Difícil escolher o momento do jogo no dia em que Portugal voltou a ganhar, no caminho para o Euro’2008. O primeiro golo é uma opção óbvia, a expulsão de um adversário aos 27 minutos outra possibilidade, o 2-0 torna-se igualmente defensável. Mas talvez o instante decisivo tenha sucedido antes de tudo isto.
De facto, esta parecia ser mais uma etapa delicada, depois dos últimos maus resultados na fase de apuramento para o Europeu. Não havia Scolari no banco, Jorge Andrade e Petit estavam lesionados e a estes problemas juntaram-se mais dois: a lesão de Simão e a dor repentina de Nuno Gomes no aquecimento.
Uma sucessão de maus sinais que preocupava. Mas, algures na bancada, Scolari deve ter percebido cedo que este não seria mais um daqueles dias em que o melhor é ficar em casa. Muito por causa da atitude da equipa, que privilegiou sempre o colectivo e exibiu assinalável espírito de sacrifício.
O primeiro a superar-se foi Bruno Alves. Titular ao lado de Ricardo Carvalho (excelente regresso), marcou pela primeira vez na Selecção. Oportunidade, golo. Minutos depois viu-se que também Miguel Veloso queria assinar uma boa exibição no jogo 1 pela selecção principal. Com a defesa segura e o meio-campo eficaz, mais um golo cedo, Portugal tinha condições para cumprir a obrigação de ganhar.
Com tudo controlado, Portugal viu o Azerbaijão ficar reduzido a dez por expulsão de Kerimov, o capitão. A desgraça alheia pareceu baralhar a Selecção que permitiu aos 38 minutos a melhor oportunidade do adversário. Mas Deco rematou ao poste no minuto seguinte e em cima do intervalo foi a vez de Hugo Almeida estrear-se a marcar. Ele que só entrara devido à lesão de Nuno Gomes.
Ao intervalo, a Selecção ficou a saber que a Sérvia perdera dois pontos na Arménia. Ninguém acreditava que algo de errado pudesse acontecer desta vez. E assim foi. Portugal controlou sempre um adversário frágil e deve ter chegado ao fim sem perceber como foi possível a Finlândia ter perdido naquele estádio há uns meses. Problema deles.
Para Portugal já não havia problemas. Apenas uma ligeira inquietação por o 3-0, tantas vezes perto, nunca ter surgido. Murtosa, o fiel escudeiro de Scolari, ainda procurou em Nani a inspiração que não acompanhou Quaresma, mas acabou por ver o seu nome ligado não a uma goleada, mas ‘apenas’ a uma vitória segura. Era o mais importante.
Na noite de todas as estreias, sobrou uma certeza, de resto fácil de adivinhar antes da partida: em Baku, Portugal acrescentou aos três pontos de crucial importância mais uma solução para o meio-campo. Miguel Veloso foi o ponto de equilíbrio e deixou à vista os benefícios que a Selecção tem com a presença do sportinguista em campo. Um bom ‘problema’ para Scolari, depois de tantas semanas a carpir mágoas.
PORTUGAL: 'CAPITÃO' COM VOZ DE COMANDO
RICARDO – Aos 38 minutos teve a intervenção mais apertada do jogo, a opor-se a um remate de Subasic. De resto, foi só estar atento.
MIGUEL – Bom apoio ofensivo mas dificuldades para travar Aliyev.
BRUNO ALVES – O primeiro duelo ganhou-o antes do apito inicial a Meira. Lá dentro, o golo de estreia na Selecção fez esquecer ligeiros deslizes.
RICARDO CARVALHO – Regresso ao eixo da defesa que devolve tranquilidade ao sector e por arrasto à equipa. Resultado: baliza nacional a zero – já não acontecia há sete jogos.
PAULO FERREIRA – Não teve opositor mas tal não foi aproveitado no plano ofensivo. Como Scolari diz, ficou-se pelo ‘feijão com arroz’.
MIGUEL VELOSO – Estreia muito positiva. Não se limitou a fazer o ‘pivot’ defensivo – garantiu intensidade e dinâmica na transição ofensiva. Uma opção que se abre ao seleccionador.
MANICHE – Barómetro do meio--campo. Esteve seguro sem ser exuberante.
DECO – Está em crescendo de forma, a equipa agradece, mas ainda há resquícios da travessia do deserto que passou nos últimos jogos da Selecção.
FIGURA RONALDO – No jogo 50 pela Selecção envergou pela segunda vez a braçadeira de capitão. Menos eficiente na primeira parte, surgiu em excelente plano na segunda metade, criando sucessivos lances de desequilíbrio. Procurou um golo que nunca chegou, mas merecia também essa distinção.
QUARESMA – O jogo não lhe saiu bem. Lutou bastante, criou instabilidade nos azeris, mas esteve complicado.
HUGO ALMEIDA – Titular de última hora, devido à lesão de Nuno Gomes, cumpriu a preceito com um golo (em estreia) à ponta-de-lança. E podia ter feito outro.
NANI – Entrou bem no jogo e tentou deixar nele a sua marca. Quase conseguia.
JORGE RIBEIRO – Jogou alguns minutos para dar descanso a Miguel, que acusava fadiga. Sem problemas.
AZERBAIJÃO: SUBASIC A REMAR CONTRA A MARÉ
Numa equipa sem estrelas, o avançado de origem sérvia Subasic destacou-se e sozinho conseguiu esticar ao limite o jogo do Azerbaijão. O capitão Karimov, jogador experiente, também estava a ir bem, mas só durou 28 minutos, até dar uma cotovelada em Ronaldo. Imperdoável. De resto, merecem nota de destaque o camisola 17, Aliyev, jogador de boa técnica que deu imenso trabalho a Miguel e ainda o guarda-redes Veliyev, que salvou a equipa de uma derrota pesada.
MURTOSA: "FOI A PRIMEIRA DE QUATRO VITÓRIAS
O técnico-adjunto Flávio Murtosa foi chamado a substituir Luiz Felipe Scolari e no primeiro de três jogos no banco da equipa das quinas mostrou-se satisfeito com a conquista dos três pontos.
“Não foi um jogo espectacular mas o importante foi que conseguimos o nosso objectivo principal. Esta é a primeira vitória das quatro que planeámos para os últimos jogos”, disse Murtosa, dedicando o triunfo de ontem ao vice-presidente da FPF, Amândio de Carvalho, que não chefiou a comitiva no Azerbaijão por motivos de saúde: “Esta vitória foi para ele, para que recupere rapidamente”.
Quanto ao facto de ter substituído Scolari, o técnico considerou “normal” a experiência. “Já tinha sido técnico sozinho. Durante os 90 minutos, todas as decisões foram minhas. Mas, antes do jogo, o trabalho foi de Scolari. Sou mais tranquilo, embora os métodos sejam parecidos”, disse, negando qualquer contacto com Scolari: “O computador que circulou? É um procedimento normal.”
Murtosa destacou ainda a boa estreia do sportinguista Miguel Veloso e explicou a aposta em Bruno Alves em detrimento de Fernando Meira. “Foi uma bela estreia de um jogador com muita maturidade e muito promissor. Já o Bruno [Alves] tinha estado bem contra a Polónia e a Sérvia. A aposta resultou em pleno”, explicou.
O adjunto de Scolari garantiu também que agora é tempo de descansar e virar atenções para mais um jogo decisivo, desta feita com o Cazaquistão. “Será um adversário difícil. Temos de recuperar as energias e preparar-nos muito bem para esse jogo”, disse Murtosa.
Já o técnico do Azerbaijão, Shakhin Diniyev, disse que não equacionava o Euro 2008, sem Portugal.
SCOLARI ESTEVE NA BANCADA
O seleccionador nacional Luiz Felipe Scolari prometera que iria respeitar o castigo da UEFA e cumpriu. O técnico assistiu ao encontro numa zona da bancada que se encontrava mesmo atrás do banco português. Discreto e sem comunicar com os seus adjuntos, Scolari foi acompanhando as incidências do encontro à distância. Também a ida para o estádio foi feita à margem da equipa. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl, viajou no autocarro da Selecção.
10M - Consegue ir à linha de fundo, cruza para Hugo Almeida que falha o golo de cabeça
27M - Após driblar um adversário é agredido com uma cotovelada
52M - Apresenta queixas no pé esquerdo
70M - Entra pela direita em velocidade rematando cruzado com a bola a passar junto ao poste direito
76M - Entra pela direita em progressão rematando ao poste esquerdo
79M - Jogada individual de Ronaldo, com Nani a rematar à figura de Veliyev
ESTATÍSTICA
Golos - 0
Remates à baliza - 1
Remates para fora - 2
Assistência - 0
Recuperações - 1
Faltas sofridas - 3
Faltas cometidas - 0
Perdas de bola - 6
BOM REGRESSO DE CARVALHO
A equipa nacional suspirou por Ricardo Carvalho nas partidas anteriores. Claro que nunca o saberemos, mas apetece dizer que a ausência do defesa-central do Chelsea nos encontros anteriores frente à Polónia e Sérvia está muito ligada aos empates cedidos. Com ele a defesa da selecção nacional ganha segurança.
POUCO QUARESMA
O extremo do FC Porto andou sempre, durante todo o tempo em que esteve em campo, à procura de alguma coisa. Não se pode dizer que tenha jogado mal, porque afinal nenhum dos jogadores portugueses ontem o fez. Mas de Ricardo Quaresma é legítimo esperar sempre um pouco mais. Faltou-lhe “um bocadinho assim” para a boa nota que procurava.
CROATA FOI CORAJOSO
Ivan Bebek, o árbitro croata, assinou uma boa actuação. O momento mais delicado sucedeu aos 27 minutos, quando foi obrigado a mostrar um cartão vermelho ao capitão do Azerbaijão depois de este ter aplicado uma cotovelada em Ronaldo. A decisão foi correcta e o juiz não se perdeu no ambiente pesado que se instalou até ao intervalo.
12M: Bruno Alves marca de cabeça após canto apontado por Deco
27M: Karimov é expulso, após dar uma cotovelada a Cristiano Ronaldo
45M: Miguel cruza e Hugo Almeida remata de pé esquerdo para golo
CAMISOLA PARA OS PAIS
Miguel Veloso ficou “contente” com a estreia na Selecção e garantiu: “A camisola que usei vai para os meus pais”
NUNO GOMES KO
Nuno Gomes lesionou-se no aquecimento (adutor direito). O atleta será hoje reavaliado mas vai falhar o Cazaquistão
HUGO FELIZ COM GOLO
“Fiquei feliz pelo primeiro golo. Mas o mais importante foi a vitória”, garantiu Hugo Almeida após o encontro
Local: Estádio Tofik Bakramov, em Baku (32 000 espectadores)
Árbitro: Ivan Bebek (Croácia)
Azerbaijão: Farhad Valiyev, Aslan Kerimov, Sasha Yunisoglu, Samir Abbasov, Elvin Aliyev, Chertaganov, Ilgar Gurbanov (Mamedov, 56m), Emin Guliyev, Emin Imamaliyev (Zaur Hashimov, 7m), Samir Aliyev, (Ismaiylov, 73m), Branimir Subasic
Treinador: Shakhin Diniyev
Portugal:Ricardo, Miguel (Jorge Ribeiro (75m), Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Miguel Veloso, Maniche, Deco, Ricardo Quaresma (Nani, 70m), Cristiano Ronaldo, Hugo Almeida
Treinador: Flávio Murtosa
Marcador: 0-1, Bruno Alves (12m); 0-2, Hugo Almeida (45m)
Acção DisciplinarAmarelos: Ricardo (28m), Sasha Yunisoglu (66m) e Jorge Ribeiro (90m + 3m). Vermelho: Aslan Karimov (27m).
Melhor Jogador Cristiano Ronaldo
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