Moisés Fonseca: Assassino frio e calculista
Foi condenado a 20 anos pela morte da ex-mulher, mas paira dúvida sobre o desaparecimento do irmão desta.
Moisés e Carla apaixonaram-se, tendo começado a viver em comum a partir de abril de 2005. A relação de Moisés com os sogros foi sempre marcada por episódios de desconfiança, pois os pais de Carla sentiam que a filha não era tratada como eles gostavam que fosse. O relacionamento de Moisés com a família de Carla era pois de profunda desconfiança, sendo que a única pessoa na família que tentava manter a relação num plano aceitável era Marcelo, irmão de Carla.
No dia 26 de maio de 2010, fruto desta relação, nasce um menino, que não conseguiu evitar o processo de degradação da relação dos seus pais.
Moisés começou a pensar que Carla o traía e que mantinha ou havia mantido relacionamentos amorosos extraconjugais. Nunca pensou que a separação ocorreria porque ele se tinha tornado violento.
No dia 26 de junho de 2010, Moisés decidiu instalar nos computadores de casa de Carla, inclusive no computador portátil dela, um programa informático que permitia a Moisés ter conhecimento e pudesse observar todos os movimentos realizados. Verificou-se depois que no computador do arguido aparecia uma cópia integral de tudo o que acontecia no ecrã do computador de
Com esta prática, Moisés sabia quase tudo o que Carla fazia e com quem fazia e passou a acompanhar as conversas da ex-companheira, inclusive algumas conversas que ele considerou serem a prova de traições.
Na posse desse material, Moisés confrontou a companheira, o que gerou discussões entre o casal. Toda a situação levou a que no dia 21 de outubro de 2010 e depois de mais uma enorme discussão, sempre pelos mesmos motivos, e mais uma agressão de Moisés, o casal se separasse.
No seguimento da separação, Carla resolve apresentar queixa-crime pelo crime de que foi vítima, mais concretamente o de violência doméstica. Este processo-crime viria a ser arquivado no dia 19 de dezembro de 2012, devido ao facto de Moisés ter cumprido com as injunções que lhe haviam sido impostas em sede de suspensão provisória do processo.
Apesar da separação e de Carla ter ido viver para casa dos seus pais, com o filho, Moisés continuou a alimentar um profundo ciúme pela sua antiga companheira. Nunca aceitou a separação, tendo continuado a manter esperança de voltar a existir uma vida em comum.
Como acontece nestas situações, e devido ao facto de terem um filho, o contacto entre Carla e Moisés manteve-se, sendo que passaram inclusive a frequentar a casa um do outro. Sempre que a situação se proporcionava, Moisés pressionava Carla para que reatassem a relação, para que o filho pudesse ser mais feliz. A resposta de Carla foi sempre negativa, dizendo-lhe que a relação havia terminado. Neste momento, Moisés ameaça-a, dizendo--lhe que caso não ficasse com ele, caso não fosse dele, não seria de mais ninguém. Ameaçava-a de morte, dizendo-lhe que depois de a matar, faria o mesmo a toda a sua família.
Moisés e Carla tinham concordado que o melhor para o filho seria a guarda partilhada das responsabilidades parentais. Entretanto, Carla deixou de viver em casa dos pais, tendo encontrado uma outra casa, em Monte Abraão, para onde foi viver com o seu filho.
O CRIME
No dia 2 de março de 2014, Moisés, então com 43 anos, estava com o filho em casa quando Carla telefonou a informá-lo de que iria deslocar-se ao Porto em trabalho na área da comunicação social – a sua área profissional –, o que a obrigaria a ficar uma semana fora de casa. Pediu-lhe se ele podia ficar com o filho nessa semana, tendo-lhe pedido ainda para que o levasse a sua casa, para poder despedir-se dele. Moisés concordou, tendo-lhe dito que levaria o menino e que de caminho pararia num pronto-a-comer e levaria o jantar para os três. Chegou a casa de Carla entre as 20h30 e as 21h00. Jantaram, tendo pai e filho deixado a casa de Carla cerca das 23h00.
Assim que chegou a casa, Moisés disse ao filho que tinha de voltar a sair, para ir ao multibanco levantar dinheiro, mas que demoraria apenas cinco ou dez minutos. Colocou um filme de desenhos animados no computador, para distrair a criança – a saída acabou por ser cerca de uma hora e meia. A criança acabou por adormecer no sofá, não dando pelo regresso do pai.
Moisés saiu de casa cerca das 00h00, mas não foi ao multibanco. Regressou antes a casa de Carla, tendo estacionado o seu automóvel à porta do prédio onde ela residia. Aproveitando-se do facto de a porta de entrada do prédio se encontrar aberta, entrou e tocou à campainha do apartamento. Quando se apercebeu de quem era, Carla terá perguntado a Moisés o que é que ele queria ou se havia algum problema com o filho. Moisés sossegou-a, dizendo-lhe que pretendia apenas falar com ela. Carla, meio confusa, franqueou-lhe a entrada.
Assim que entrou, Moisés terá dito que tinham de voltar a viver juntos. Tinham de voltar a ser uma família. Carla respondeu-lhe negativamente, tendo-lhe dito que estava melhor sozinha e que era mais feliz assim. A situação enfureceu Moisés que começou por dizer a Carla que só servia para a ajudar.
Carla tê-lo-á mandado calar, o que levou Moisés a regressar ao assunto das traições, dizendo-lhe que sabia de tudo, pois controlava tudo, inclusive as redes sociais. Foi quando Carla, irritada com a conversa, disse a Moisés que saísse de sua casa ao mesmo tempo que o empurrava em direção à porta.
A discussão instalou-se. Todos sabemos quando começa uma discussão, mas ninguém prevê como acaba. Neste caso, em Monte Abraão, acabou mal. Moisés enlouqueceu. Pegou numa faca que se encontrava em cima de um móvel no hall de entrada e espetou-lha na zona abdominal. Devido a este ferimento, Carla caiu ao chão.
De seguida, despiu-a, deixando-a apenas em cuecas e sutiã. Levou-a para a casa de banho, onde a colocou no interior da banheira, ainda com vida, e abriu a água quente, deixando-a a correr até o corpo ficar submerso.
ENCOBRIU PISTAS
Depois do ato tentou disfarçar a autoria do crime. Moisés calçou umas luvas descartáveis, muniu-se de um lápis de cor preto e começou a escrever frases na parede: "Devolve filho da p...? Devolve? A vida não é um jogo de computador babaca? Podes correr agente
vai te pegar FDP!, Devolve c...", tendo escrito estas palavras em todas as dependências da casa. Moisés sabia que os pais de Carla tinham vivido no Brasil. Escreveu aquelas palavras em português do Brasil para enganar a PJ, apontando as suspeitas para alguém ligado à comunidade imigrante.
De seguida, arranjou um maço de borracha e partiu o vidro da porta da cozinha para simular uma entrada forçada, tendo ainda arranjado duas toalhas que colocou entre a porta e a parede para que os vidros caíssem em cima sem fazer barulho e envolveu ainda com outra toalha o referido maço para absorver o som. Tentou criar um cenário em que alguém tinha partido o vidro e entrado em casa de Carla para a assassinar.
Moisés levou consigo o computador portátil de Carla, o dinheiro que havia em casa para dar a impressão de roubo, o maço com que havia partido o vidro, as toalhas onde haviam caído os vidros, os restos do lápis com que escrevera as paredes, bem como a faca que usara para tirar a vida à vítima, sua ex-companheira e mãe do seu filho.
Ainda em casa de Carla, ao passar por um espelho apercebeu-se de que tinha sangue na roupa. Despiu as calças e o blusão e vestiu peças de roupa que serviam de adereço numa peça de teatro onde a vítima participava. Colocou a sua roupa, a da Carla e os objetos atrás referidos dentro de um saco de plástico e abandonou o local. No trajeto de regresso a casa foi deitando fora o saco com os objetos em diversos contentores do lixo, por forma a que fosse mais difícil encontrar as roupas e os objetos que o ligavam ao crime.
As coisas correram mal a Moisés. Em pouco mais de 24 horas, a PJ resolveu o caso, tendo nesse intervalo de tempo encontrado os indícios de prova que ligaram Moisés a este crime e que foram suficientemente fortes para o colocar em prisão preventiva.
Em audiência de julgamento, Moisés Fonseca veio a ser condenado a uma pena de 20 anos de prisão. Apesar de ser uma pesada pena de prisão, não devolve a vida a Carla, nem repara os danos causados ao filho de ambos.
Moisés Fonseca não soube refrear os ímpetos de violência, nem as emoções. Agiu movido pelo desejo de vingança e cumpriu a ameaça; "Não és minha, não és de mais ninguém". Nunca conseguiu aceitar o facto de Carla ter posto um ponto final na relação de ambos na sequência – recorde-se – de episódios de violência.
Moisés não perdoou o facto de Carla não querer reatar a relação. Manifestou um profundo desrespeito e desprezo pela vida humana, bem como pelo sofrimento de alguém que consigo tinha vivido cerca de cinco anos e com quem tinha um filho em comum.
Como se tudo isto não fosse por si só profundamente grave, deve registar-se que o irmão de Carla, Marcelo, está desaparecido desde finais de 2013, sendo que tudo aponta para que tenha sido assassinado, existindo também suspeitas de que o autor desse crime possa ser o seu cunhado, Moisés Fonseca. Mas será verdade? Será que pode existir alguém com tanta maldade, capaz de num curto espaço de quatro meses tirar a vida a dois irmãos? Matar os dois filhos dos mesmos pais?
O desaparecimento de Marcelo não está ainda resolvido. Se se confirmarem as suspeitas que existem neste momento, então o que pensar de Moisés Fonseca? Será que ele alguma vez conseguirá perceber o sofrimento e o desespero dos pais de Carla e de Marcelo? Será que alguma vez conseguiremos nós entender a maldade que existe ou pode existir no ser humano? Será que vamos continuar a ser capazes de nos surpreender?
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