Mario Vargas Llosa: a tia, a prima e a madrasta

O erotismo desempenha um papel central na obra do Nobel peruano

22 de dezembro de 2019 às 06:00
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Jorge Mario Pedro Vargas Llosa (n. 1936) é um dos maiores escritores da atualidade. Representativo do chamado ‘Boom Latino-americano’, o romancista, dramaturgo e ensaísta peruano desafia as convenções artísticas, sociais e políticas, tendo ganho o Prémio Nobel da Literatura em 2010 "pela sua cartografia das estruturas do poder e as suas imagens mordazes da resistência do indivíduo, a sua rebelião e a sua derrota". Vargas Llosa não hesita em denunciar as ditaduras da América Latina, tanto de esquerda como de direita, tendo assumido uma candidatura liberal à presidência do Peru.

O erotismo desempenha um papel central na obra deste autor que se casou pela primeira vez com uma irmã da mulher do tio e pela segunda com uma prima direita, escreveu ‘O Elogio da Madrasta’ (D. Quixote), contou como um capitão organizou um serviço de prostitutas para a tropa (‘Pantaleão e as Visitadoras’), narrou as ‘Travessuras de uma Menina Má’ (D. Quixote) e fez descrições escaldantes de amores lésbicos em ‘Cinco Esquinas’ (Quetzal).

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Vargas Llosa estudou num colégio militar, chegou a ter sete empregos simultâneos - incluindo catalogador de lápides num cemitério – e foi jornalista. Em 1973, ‘Conversa na Catedral’ deu-lhe projeção internacional. Da sua obra destacam-se ‘A Tia Julia e o Escrevedor’, ‘A Guerra do Fim do Mundo’, ‘A Festa do Chibo’ (D. Quixote) ou ‘O Sonho do Celta’. Já este ano foi publicado em Portugal ‘O Apelo da Tribo’ (Quetzal).

Do livro ‘Travessuras da Menina Má’, trad. J. Teixeira de Aguilar, Publicações Dom Quixote

"Toda ela exalava uma fragrância delicada, que se acentuava no ninho tépido das suas axilas depiladas, por trás das orelhas e no sexo pequenino e húmido. (…) Como da vez anterior, deixou-se acariciar com total passividade (…).

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- Faz-me vir, primeiro – sussurrou-me, com um tom que escondia uma ordem. – Com a boca. Depois será mais fácil entrares. Não te venhas ainda. Gosto de me sentir irrigada.

Falava com tanta frieza que não parecia uma rapariga a fazer amor, mas sim um médico que formula uma descrição técnica e alheia do prazer. (…) Estive durante muito tempo com os lábios esmagados contra o seu sexo encolhido, sentindo que os pelos da sua púbis me faziam cócegas no nariz, lambendo com avidez, com ternura, o seu clítoris pequenino, até que a senti mover-se, excitada, e terminar com um tremor de baixo-ventre e das pernas.

- Entra, agora – sussurrou, com a mesma vozinha mandona.

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Tão-pouco desta vez foi fácil. Era apertada, encolhia-se, resistia-me, queixava-se, até que por fim consegui. Senti o meu sexo como que fraturado por aquela víscera palpitante que o estrangulava. Mas era uma dor maravilhosa, uma vertigem na qual mergulhava, trémulo. Ejaculei quase imediatamente.

-Vens-te muito depressa – ralhou-me a senhora Arnoux, puxando-me os cabelos. – Tens de aprender a demorar-te, se me queres fazer gozar.

- Aprenderei tudo o que quiseres, guerrilheira, mas agora cala-te e beija-me.

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Nesse mesmo dia, ao despedirmo-nos, convidou-me para jantar, a fim de me apresentar ao marido."

"(...) Acocorou-se entre os meus joelhos e, pela primeira vez desde que fizéramos amor (…) fez o que eu lhe tinha pedido tantas vezes que me fizesse e nunca quisera fazer: meter o meu sexo na boca e chupá-lo. Eu próprio me sentia gemer, sufocado pelo incomensurável prazer que me ia desintegrando aos bocadinhos, átomo por átomo, convertendo-me em sensação pura, em música, em chama que crepita."

Do livro ‘Cinco Esquinas’, trad. Cristina Rodriguez e Artur Guerra, ed. Quetzal

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- … pôr-ma aqui – murmurou Marisa, procurando-a, abrindo-lhe as pernas, tocando-lhe no púbis, esfregando-lhe suavemente os lábios do sexo. – Posso dizer-te que te amo? Não te importas?

– Eu também te amo. – Chabela afastou-lhe a mão com carinho, beijando-lha. – Mas não me faças vir outra vez, já não me levantava mais desta cama. Queres que abra as cortinas? Vais ver como o mar é bonito daqui."

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