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A CIDADE PERDIDA DOS INCAS

Visitada e estudada por milhares de pessoas, Machu Picchu mantém intactos muitos dos seus segredos. Bem-vindo ao berço da mítica civilização do Peru

30 de agosto de 2002 às 20:07

Ainda hoje os investigadores se questionam sobre como foi possível ter passado despercebida aos conquistadores espanhóis. Na realidade, Machu Picchu (montanha velha) não era uma cidade. Foi construída entre 1460 e 1470 como estado real e retiro religioso pelo rei Pachacuti Inca. O facto de se situar numa área praticamente inacessível, acima da floresta que circunda o desfiladeiro do rio Urubamba inviabilizava, por certo, que funcionasse com as características próprias de uma cidade da época - com afluxo de comerciantes e forte dinâmica administrativa e militar. Foi essa selva de montanha que ajudou a manter os espanhóis, sedentos de ouro e outros tesouros, afastados durante tanto tempo. Mas Machu Picchu era já uma cidade esquecida mesmo antes de os colonizadores terem chegado à América do Sul. Depois de um período de rebelião, o império Inca entrou em guerra civil e dividiu-se. Machu Picchu foi, então, abandonada, provavelmente devido aos altos custos que a sua manutenção implicava e também à falta de mão-de-obra.

Em 1532, Pizarro chegou à região e, pouco tempo depois, já conquistara Cusco, a poucos quilómetros de Machu Picchu. A acompanhá-lo vinha uma horda de aventureiros iletrados, quase selvagens, com muito pouco interesse por tudo o que não fosse riqueza e poder. Alguns anos mais tarde, Mango, o rei Inca, ensaiou uma rebelião do seu povo contra os espanhóis. Depois de um cerco falhado a Cusco, abandonou o quartel-general de Ollantaytambo e, com os restantes elementos da sua corte, exército e outros seguidores, fugiu para Vilcabamba, para lá de Machu Picchu. Pelo caminho incendiou e destruiu todas as povoações Incas acessíveis aos espanhóis incluindo Llatapata e o início do trilho que ia do rio Urubamba a Machu Picchu. Com o crescimento rápido da vegetação e deslizamentos de terra, muito frequentes nesta região, os vestígios dos acessos foram-se perdendo. Quando os primeiros escolásticos espanhóis chegaram à América do Sul, todos os indícios de Machu Picchu estavam perdidos.

NADA ACONTECEU POR ACASO

Só em 1911 Machu Picchu foi revelada aos olhos do mundo. Quando Hiram Bingham avistou o desfiladeiro de Torontoyo, sobre o qual se erguem as ruínas, foi conduzido pelos indígenas aos socalcos da cidade antiga, que alguns homens cultivavam tranquilamente. Mas nada disto foi pura casualidade. No século XVIII já tinham sido encontrados escritos sobre Machu Picchu, e a sua descoberta ficou essencialmente a dever-se à investigação metódica. Bingham transformou o sítio num dos destinos arqueológicos mais procurados do mundo. Graças a isso, o seu nome ficou imortalizado numa placa à entrada da cidade em tempos perdida.

Machu Picchu ergue-se entre dois picos rochosos alguns milhares de metros acima do Urumbamba. Aqui, o rio serpenteia e cai de cascata em cascata, rodeado de penhascos. Todo este estranho cenário está envolto em densa e luxuriante floresta de montanha. A cidadela estende-se encosta abaixo, repleta de terraços, paredes e muralhas feitos de granito branco esculpido na perfeição. Na era Inca era acessível apenas por um trilho íngreme.

Hoje, é possível lá chegar de autocarro, uma viagem vertiginosa que se inicia a cinco quilómetros da localidade mais próxima, Águas Calientes. São curvas e mais curvas com precipícios intermináveis à espreita - razão porque muitos dos turistas evitam a viagem de volta. Outra hipótese é vencer os cerca de 1680 degraus que ligam o rio ao cume, uma excelente opção para quem está em forma. Neste caso, a subida pode demorar mais de uma hora.

MUITO POR DESVENDAR

O engenho empregue na construção de Machu Picchu foi tal que a cidade se mantém, ainda hoje, praticamente intacta. E esta é a principal explicação para o esplendor que ostenta. Mas muitas outras coisas continuam por desvendar, como o porquê da sua existência. Sobre isto surgiram várias teorias. Bingham pensava que tinha uma origem pré-Inca, tendo sido abandonada e, mais tarde, ocupada pelos Incas para defesa contra os conquistadores espanhóis. Uma perspectiva de carácter mítico refere que era a cidade das virgens sagradas do sol, teoria sustentada pelo facto de 80% das múmias lá encontradas serem de corpos femininos.

Outra teoria considera que a cidade foi erguida no auge do império Inca, como fortaleza contra as eventualidades da selva desconhecida. Muitos ainda acreditam que foi construída pelos índios da Amazónia, em honra das suas deusas. Uma coisa é certa: ainda muito pouco se sabe sobre ela.

O SEU ROTEIRO

Nome Oficial: República de Peru

Área: 1,285,215 km2

Habitantes: 27,012,899 (1.9% crescimento)

Capital: Lima (8 milhões hab.)

População: 54% Índios, 32% Mestiços, 12% Descendentes de Espanhóis, 2% Negros, Minorias asiáticas

Linguagem: Castelhano, Quechua, Aymara

Religião: Mais de 90% de Católicos

Governo: Democracia

Presidente: Alejandro Toledo

Primeiro-Ministro: Roberto Dañino

Voos Ibéria, Air France, American Airlines e Lufthansa com destino a Lima, entre 700 e 800 euros para estudantes e 700 a 1000 euros para não estudantes. Prepare-se para uma viagem de oito a dez horas.

Machu Picchu Inn,

Av. Pachacutec, s/n, Águas Calientes

Cusco

Machu Picchu Sanctuary Lodge

Ciudadela de Machu Picchu

Cusco

Pode fazer a sua reserva imediatamente no site www.peruhotel.com

Lost City of the Incas: The Story

of Machu Picchu and its Builders

Hiram Bingham, Atheneum, 1972.

The Conquest of the Incas

John Hemming, Hartcourt Brace, 1970

Machu Picchu, the Sacred Center

Johan Reinhard, Nuevas Imagenes, Lima 1991

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