Entre os muitos episódios, escolho aquele em que conto um ataque terrível da UPA no caminho para Mucondo.
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Nome Luís Albino Gatinho
Comissão Angola 1961-63
Força Bat. Caçadores 96 Companhia Caçadores 103
Informação Professor reformado, de 79 anos. Vive em benavente. É viúvo, tem dois filhos e duas netas gémeas a estudar engenharia e medicina
Estive entre 1961 e 1963, em comissão de serviço em Angola. Era o soldado condutor 1423/60, do Batalhão de Caçadores 96 Companhia Caçadores 103. Conto sobre aquela vez em que depois de deixarmos o Piri - comuna angolana pertence ao município dos Dembos, na província do Bengo-, passámos a ponte do rio Dange, virámos à esquerda e depois de atravessarmos o rio Luica, do outro lado estava uma placa que dizia: "República Independente da UPA - todo o branco que aqui passar morre".
Depois de atravessarmos com todos os carros, já se tinha feito noite e ali acampámos. No dia seguinte fomos ferozmente atacados, ficou ferido o comandante de pelotão, Alferes Leitão. Eu era o condutor da 1ª secção do 3º pelotão da Companhia 103. Comigo seguiam à frente no jipão o cabo Gandarinho e o guia, o Sr. Borges, que também ficaram gravemente feridos. Seguiam connosco ainda os atiradores e as metralhadoras ‘Breda’, e foi um daqueles que disse: "O nosso condutor está ferido". Eu passei a mão pelas costas que, realmente, estavam cheias de sangue. Verifiquei que, apesar de ter a farda ensopada, o sangue não era meu mas do cabo que tinha caído para cima de mim.
Entretanto, o nosso guia, que também estava gravemente ferido, caiu para fora do jipe. Parei para acudir e os meus camaradas gritaram para que saísse dali, exposto como estava ao ataque do inimigo. Fiz que não ouvia e pedi- -lhes os pensos que cada um de nós tinha no estojo de primeiros socorros, para assim poder conter de alguma forma o sangue que jorrava dos buracos das balas no peito e nas costas deles.
Corria de um lado para o outro, as balas zurziam nos meus ouvidos, levantavam pedras e pó ao meu redor.
Quando tentei ajudar o guia, que tinha caído do jipão, vi que um preto ia tentar agarrá-lo - tinha estado refugiado à beira da picada, coberto de capim, e saía de um abrigo que os gajos tinham feito para se defenderem das nossas balas. Dei-lhe um pontapé na cara e nunca mais o vi.
Entretanto, o meu comandante de pelotão, Alferes Leitão, já tinha sido ferido nas mãos, e com a secção sem comandante - o sargento Freitas estava de baixa - o meu alferes confiou em mim.
Por termos tido todas estas baixas, a minha secção foi substituída. Eu quis ficar com o jipão, continuei a guiá-lo nos restantes oito quilómetros até Mucondo. Até lá fomos sempre alvo de ataques, tentando o inimigo retardar a todo o custo o nosso avanço.
Ripostámos e nesses ataques infligimos baixas - onze mortos e entre eles, o famigerado Maneca Paca, dirigente da UPA (União das Populações de Angola), considerado antropófago (aquele que se alimenta que carne humana), que causou verdadeiras chacinas em Mucondo, e cuja morte é por muitos reivindicada. Ali também confiscámos várias armas à guerrilha.
Tenho que realçar que quem abateu o Maneca Paca fui eu e o meu camarada, também condutor, João Morato Pereira. Éramos nós os dois que estávamos na frente da secção e de frente para o inimigo, já que os nossos camaradas estavam abrigados debaixo das viaturas.
O macaco Maneca
Eu tinha comprado um garrafão de vinho para comemorar o meu aniversário, no primeiro de agosto, mas como a água acabou não houve melhor remédio do que matar a sede com vinho. Depois de conquistarmos Nambuangongo consegui apanhar um macaco pequenino ao qual lhe dei o nome de Maneca Paca, que andou um tempo comigo no jipão até fugir.
Para além da correspondência que recebia da minha família e da namorada, tenho a realçar as cartas da minha madrinha de guerra que muito contribuíram para a minha moral, com as suas lindas mensagens de carinho e coragem.
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