A jornada dos oitavos-de-final de Wimbledon é o melhor dia do ano no circuito tenístico profissional – e no menu constam alguns duelos fabulosos entre grandes campeãs, acérrimas rivais e esperanças nacionais. Após o tradicional domingo de descanso, merecido após uma primeira semana alucinante, a 124º edição do mais prestigiado torneio de ténis do mundo passa da fase selectiva para a fase decisiva.
Wimbledon é o único torneio do Grand Slam a ter uma jornada de descanso durante a quinzena competitiva – é uma tradição obrigatória (houve somente três excepções desde 1877, para recuperar um atraso excessivo devido à pluviosidade verificada na primeira semana) com uma jornada sabática!) que permite um dia de descanso para recuperar a delicada relva dos courts, restabelecer as forças dos tenistas e oferecer um pouco de normalidade à vizinhança do All England Club.
E bem que a 124ª edição do mais prestigiado torneio de ténis do mundo precisava de uma jornada sabática de domingo, após uma alucinante primeira semana que incluiu a séria contestação de jogadores ‘menores’ aos campeoníssimos Roger Federer e Rafael Nadal, o mais longo encontro de ténis de todos os tempos que estabeleceu recordes até à eternidade, a primeira visita da Rainha desde 1977, uma cuspidela onerosa e praticamente um quarto dos encontros do quadro individual masculino até ao momento (28 em 116!) a serem resolvidos somente na quinta partida! Para mais, o Reino Unido ficou em suspenso no domingo para assistir ao encontro do Mundial de Futebol entre a Inglaterra e a inimiga fidagal Alemanha… mas não foi preciso ir a penáltis (1-4).
BILHETE DE OURO
Numa jornada que estabelece a ponte entre a fase selectiva e a fase decisiva, o menu tem de ser forçosamente de luxo e os felizes portadores de ingressos (tão difíceis que de conseguir) para o dia de segunda-feira no All England Club terão à sua disposição tanto quantidade como qualidade...
E dos muitos sumptuosos duelos que constam do programa, há um que promete exacerbar ainda mais uma das melhores rivalidades da modalidade: Serena Williams e Maria Sharapova, as duas mais mediáticas tenistas do planeta, defrontar-se-ão em courts de relva pela primeira vez desde que a russa bateu a americana na final de Wimbledon de 2004, embora Serena tenha batido Maria por quatro vezes nos últimos cinco compromissos. Outro duelo fratricida em grande destaque é o confronto entre as rivais nacionais belgas Justine Hénin e Kim Clijsters (empatadas 12-12 no mano-a-mano!), ao passo que no sector masculino os confrontos teoricamente mais explosivos são Novak Djokovic-Lleyton Hewitt e Andy Murray-Sam Querrey.
PROGRAMA REAL
Eis os acasalamentos referentes aos oitavos-de-final no sector individual masculino:
- Roger Federer (Sui, cs1)-Jurgen Melzer (Aut, cs16)
Tomas Berdych (Che, cs12)-Daniel Brands (Ale)
- Novak Djokovic (Ser, cs3)-Lleyton Hewitt (Aus, cs15)
Andy Roddick (EUA, cs5)-Yen-Hsun Lu (For)
Jo-Wilfried Tsonga (Fra, cs10)-Julien Benneteau (Fra, cs32)
- Andy Murray (Esc, cs4)-Sam Querrey (EUA, cs18)
Robin Soderling (Sue, cs6)-David Ferrer (Esp, cs9)
- Rafael Nadal (Esp, cs2)-Paul-Henri Mathieu (Fra)
Os duelos referentes a igual fase da competição de singulares senhoras:
- Serena Williams (EUA, cs1)-Maria Sharapova (Rus, cs16)
- Agnieszka Radwanska (Pol, cs7)-Li Na (Chi, cs9)
- Caroline Wozniacki (Pol, cs3)-Petra Kvitova (Che)
- Klara Zakopalova (Che)-Kaia Kanepi (Est)
Kim Clijsters (Bel, cs8)-Justine Hénin (Bel, cs17)
- Jelena Jankovic (Ser, cs4)-Vera Zvonareva (Rus, cs21)
- Marion Bartoli (Fra, cs11)-Tsvetana Pironkova (Bul)
- Venus Williams (EUA, cs2)-Jarmila Groth (Aus).
MILHÕES E REALEZA
A 124ª edição de Wimbledon estabelece um novo recorde de prémios monetários ao oferecer um total de 13.725.000 libras (9,4% de aumento) e 1 milhão de libras exacto para os campeões de singulares (17,6% de aumento); já assistiu à primeira visita oficial da rainha ao evento desde 1977; no que diz respeito à realeza do palmarés, Roger Federer – que ganhou seis de sete finais consecutivas – procura igualar o recorde de Pete Sampras e continua a ser considerado o maior especialista em courts de relva.
Atendendo à cotação das casas de apostas e mesmo tendo em conta as dificuldades inesperadas sentidas por ambos na primeira semana, as probabilidades apontam para uma final entre Roger Federer e Rafael Nadal, à semelhança do que se verificou entre 2006 e 2008. Nas senhoras, as irmãs Serena e Venus Williams também são favoritas para uma terceira final consecutiva entre ambas na Catedral do Ténis.
LENDAS E MITOS
Dos quatro eventos do Grand Slam que constituem os pilares da modalidade, Wimbledon é o mais antigo e famoso – e preserva todo o seu fascínio graças a uma descarada manutenção das suas velhas tradições, como a do domingo de descanso a meio da quinzena… enquanto, veladamente, procura sempre estar na vanguarda tecnológica. Muitas vezes acusado de utilizar procedimentos que não pactuam com as exigências actuais, Wimbledon tem como segredo do seu enorme sucesso precisamente o facto de continuar a investir na diferença.
Na verdade, Wimbledon é um anacronismo voluntário. Ao contrário do US Open e o Open da Austrália, que trocaram a frágil relva por courts sintéticos mais resistentes, o All England Club resistiu à tentação e constitui um autêntico oásis de clorofila no meio dos hardcourts e da terra batida do circuito profissional. O grande mérito da organização foi o de operar mudanças fazendo parecer que nada muda: fala-se muito que o torneio está virado em demasia para o passado, mas os seus responsáveis foram decisivos na passagem à era Open, recusando-se a pactuar com o falso amadorismo vigente até 1968 (amadores que recebiam ‘por baixo da mesa’) e passando a organizar um torneio profissional onde os jogadores seriam pagos pelo seu esforço.
INOVAÇÃO
Para além disso, o futuro está sempre no pensamento dos organizadores — em 1980 fez estrear o primeiro juiz-de-linha electrónico em provas oficiais ao mais alto nível (o cyclops), foi também o primeiro torneio do Grand Slam a instaurar um sistema com 32 cabeças-de-série (o dobro do habitual), foi o segundo evento do Grand Slam a anunciar prémios iguais para homens e senhoras, e se a meio da década passada promoveu a mais cara transformação de uma arena desportiva em Inglaterra (o Court 1), o vetusto Centre Court estreou em 2009 um tecto amovível transparente orçado em 30 milhões de euros! O plano contínuo de remodelação, que ultrapassa os 100 milhões de euros nas suas várias fases, prossegue em 2011 com a estreia do novo Court 3 (que já está pronto mas cuja superfície relvada precisa de mais um ano para ‘amadurecer’).
MAIS CURIOSIDADES
Os primórdios – A primeira edição, jogada em 1877, foi patrocinada... pelos jogadores, que pagaram um xelim cada um para a compra do troféu. Spencer Gore ganhou a prova, mas achava que o jogo de ‘lawn tennis’ não tinha futuro nenhum. Mal sabia ele: na sua 124ª edição, Wimbledon distribui 13,725 milhões de libras; os campeões de singulares recebem 1 milhão.
Que patrocinadores? – O super-empresário Mark McCormack assegurava que «Nunca ninguém conseguirá patrocinar Wimbledon, tal como ninguém conseguirá patrocinar a cerimónia de coroação da família real inglesa».No entanto, as coisas não são bem assim. Parece não haver publicidade, mas Rolex, Slazenger, Pimm’s e Robinson’s são marcas que têm logótipos discretamente colocados no court central que valem milhões por milímetro quadrado.
90 milhões de lucro – O prestígio do torneio é suficiente para garantir proventos multimilionários (lucros de quase 90 milhões de euros/ano), graças aos direitos televisivos e de exploração de imagem, merchandising, aluguer de camarotes e salas para relações públicas, venda de morangos com chantilly (8 euros a taça, são consumidas cerca de 30 toneladas durante a quinzena), aluguer de almofadas e do parque de estacionamento e venda de bilhetes.
Cariz popular e burguês – O torneio regista mais de 450 mil entradas, mas poderia vender mais ingressos caso abdicasse do dia de folga (o domingo do meio da quinzena); os bilhetes são adquiridos com grande antecedência e muitos são absorvidos pelo mundo empresarial, mas as escassas centenas colocadas diariamente à venda vão para os adeptos puros e duros – que fazem fila durante a noite e à chuva.
Lemas famosos – No corredor à saída da sala de espera para o Centre Court existe uma famosa citação de Rudyard Kipling que passa por ser o ideal do amadorismo: «Se conseguires enfrentar o triunfo e o desaire, e lidar com esses dois impostores da mesma maneira». Outro lema muito conhecido figura orgulhosamente na lapela de muitos casacos: ‘I Queued at Wimbledon’ (estive na bicha em Wimbledon).
Mitos – O Court 2 tinha o cognome de ‘Cemitério’ por se acreditar que ali caem mais cabeças-de-série que em qualquer outro court... e a verdade é grandes campeões já lá perderam, mas isso não voltará a acontecer: foi demolido para dar lugar este ano ao novo Court 3. A crença popular que afirma que em Wimbledon chove sempre também é exagerada: desde 1877, só 31 jornadas foram completamente anuladas devido à chuva e nos últimos anos as quinzenas foram particularmente secas. Mas, em 1991, Nuno Marques começou a jogar a uma segunda-feira… e só acabou na sexta!
Siga o relato do enviado-especial do Correio da Manhã no Twitter: http://twitter.com/MiguelSeabra
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.