Ninguém arrisca prever o futuro de Schumacher. Mas não faltam casos de recuperações espantosas.
Houve motivos para abrir garrafas de champanhe na segunda-feira, mesmo sem haver ninguém no pódio de um dos circuitos onde se realizam grandes prémios de Fórmula 1. A notícia de que o piloto alemão Michael Schumacher, de 45 anos, sete vezes campeão mundial, despertara do coma, e saíra do hospital francês onde se encontrava desde dezembro de 2013, motivou reações de felicidade de amigos e rivais.
Quase todos tiveram, no entanto, o cuidado de conter o entusiasmo. Jenson Button falou em "notícias positivas" e Fernando Alonso realçou a alegria por "isto estar no bom caminho". Só sabem que pouco ou nada sabem, como todos, menos os médicos de Schumacher, que lhe fizeram várias cirurgias desde que ele sofreu um violento acidente enquanto esquiava na estância de Meribel, nos Alpas Franceses.
Segundo a imprensa suíça, o alemão manteve os olhos abertos e acenou com a cabeça durante parte da viagem do hospital universitário de Grenoble para o centro médico de Lausanne, no qual decorrerá uma reabilitação de duração e êxito imprevisíveis. Todos os relatos disponíveis deixam claro que o piloto alemão não consegue falar, embora reaja à voz da sua mulher, Corinna, e possa respirar sem ajuda.
O diretor de Neurologia da clínica que recebeu Schumacher, Richard Franckowiak, disse à agência noticiosa helvética SDA que a transferência do paciente correu "muito bem", reafirmando que terá pela frente um "longo processo" de recuperação, no qual a privacidade do piloto será resguardada.
Diversos neurologistas expressaram a sua preocupação com a falta de novidades acerca das funções cerebrais do alemão, admitindo que, pelo menos em princípio, "é possível uma recuperação substancial" depois da saída do coma.
SEQUELAS DE NOMEADO
Um dos casos mais conhecidos que permitem um moderado otimismo é o do ator norte-americano Gary Busey, especialista em papéis de vilão em Hollywood, cuja expressão inquietante é explicável pelo que lhe aconteceu. Em dezembro de 1988, quando tinha 44 anos, esteve à beira da morte devido a um acidente de motocicleta. Não levava capacete e os danos cerebrais foram extensos ao ponto de ficar 33 dias em coma. Partilhou mais tarde algumas memórias desse período: "Estive rodeado de anjos, que não tinham a aparência daqueles que a gente vê nos cartões de Natal. Eram grandes bolas de luz que flutuavam e nada mais tinham além de amor."
Parecia o fim da carreira para quem, no ano anterior, enfrentara Mel Gibson e Danny Glover, em ‘Arma Mortífera' - e fora nomeado para o Óscar de Melhor Ator em 1979, por ‘The Buddy Holly Story', sobre o músico falecido no acidente de avião que vitimou Ritchie Vallens -, mas Busey fez o seu regresso. ‘Predador 2' e ‘Queda Livre' são alguns exemplos de uma carreira que não dá sinais de chegar ao fim, apesar de o norte-americano passar cada vez mais tempo em ‘reality shows', expondo as sequelas físicas e mentais do acidente. Já foi detido por violência doméstica e diz frases como "beber o nosso próprio sangue é o paradigma da reciclagem", atribuíveis ao impacto que as lesões cerebrais tiveram na capacidade de filtrar aquilo que diz e faz.
Menos dramático foi o resultado das terríveis lesões cerebrais sofridas por Evel Knievel, o norte-americano que adorava todas as formas de desafiar a morte. Chegaria a atravessar um rio propulsionado por um foguetão, mas não se feriu tanto quanto na passagem de ano de 1967 para 1968, quando convenceu os donos do Caeser's Palace a deixarem-no voar com a motocicleta sobre a enorme fonte do casino de Las Vegas.
A gravação do que aconteceu pode ser vista no YouTube por quem tiver estômago para isso. Saltou de uma rampa para outra, mas o impacto levou a que soltasse as mãos do guiador, e foi projetado para o chão, embatendo violentamente com a cabeça e contorcendo o corpo como um boneco de trapos.
Entre as muitas mazelas que contribuíram para a entrada no ‘Livro de Recordes do Guiness', com 433 ossos quebrados ao longo da vida, o acidente causou danos no crânio e no cérebro que o deixaram em coma por 29 dias. Quando saiu desse estado, disseram-lhe que talvez não voltasse a andar, o que ele encarou como um incentivo para manter a estranha forma de vida que durou até 2007, morrendo aos 69 anos, de doença pulmonar. Sempre que lhe pediam para descrever a sensação de estar em coma, tinha resposta pronta: "Como c... é que hei de saber? Estava em coma!"
HEMORRAGIAS E DROGAS
Para passar nove dias em estado de coma, Sharon Stone não precisou de andar de motocicleta ou de descruzar as pernas, como a sua célebre personagem do filme ‘Instinto Fatal'. A atriz norte-americana limitou-se a ser uma mulher prevenida - não fosse o que se passou a seguir, muitos prefeririam a palavra hipocondríaca - ao sentir uma dor de cabeça extremamente forte.
Os exames hospitalares revelaram que tinha uma hemorragia subaracnoide no cérebro, e foi mantida em coma enquanto os neurocirurgiões resolviam um problema mais raro do que o rebentamento de um aneurisma. Stone disse ter sentido um "gigantesco vórtice de luz" a descer sobre o seu corpo, e ainda hoje garante que a experiência deixou marcas espirituais que ultrapassam em muito qualquer sequela física.
O abuso de substâncias conta-se entre as causas de morte prematura mais típicas dos músicos, recaindo - mesmo que, por vezes, em conjugação com outras causas - sobre Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix ou Amy Winehouse. Todos eles integram o tristemente célebre "clube dos 27", idade que tinham à data dos respetivos óbitos. Era também essa a idade de Kurt Cobain, líder dos Nirvana, quando cometeu suicídio, em abril de 1994. No entanto, poderia ter morrido alguns meses mais cedo, pois ficou um dia em coma, num hospital de Roma, em Itália, devido à mistura de comprimidos com álcool.
Mais sorte teve o saxofonista norte-americano Stan Getz, que em 1954 tentou suicidar-se com barbitúricos num quarto de hotel de Seattle, minutos depois de tentar roubar morfina numa farmácia, ameaçando os funcionários com o dedo apontado, à falta de pistola. Foi levado para a cadeia e, de seguida, para o hospital, onde conseguiram salvá-lo. Não guardou qualquer recordação dos três dias em estado de coma, mas aprendeu a lição. "Quando despertei, com um tubo enfiado na traqueia para respirar, percebi que Deus não desejava que morresse", comentou. Casou-se, mudou de vida, e viveu mais 37 anos.
DEIXADO PARA MORRER
Ainda mais violenta costuma ser a vida dos rappers. Porém, o norte-americano The Game - que começou por ser protegido e depois passou a inimigo do também ex-gangster 50 Cent - ficou três dias em coma quando era traficante de drogas. Dois supostos compradores, com muita vontade de matar e pouca pontaria, atingiram-no com cinco tiros, deixando-o para morrer. Esperou que saíssem e conseguiu chamar uma ambulância com o telemóvel antes de colapsar.
Já Stevie Wonder ficou quatro dias em coma, no ano de 1973, devido a um terrível acidente de viação. Atingido por um tronco tombado de uma carrinha, o músico cego perdeu também parte do olfacto. Mas recuperou bem, sem histórias comparáveis às de outros artistas.
Ozzy Osbourne, dos Black Sabbath, foi mais dramático na causa do coma do que nas sequelas. O músico britânico foi projetado quando passeava na sua propriedade, acabando por ficar debaixo do veículo todo-o-terreno que conduzia. Foi salvo por um guarda-costas, que lhe fez respiração boca-a-boca, e mantido 8 dias em estado de coma, do qual foi despertando gradualmente. "Oscilava entre o consciente e o inconsciente. Às vezes havia uma luz branca a brilhar na escuridão, mas não vi anjos, trompetas celestiais, ou qualquer homem de barba branca", garantiu.
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