que sou um fã incondicional dos Tara Perdida. Mesmo quando estou em palco a tocar também sou um dos elementos do público que nos está a ouvir. E depois acho que temos sabido ter sempre à nossa volta pessoas que se entregam como nós.
Como acontece agora com o Tiago Afonso!
Sim. Não há grande segredo nisto. Nós somos apenas pessoas espontâneas que temos uma grande dinâmica e o Tiago veio ao encontro disso. Estes 20 anos deixam-me muito feliz e já me dou por contente com eles, mas sentir que as pessoas continuam com afinco é brutal. O Tiago, por exemplo, já nos surpreendeu muito pela positiva e isso libertou -nos bastante. Eu voltei a curtir a guitarra e a abanar a cabeça.
Mas o punk ainda faz sentido nos dias de correm?
O que faz sentido é fazer o que se gosta. Nós viemos da escola do punk, da velha guarda. Já somos da quarta ou da quinta geração e acho que todos nós ainda temos uma atitude muito punk, mas na verdade estou-me nas tintas para os outros. Sempre fomos amigos e nunca bajulámos ninguém.
Como vê agora o futuro dos Tara Perdida?
Todos nós sabemos que um dia virá o fim. Um dia sei que isto vai acabar, só não sabemos é quando. Mas devo dizer que estou muito feliz com tudo o que conseguimos. Fizemos os dois coliseus em nome próprio e tocámos em todos os festivais.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.