Pinto da Costa não conseguiu esconder a comoção quando pisou o palco improvisado no Estádio do Dragão para apresentar o seu livro autobiográfico ”Largos Dias têm 100 anos”, editado pela Ideias & Rumos.
Ainda houve gente que duvidou da sua presença, devido aos factos ocorridos no dia anterior em Gondomar, mas as dúvidas dissiparam-se quando o jornalista Juca Magalhães, o apresentador de serviço na cerimónia, o anunciou às cerca de 3 mil pessoas presentes no estádio, que o ovacionaram de pé cantando “Pinto da Costa olé” acenando-lhe com o livro adquirido momentos antes.
A obra escrita pelo presidente relata inúmeros episódios da sua longa experiência como dirigente azul e branco ao longo de mais de quatro décadas.
Antes da cerimónia, que decorreu junto a uma das bancadas do Estádio do Dragão, foi exibido um vídeo sobre o dirigente portista, com capítulos sobre o “mito, êxitos, dedicação, vitórias, conquistas, grandeza e a história” de Pinto da Costa, no qual declamou o “Cântico Negro” de José Régio.
Foi então a vez do editor do livro, Pedro Paradela de Abreu, falar do presidente do FC Porto “um homem de coragem com uma enorme força de viver”, lembrando que um dia alguém referiu que “o país devia ser gerido à imagem do FC Porto”.
“Homens como Pinto da Costa, quase sempre aplaudidos e invejados, não esmorecem, vão em frente”, acrescentou Paradela de Abreu.
Com a voz trémula, que indiciava uma emoção que as palavras corroboraram, Pinto da Costa começou por falar de “valores humanos” e fez referências à mulher, irmãos e amigos: “todos vós sois a minha grande família”.
A viver uma fase da sua vida conturbada, por ter sido constituído arguido na sexta-feira no caso de corrupção no futebol ‘Apito Dourado’, Pinto da Costa professou o amor e a amizade, dois sentimentos que sempre venerou.
Relativamente ao livro, e à sua veia de prosador, Pinto da Costa explicou que “nunca foi escritor”, mas sentiu-se motivado quando lhe pediram para escrever as suas memórias.
“Foi Paradela de Abreu, com o seu entusiasmo, quem me convenceu a transcrever para um livro alguns dos muitos episódios vividos e dedicados ao desporto”, sublinhou Pinto da Costa.
O presidente do FC Porto, no seu curto improviso, salientou que “não podia ficar insensível para agradecer daqui a todos quantos, desde sempre, estiveram comigo nos bons e maus momentos”.
Ramalho Eanes, antigo Presidente da República, e Fernando Martins, antigo presidente do Benfica, que estavam acompanhados das respectivas esposas, foram os amigos escolhidos por Pinto da Costa num discurso breve e sem referências ao livro.
No interior do Estádio do Dragão, o acesso a uma das bancadas foi o local escolhido para montar o ‘stand’ de vendas, uma zona com insufláveis, local onde os interessados podiam fazer puzzles personalizados com foto de Pinto da Costa.
Animação dentro fora do estádio, também não faltou. Uma tuna académica e artistas de rua exibiram-se perante os milhares de pessoas que foram ao estádio.
Antes e após a cerimónia venderam-se muitas centenas de livros com um desconto de dois euros, dado que o preço de capa passa a custar 25 euros de uma primeira edição com 80 mil exemplares.
Pinto da Costa numa saudação muito breve às cerca de três mil pessoas presentes e com a voz embargada pela comoção citou José Régio dizendo que vai continuar a perseguir “Sonhos de cristal”, e falou dos “valores humanos como o amor, a solidariedade, a honestidade” que sempre perseguiu na sua vida, no desporto e fora dele.
UMA PARTE DO CAPÍTULO QUE NARRA A HISTÓRIA DA SAÍDA DE MOURINHO E DAS SUAS NEGOCIAÇÕES COM O CHELSEA
“(...) No mês de Março, mais precisamente no dia 26, recebo um pormenorizado relatório sobre aquisições desejadas e dispensas de jogadores do plantel. Confronto-me com algumas surpresas, mas por se tratar de um elemento de trabalho, não devo revelar nada do que está escrito nesse documento.
Entretanto vamos a Leiria. (...) Vencemos por 3-1. Numa foto desse encontro, em que ambos estávamos acompanhados do Reinaldo Teles e do Dr. Nélson Puga, Mourinho escreve como dedicatória: “Leiria, daqui saí, aqui me veio buscar, aqui voltamos para ganhar. Obrigado por se ter lembrado de mim quando eu estava ‘escondido’”.
Tudo contribuia para reforçar a minha convicção de que Mourinho iria continuar e nada, como parece claro, me poderia levar a supor que pudesse estar a preparar a saída.
O dia 9 de Março, quando Costinha silencia Old Trafford com o seu raro sentido de golo, consagra definitivamente o técnico a nível europeu. Esse golo histórico, que nos colocava nos quartos-de-final da ‘Champions’, iria transformar radicalmete o comportamento de muita gente que via no nosso treinador um filão. E iria transformar o próprio José Mourinho.
Vim a saber mais que, na véspera desse jogo, o meu amigo Jorge Baidek tinha ido ao hotel onde a equipa estagiava para, juntamente com um responsável do Liverpool, falar com José Mourinho sobre a sua eventual ida para o clube da terra dos Beatles.
A conversa só não se concretizou porque o nosso Técnico não aceitou falar sobre o assunto antes do importante jogo com o Manchester.
Confrontado com a minha surpresa e irritação, Jorge Baidek defende-se com o argumento de que a possível mudança seria, não para a próxima época mas para a seguinte (2005-06). Lembro-lhe que a atitude não deixava de ser incorrecta porque, também para esse ano, Mourinho tinha compromisso connosco (...).
Perante a minha insatisfação, alega que outros empresários, a pedido de Mourinho, estavam a tentar colocá-lo no estrangeiro. Se assim era, ele teria de procurar fazê-lo também, sob pena de ser ultrapassado. Para grande espanto meu, mostra-me dois documentos, assinados pelo próprio José Mourinho na primeira semana de Março de 2004, através dos quais o nosso treinador o credenciava, num como seu representante para eventual transferência para o Liverpool, noutro para o Chelsea.
Ficava ali desfeita qualquer réstia de dúvida que pudesse subsistir(...).
Várias questões se me colocaram então. Deveria confrontar o treinador com: A situação Baidek/Liverpool? Os rumores de negociações com o Chelsea através de Jorge Mendes? Uma eventual saída para o Inter de Milão, com a colaboração do dr. Paulo Barbosa?
Resolvi, no entanto, e porque os interesses do FC Porto estavam sempre acima dos meus, aguardar o desenvolvimento dos acontecimentos. No fundo, deixar-me passar por ‘anjinho’, dar a entender que não estaria a aperceber-me de nada, e proporcionar todo o apoio ao Técnico e aos jogadores, para que o objectivo principal fosse alcançado: vencer a Liga dos Campeões.
A luta agora era, não de clubes, mas de empresários. Os três já mencionados procuravam (...) proporcionar o melhor contrato possível a Mourinho que, por sua vez, quando entende ser tempo de dar corda a um só relógio, vem dizer que quem o representa é Jorge Mendes.
Jorge Baidek, que fora fundamental no ingresso do Técnico no FC Porto, e que inclusive renegociara o seu contrato, ficou em “estado de choque”.
(...) Como não há crime perfeito, a 19 de Abril surge um contratempo na sua estratégia, então já mais do que declarada, da ida para o clube eleito: o Chelsea. Nesse dia, Roman Abramovitch (...) é fotograficamente apanhado no aeroporto de Vigo a entrar num carro de matrícula portuguesa, acompanhado de um colaborador directo do empresário Jorge Mendes.
(...) Mourinho garantia, com verdade, que não tinha ido a Espanha encontrar-se com Abramovitch (...). Só que eu fui logo devidamente informado do que sucedera por várias pessoas, entre os quais o próprio Baidek, que traz até mim testemunha idónea a relatar os factos. Naquele 19 de Abril o multimilionário Peter Kenyon, Jorge Mendes e José Mourinho encontraram-se na Apúlia, no restaurante ‘Camelo’, nesse dia aberto exclusivamente para eles. (...) Apesar de já não restar para mim a mínima dúvida da veracidade destes factos, decido questionar Jorge Mendes, com a certeza que tinha e tenho de que a mim não me mentiria, nem mente. Tudo confirmado!”.
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