O candidato preferido depois de Lula da Silva

Jair Bolsonaro simpatiza com a ditadura militar brasileira, legitima a tortura e acha que as mulheres devem ganhar menos.

04 de fevereiro de 2018 às 15:00
Jair Bolsonaro Foto: Leonardo Benasatto/Reuters
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Foi ele quem elogiou o torturador de Dilma Rousseff durante a votação que a depôs da presidência. Foi ele que à ‘Veja’, na primeira edição de dezembro de 1998, criticou o general e ditador chileno, pois "Pinochet devia ter matado mais gente". Jair Bolsonaro, 62 anos, não seria mais do que outra língua sem freio entre os políticos brasileiros se as sondagens não o apontassem como o segundo, atrás de Lula da Silva, nas intenções de voto nas presidenciais de outubro. O segundo favorito é aquele que nunca escondeu ser admirador da ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985 e que pecou apenas, na sua opinião, por "torturar e não matar".

Jair Bolsonaro é um militar na reserva que esteve preso 15 dias em 1987, finda a ditadura e já sob o governo civil de José Sarney, quando grassava a insatisfação nos quartéis devido aos reajustes dos soldos dos militares. O então capitão do Exército assinara, na secção ‘Ponto de Vista’ da ‘Veja’, o artigo ‘O salário está baixo’. Foi também apontado como autor, com outros militares, de um plano que previa a explosão de bombas em quartéis e outros locais do Rio de Janeiro, conforme escreveu na altura Cássia Maria, após um encontro com Bolsonaro - posteriormente, negou conhecer a jornalista.

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Balanço dos mandatos (1995-2003) do presidente Fernando Henrique Cardoso? "Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo próprio." E quando emendas constitucionais proibiram parentes em cargos públicos, disse o então deputado, que dava emprego a mulher e filho: "Se quiser botar uma prostituta no meu gabinete, eu boto. Se quiser botar a minha mãe, eu boto. É problema meu." Sobre o sexo oposto, o homem que já teve nove partidos - e foi sete vezes eleito deputado federal - advogou: "Mulher deve ganhar salário menor porque engravida." E se por causa das opiniões em relação aos homossexuais diz que é alvo de "preconceito heterossexual", não admira que seja apupado numa manifestação LGBT, nem que depois responda: "Voltem para o zoológico, que lá é o lugar de vocês. Bando de viadada [de veado, expressão depreciativa para homossexual]."

FAMÍLIA MAIS RICA

Nasceu na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo, a 21 de março de 1955, tem cinco filhos de três mulheres. Está longe de ser o menino de uma família remediada de ascendência italiana que fez a Escola Preparatória dos Cadetes do Exército, antes da Academia Militar das Agulhas Negras, donde saiu em 1977. O património da família duplicou e é por isso que Vinicius Mota, colunista da ‘Folha de São Paulo’, escrevia, no início deste janeiro, que "os Bolsonaros enriqueceram enquanto faziam política" - pai e três filhos, todos na segunda profissão mais velha do Mundo, um deles aos 17 anos foi o mais jovem vereador do país.

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A ‘Folha de São Paulo’ teve acesso, em cartórios, ao registo de aplicações financeiras mas, também, de casas e apartamentos adquiridos pelo presidenciável e deputado federal (PSC-RJ) e pelos seus filhos, Flávio, Carlos e Eduardo: ao todo 13 imóveis com preço de mercado de, pelo menos, 3 798 429,98 euros, a maioria em zonas privilegiadas do Rio de Janeiro, comprados por valores muito abaixo do mercado. Contrasta com o modesto Bolsonaro de 1988, quando entrou na política e declarou ter apenas um Fiat Panorama, uma mota e dois lotes pequenos na cidade de Resende. Bolsonaro, que mora na vila de Mambucaba, em Angra dos Reis, tem um salário bruto de cerca de oito mil euros como deputado federal, além de quase dois mil euros do Exército. Do currículo do político sem freio - que irrita a esquerda mas com a qual partilha muitas ideias económicas - fica o bate-boca, já com uma década, com Preta Gil. Bolsonaro disse que filho seu jamais namoraria uma mulher como ela, e depois, em resposta à ‘Veja’, aprofundou que até poderia namorar com todas, menos com mulheres como a cantora: "Quem é o pai dela? Gilberto Gil. Aquele que vive dando bitoquinha [beijo rápido] em macho por aí. Um ministro de Estado dando bitoquinha em macho!"

Mas Bolsonaro será sempre mais lembrado por 54 segundos - o tempo da sua declaração de voto no ‘impeachment’ de Dilma. "Perderam em 64, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff." Foi apupado por se referir a Ustra, aplaudido ao dizer que ajudava a depor a presidente.

CONTAS À ÚLTIMA SONDAGEM

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PT perde se não tiver ex-presidente

Caso o ex-presidente Lula da Silva (PT) fique de fora da disputa presidencial de outubro, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ganha mais votos do petista do que o ex-governador da Bahia Jacques Wagner, do PT (7%, contra 4%). Porém, a sondagem do Instituto Datafolha diz que 31% dos inquiridos ainda corresponde àqueles que não teriam candidato, que votariam nulo ou em branco caso Lula fosse impedido de disputar a eleição. Na primeira pesquisa após Lula da Silva ter sido condenado em segunda instância, o que pode torná-lo inelegível pela Lei da Ficha Limpa, Bolsonaro só perde para Marina Silva em caso de segunda volta. A sondagem da Datafolha foi feita nos dias 29 e 30, já depois do julgamento do ex-presidente brasileiro.

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