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"Seleção nacional? Os meus números falam por si"

Entrevista a Hugo Vieira, avançado português do Estrela Vermelha (Sérvia).

02 de abril de 2016 às 15:00

Correio da Manhã – Como está a correr a experiência na Sérvia, ao serviço do Estrela Vermelha?

Hugo Vieira – Está a ser muito boa, em todos os sentidos. A nível individual, tenho muitos golos e estou a jogar muito bem. A nível coletivo, estamos invictos no campeonato. Tem sido uma época fantástica, estamos a fazer história. Em condições normais, já éramos campeões, mas mudaram o quadro competitivo.

– Mas a confiança na conquista do título mantém-se...

– Sim, vão cortar os pontos a meio para a segunda fase com oito equipas, mas estamos confiantes. Pensaram que o campeonato ia ser equilibrado, mas temos 32 pontos de avanço. São números avassaladores e nunca antes vistos. Ninguém se lembrava de uma época assim do Estrela Vermelha.

– Está há nove jogos consecutivos sempre a marcar...

– Sim, acho que é mais um recorde na Sérvia. Pelos vistos, nunca ninguém tinha feito isto, segundo o que me dizem. Sinto que estou a atravessar o melhor momento da minha carreira.

– Como melhor marcador da Liga sérvia, com 19 golos, acha que merecia uma oportunidade na seleção nacional?

– Prefiro não falar muito sobre isso. Algumas notícias que saíram de declarações minhas sobre uma eventual chamada à Seleção foram deturpadas, e eu não gosto de polémicas.

– Mas sente que tem condições para ser chamado?

– Porque não? Mas prefiro não me pronunciar. Os meus números falam por si. De resto, não posso fazer nada. Muita gente diz que o meu registo é fraco porque lhes convém.

– Acredita numa chamada para o Europeu?

– Gostava de ir ao Europeu, não posso negar. Hoje sinto- -me um jogador diferente. Resta-me esperar pela convocatória do selecionador.

– Sabe se já foi observado pelos responsáveis da Seleção?

– Não tenho informação de que isso tenha acontecido.

– Diz-se que há falta de qualidade nos pontas de lança portugueses. Concorda?

– Não concordo nada. Isso é o que fazem transparecer. Penso que há muita qualidade nos avançados portugueses.

– Já recebeu propostas desde que foi para a Sérvia?

– Felizmente, sim. É normal cativar o interesse de alguns clubes com as minhas prestações. Quero acabar a época aqui e ser campeão. É o mais importante, e por isso rejeitei. Sei bem o que pretendo e o dinheiro não é o mais importante. Quem me conhece, sabe.

– É possível um regresso ao futebol português?

– Muito dificilmente. As coisas estão a correr muito bem. Tenho propostas dos melhores campeonatos da Europa. Com essas propostas, é difícil aceitar convites portugueses, mas nunca se pode dizer nunca. No final da época, vamos ver o que acontece.

– Há abertura do Estrela Vermelha para uma saída?

– Quem quiser contratar-me tem de chegar a acordo com o clube e pagar o devido valor. Não sei quanto querem por mim. Mas há pouco tempo o meu colega Marko Grujic foi vendido para o Liverpool por sete milhões de euros.

– O futebol sérvio é muito diferente do português?

– Não há muitas diferenças. Claro que em Portugal há mais qualidade individual, mas a Sérvia não fica muito atrás, ao contrário do que dizem. Não é por acaso que grandes clubes se reforçam na Sérvia.

– É um bom mercado para jogadores portugueses?

– Sim. Os clubes não pagam o que se paga noutros países, mas há três ou quatro emblemas que pagam bons salários. É um campeonato muito forte, com muita visibilidade, e aconselho os jogadores portugueses a virem para a Sérvia.

– Assinou pelo Benfica em 2012, mas nunca jogou. O que aconteceu?

– Sinceramente não sei. Senti que era o melhor para mim. Se fosse para outro sítio, ia ser tudo igual, nada ia mudar o que aconteceu na minha vida pouco depois [diagnosticado cancro à namorada, Edina, que acabou por falecer em 2015]. Não estou arrependido.

– Nessa altura, estava perto de rumar ao Sporting?

– É verdade. Tive tudo fechado com o Sporting, mas as pessoas que trataram das negociações não foram sérias. Na hora de assinar, o que estava no contrato não era o que tinha ficado acordado e decidi não assinar. Só depois de todo esse episódio é que apareceu o interesse do Benfica.

– Na altura, Jorge Jesus treinava o Benfica. Que opinião tem dele?

– É um bom treinador, com bons métodos. Falámos quando fui para o Benfica e treinei com ele, mas como pessoa não tenho opinião formada.

– Surpreendeu-o a ida de Jesus para o Sporting?

– Surpreendeu, claro. A mim e a toda a gente. Mas o futebol é isto e ele tem os seus motivos, certamente.

– E a prestação de Rui Vitória ao comando do Benfica está a ser uma surpresa para si?

– Não. Quem anda no mundo do futebol viu o que ele fez no Vitória de Guimarães, numa fase em que o clube passava as dificuldades que passava. Para desenvolver o trabalho que desenvolveu, tem de ter muita qualidade.

– Acha que os clubes portugueses deveriam apostar mais nos jogadores nacionais?

– Sim, toda a gente sabe disso, mas infelizmente não tem acontecido.

– Como tem visto o campeonato português?

– Está forte, com três equipas na luta pelo título, penso que vai ser assim até ao fim.

– E se tivesse de apostar numa equipa para ser campeã?

– É difícil, o Benfica tem vantagem por estar à frente, mas penso que o Sporting e o FC Porto têm as mesmas chances. Todos vão perder pontos.

– Simpatiza com algum desses três clubes?

– Não. Neste momento, o que eu quero é que ganhe o Estrela Vermelha. A minha família torce pelo Benfica, mas eu sou profissional.

"Sinto que sou especial aqui"

– Como é a vida na Sérvia?

–Foi uma das melhores surpresas que tive. Adoro viver em Belgrado, é uma cidade fora de série. O povo acolheu-me de uma maneira especial.

– Como é ouvir os adeptos a gritarem o seu nome?

– É algo de outro mundo. Dizem-me que os adeptos não gritavam o nome de um jogador estrangeiro há mais de 20 anos. Sinto que sou especial aqui.

– E quando vai nas ruas?

– Os adeptos pedem-me fotos e autógrafos, e alguns perguntam se me podem abraçar e beijar. É incrível a adrenalina que eles sentem quando estão comigo e com os meus colegas.

– O que lhe custou mais ao ir para a Sérvia?

– Deixar a minha família. Sem eles, eu não era nada. Às vezes é muito difícil estar sozinho.

– Vai levá-los para os festejos se o Estrela Vermelha for campeão?

– Claro. As pessoas mais importantes da minha vida vão cá estar na festa. Só eles sabem o que isto significa para mim.

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