Sheetal Devi, a prodigiosa atiradora indiana sem braços que impressionou nos Jogos Paralímpicos
Atleta de apenas 17 anos é a única mulher na sua condição na modalidade. Apesar da vida de sacrifício e de luta constante acredita que com trabalho se chega a todo o lado.
Um tiro certeiro de arco e flecha no centro do alvo. É complicado, mas, por si só, não seria suficiente para impressionar todo o mundo, sobretudo quando se trata dos Jogos Paralímpicos, onde estão os melhores atletas dos quatro cantos do mundo.
Mas a proeza (que pode ver no vídeo no final do texto) tornou-se viral pela dificuldade de execução da protagonista em questão. Sheetal Devi, de apenas 17 anos, é a única mulher que compete nesta modalidade sem braços. Mas nem isso a impediu de chegar à medalha de bronze em Paris.
Devi nasceu em Kishtwar com Focomelia, uma anomalia congénita que impede a normal formação de braços e pernas. Com 15 anos, em 2022, ganhou três medalhas - duas de ouro e uma de prata - nos Jogos Paralímpicos asiáticos.
A indiana teve de aprender a fazer com os pés tudo o que teria de fazer com as mãos ou braços. Além da resiliência, a concentração e calma com que atira para o alvo, a 20 metros, espantou as redes sociais.
Coloca a flecha com o pé direito, o mesmo pé que é usado para depois pegar no arco. Com a boca prende a flecha que é puxada, de seguida, com o ombro direito. Com a força da mandíbula solta a flecha. A técnica é tão complexa quanto espetacular. O resultado varia, mas as quatro medalhas que soma em tenra idade não deixam margem para dúvida quanto ao talento da atleta.
"Estou motivada para conseguir o ouro. Quando vejo as medalhas que já ganhei sinto-me inspirada para conseguir mais. Só agora comecei", disse Devi, em entrevista à BBC, antes dos Jogos de Paris.
Só aos 15 anos descobriu o talento
Até aos 15 anos nunca tinha visto um arco e flecha, mas tudo mudou quando visitou um campo de treino a 200km de casa. Começou a praticar e impressionou rapidamente os treinadores pelo "dom" que tinha.
A força e a destreza vinham de uma vida habituada a fazer tudo com os pés, desde escalar a escrever. "Sheetal [Devi] não escolheu o arco e flecha. O arco e a flecha escolheram a Sheetal", disse um dos seus treinadores à BBC
"Achei que era impossível [ter sucesso]", confessou Devi. Os êxitos só chegaram depois, com muita insistência da jovem e dos treinadores, que tentaram aproveitar ao máximo das capacidades da atleta.
Face à impossibilidade da família em investir num aparelho moderno, os treinadores arranjaram uma alternativa mais criativa para poder aproveitar ao máximo as capacidades de Devi.
Dois anos chegaram para conquistar o mundo
Num pequeno espaço de dois anos, a indiana de 17 anos pegou pela primeira vez num arco e flecha, ganhou três medalhas nos Jogos Paralímpicos asiáticos - onde fez seis tiros perfeitos seguidos - e conseguiu um bronze em Paris.
"Mesmo quando faço um nove [o tiro perfeito corresponde a um 10] fico a pensar na forma de torná-lo num 10 no próximo tiro", assumiu a atleta que tem enfrentado muitos sacrifícios. Desde que saiu da sua terra natal, há dois anos, ainda não regressou a casa. Antes dos Jogos Paralímpicos confessou que gostava de fazê-lo com uma medalha.
O vídeo da proeza foi amplamente partilhado nas redes sociais e mereceu o elogio de vários desportistas de elite, como o futebolista Jules Koundé. "Acredito que ninguém tem limitações, é só querer muito alguma coisa e trabalhar arduamente. Se eu consigo, todos conseguem", desabafou.
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