O sonho americano de João Meira
Português está a jogar nos Chicago Fire da MLS.
Dizia Truslow Adams, historiador e escritor, que os Estados Unidos da América eram a terra prometida, o país onde todos os sonhos se poderiam tornar realidade para qualquer pessoa, de qualquer estrato social, sexo, religião ou proveniência. É um ethos que ainda hoje comanda a vida de milhares de pessoas, que continuam a ver no país presidido por Barack Obama uma oportunidade única para dar um salto qualitativo no nível de vida.
Aos 28 anos, o português João Meira decidiu arriscar e vai tentar realizar o seu sonho americano. Depois de vários meses sem jogar, o defesa-central aceitou uma proposta proveniente dos Chicago Fire, assinando um vínculo com a duração de uma época e mais outra de opção.
Estava sem jogar há seis meses e chegou a hipótese de ingressar na MLS. Confesso que era um dos meus objetivos de carreira, mas não esperava que fosse para já. Por vezes não conseguimos controlar os timings da vida. É um projeto bastante ambicioso e profissional, tal como tem acontecido até agora", explicou Meira, em declarações ao CM
Até ao momento, a nova empreitada tem corrido de feição ao antigo jogador do Belenenses, Atlético, Cova da Piedade e Mafra, que foi titular nos três encontros da equipa do Estado do Illinois na conferência Este da Major League Soccer (MLS).
"A adaptação tem sido bastante fácil. Felizmente as pessoas aqui são muito amigáveis e sempre dispostas a ajudar no que é necessário para nos sentirmos bem e integrados", refere o português, que já sentiu o pulsar da Chi-city, como refere o rapper Kanye West, na música Homecoming, referindo-se ao local onde passou grande parte da adolescência.
"Chicago é uma cidade fabulosa. Costumo comparar um pouco a Nova Iorque mesmo sendo mais pequena. Vivo na zona da baixa, a downtown, mas no caminho que faço até ao estádio dá para ver que existem enormes desigualdades sociais. O custo de vida é altíssimo", sublinha.
Depois de na última edição da MLS terem ficado de fora play-off, os Fire apostam forte nesta nova temporada. Contrataram vários jogadores e contam com a experiência de Paunovic, 38 anos, que orientava as selecções mais jovens da Sérvia. Antes de ser treinador, o sérvio destacou-se como jogador, tendo inclusive passado pelo Atlético Madrid.
"O objetivo do clube é voltar a ganhar a credibilidade de outros tempos. As últimas duas temporadas não foram as melhores e este ano vamos tentar melhorar. As condições à nossa disposição são fantásticas, dificilmente encontrarei melhor. Antes de pensarmos que possa faltar algo, já esse problema está resolvido. Querem sempre que o jogador se sinta bem. É extraordinário", destaca o defesa luso, que relata como se vive uma partida da MLS.
"O ambiente nos estádios é incrível. Superou as minhas expectativas, que já eram altas. Estou impressionado com a atmosfera que encontrei nos jogos. Em relação à liga portuguesa, os encontros são mais abertos, com as equipas sempre em busca de espetáculo. É muito jogado no fervor, quando por vezes deveria ser um pouco mais pensado. Porém, já há equipas que apresentam futebol muito positivo", salienta.
a crescer e à espera de CR7 e Messi
Os responsáveis da MLS sonham em grande e já avisaram que pretendem ter um dos melhores campeonatos do mundo até 2020. João Meira refere que as coisas estão bem encaminhadas para que tal aconteça.
"A liga está cada vez mais atrativa e acredito que daqui a quatro ou cinco anos será dos campeonatos mais apetecíveis do mundo. Jogadores do calibre de Cristiano Ronaldo, Messi e outros craques poderão jogar aqui", alvitra, destacando o papel que a formação está a ter nesta ascensão.
"Hoje em dia o desporto mais praticado pelas crianças é o soccer. Já é um dos desportos mais abordados quando há uma discussão entre amigos, tal como em Portugal. Há uma grande visibilidade", observa.
A 6 de março, no pontapé de saída da competição, o jogador português defrontou uma constelação de estrelas, na partida frente ao New York City: "Foi um grande prazer e orgulho ter defrontado um dos melhores jogadores do mundo, o Andrea Pirlo. É um grande craque e de uma humildade fora do normal. Tive o prazer de marcar o David Villa, que continua a ser um craque".
E que jogadores o têm impressionado, além destas velhas raposas?
"Ainda não conheço as equipas todas, mas contra quem joguei destaco o Larin (Orlando City) e na minha equipa também o Matt Polster, David Accam, Gilberto e Kennedy Igboananike. Penso que poderão jogar facilmente num bom campeonato da Europa. Kai Kamara (Columbus Crew), que foi uma das figuras da última temporada, é muito bom jogador", apontou.
Quando os jogos acabam, os jogadores têm ordens expressas dos clubes para falar com os jornalistas, quem não o fizer é multado.
"Podemos estar nos balneários, depois dos jogos, e os jornalistas entram e mesmo estando despidos entrevistam os jogadores sem qualquer problema. Um pouco constrangedor mas temos de nos habituar", conta.
Após algumas semanas a viver num hotel com a mulher e filha, Meira já encontrou casa e até já arrisca no inglês: "Não é perfeito mas consigo manter uma conversa. Penso que daqui a três meses já estará impecável".
Além do central, alinham no campeonato norte-americano Rafael Ramos (Orlando City), Nuno André Coelho (Kansas City) e José Gonçalves (New England Revolution).
"Foram três anos maravilhosos no Belenenses"
Apesar de não ter sido opção nos últimos meses, João Meira recorda com carinho a sua passagem pelo Restelo, referindo que foi um prazer representar o emblema da Cruz de Cristo.
Nada correu mal no Belenenses, antes pelo contrário. Foram três anos maravilhosos, só posso falar bem do Belenenses. Sempre fui muito bem tratado por todos e o clube ficará para sempre gravado nas minhas melhores memórias profissionais", afirma.
A sete jornadas do fim, o Benfica lidera o campeonato português com mais dois pontos do que o Sporting e seis do que o FC Porto.
"Está ao rubro. Penso que será uma luta até ao fim. Creio que há mais qualidade nas equipas que lutam pelas provas europeias, desde já os meus parabéns ao Benfica e ao Braga pelo grande trabalho até aqui desempenhado, não esquecendo o Belenenses que foi enorme na Liga Europa", rematou.
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