Nos dias que correm, suspeição é uma palavra comum no léxico do futebol. Portugal, Alemanha, Brasil e Itália, e outros países, têm em braços casos de corrupção que prometem abalar a modalidade de uma forma nunca vista.
Da arbitragem às apostas desportivas ilegais, são muitos os meios ilícitos de ganhar dinheiro com uma modalidade que corre o risco de perder o seu maior capital: a paixão dos adeptos. O CM faz um ponto de situação dos casos mais preocupantes, analisados por quem os segue de perto.
UM '25 DE ABRIL' NO FUTEBOL
Em Abril do ano passado, de Bragança a Setúbal, a PJ do Porto fez 60 buscas em residências e clubes, tendo detido inicialmente 16 dirigentes e árbitros, desde Valentim Loureiro (presidente da Liga) a Pinto de Sousa (líder da Arbitragem na Federação). Mas ao longo do processo outras figuras de proa foram incluídas no processo, tais como o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, em Dezembro de 2004, e vários árbitros ‘internacionais’. Crimes de corrupção desportiva levaram a outras suspeitas, como tráfico de influências, delito até aí pouco conhecido, de que Valentim Loureiro garantiu nunca ter ouvido falar, aquando da sua detenção, mas que lhe valeram a suspensão judicial dos cargos de presidente da Liga e da Metro do Porto.
O que se dizia baixinho, dos ‘favores’ de árbitros pagos com sexo, dinhei-ro, ouro, mobílias e materiais de construção, aparece claro neste caso, dos mais baixos escalões do futebol distrital até ao topo da SuperLiga. E a verdade é que em todas as jornadas, nos últimos 18 meses, as coisas mudaram para melhor e os ‘erros’ das arbitragens são menos escandalosos. Por aí valeu ter saído pa-ra a rua o ‘Apito Dourado’, uma espécie de ‘25 de Abril’ para o futebol português. A acusação está pronta há várias semanas no Ministério Público de Gondomar e será enviada aos 171 arguidos nos próximos dias.
ÁRBITRO CHOCA ALEMANHA
Em Janeiro, o futebol alemão foi abalado por um escândalo que envolvia apostadores em ‘sites’ da internet. O árbitro Robert Hoyzer foi detido após ter sido acusado de manipular os resultados de cinco jogos disputados em 2004 (II e III Divisões e na Taça da Alemanha). De acordo com o Ministério Público, Hoyzer foi abordado por um grupo de apostadores pertencentes à máfia croata e aceitou subornos para beneficiar estes apostadores, manipulando os resultados em alguns jogos.
Aliás, o juiz foi mais longe e chegou ele mesmo a apostar num jogo da Taça da Alemanha que dirigiu. Hoyzer foi afastado da arbitragem e detido em Fevereiro, já que a investigação descobriu que ele também procurava subornar outros árbitros. Como consequência da sua colaboração com o Ministério Público, o juiz acabou por ser libertado em Março e mais dois árbitros, Torsten Koop (39 anos) e Dominik Marks (29), implicados por Hoyzer, também foram expulsos da arbitragem. Marks é, aliás, acusado de ter ele mesmo manipulado o resultado de três jogos na época passada. Robert Hoyzer, que desde que foi libertado tem de se apresentar três vezes por semana na polícia, aguarda pelo seu julgamento (no próximo dia 18), no qual poderá ser condenado a uma pena efectiva de dez anos de prisão.
RESULTADOS MANIPULADOS
O escândalo dos jogos manipulados no Brasil foi despoletado por uma reportagem da revista ‘Veja’, a 23 de Setembro. O esquema funcionava da seguinte forma: os empresários Nagib Fayad, Wanderlei Pololi e outros dois associados combinavam um determinado resultado nos jogos dirigidos pelo árbitro Edilson Pereira de Carvalho e apostavam avultadas quantias em dois ‘sites’ de apostas. Por cada jogo manipulado, o árbitro de São Paulo recebia entre 3500 a 7600 euros. Detido no dia 24, Edilson foi afastado do quadro de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, posteriormente, a FIFA tomou a mesma posição.
O escândalo provocou outra ‘vítima’: Armando Marques, presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, demitiu-se na sequência das denúncias. Enquanto continuam a surgir evidências da participação de outros árbitros na fraude, o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva, que havia tomado a iniciativa de investigar os onze jogos do Brasileirão orientados por Edilson, anunciou que estes encontros terão de ser repetidos. Com estas alterações, o Internacional perdeu a liderança para o Corinthians. O ‘Grupo dos 13’ (clubes mais influentes do Brasil) já protestou contra a decisão. As autoridades brasileiras estimam que a quadrilha terá movimentado cerca de 1,1 milhões de euros apenas em 2005.
SUBIDA DE DIVISÃO COMPRADA
No início deste ano, o Génova foi relegado para a Série C (III Divisão italiana), poucos meses após ter garantido a sua subida à Série A. O castigo foi decretado pela Federação Italiana após ter sido provado que o presidente do emblema genovês, Enrico Preziosi, pagou cerca de 250 mil euros ao administrador delegado do Veneza, Franco Dal Cin, para comprar a vitória no jogo da última ronda da Série B 2004/05. Além deste encontro, na partida da penúltima jornada, que opôs os genoveses à equipa do Piacenza (2-2), também foram detectadas irregularidades. O inquérito aberto pelo procurador Alberto Lario, partiu de escutas telefónicas entre o director desportivo do Génova, Stefano Capozucca, e o atacante Massimo Borgobello, do Veneza.
Posteriormente, os 250 mil euros que serviriam de pagamento aos elementos do Veneza foram encontrados no carro do director do clube, Giuseppe Pagliara, quando este abandonava as instalações do Génova. Na ocasião, o dirigente alegou tratar-se de uma verba proveniente de negociações pa-ra a compra de um jogador. Preziosi e Dal Cin foram ambos condenados a uma pena de cinco anos de interdição desportiva. Também dois jogadores do Veneza, Massimo Borgobello e Martin Lejsal, foram suspensos da actividade desportiva durante quatro e cinco meses, respectivamente.
'TOTONERO'
Em 1980, vários jogadores do AC Milan e da Lazio, entre os quais o célebre Paolo Rossi, envolveram-se no escândalo ‘Totonero’, no qual o Tribunal apurou que vários resultados da Série A italiana foram comprados. O AC Milan, terceiro classificado e a Lazio, 13.º, desceram à Série B (II Divisão).
MARSELHA E TAPIE
Depois de conquistar o pentacampeonato francês em 1993, o Marselha foi acusado de corromper, através do seu presidente Bernard Tapie, árbitros e jogadores em
alguns jogos, nomeadamente o Marselha-Valencienne. O clube ficou sem o título francês e o de campeão europeu, foi suspenso das competições europeias e acabou na II Liga.
PERUGIA
A equipa italiana do Perugia conquistou a Série C (III Divisão) do ‘calcio’ em 1993, mas o seu presidente foi acusado de oferecer um cavalo a um árbitro. A Federação Italiana castigou o clube e revogou a subida de divisão do Perugia.
DÍNAMO KIEV
O Dínamo Kiev, conjunto que milita na Ucrânia, foi acusado de tentar corromper o árbitro espanhol Lopez Nieto, com um casaco de ‘vison’, numa partida da Liga dos Campeões contra os gregos do Panathinaikos. Como castigo, a UEFA, organismo que gere o futebol europeu, suspendeu por três anos o clube ucraniano de todas as competições internacionais.
VIETNAME
O campeonato de futebol no Vietname existe há apenas cinco anos, mas tal como em outros países está já minado pela corrupção. Em Agosto deste ano, o árbitro Luong Trung Viet foi detido, sob a acusação de falsear resultados em vários jogos do campeonato, e desde então mais 12 juízes já foram acusados do mesmo crime.
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