As portarias louvam a coragem em combate. Mesmo ferido ajudei e mal refeito ofereci-me como voluntário.
"A 10 de junho de 1969 fui de Ermidas do Sado, onde nasci e ainda vivo, ao Terreiro do Paço, em Lisboa, para receber duas cruzes de guerra. Na minha comissão em Moçambique fui ferido por três vezes. Ficou escrito nas portarias de fevereiro e agosto de 1968 que, integrado num grupo quase exclusivamente de alentejanos, as merecia por ter demonstrado "elevadas qualidades militares", "coragem em combate, sangue-frio, serena determinação e energia debaixo de fogo, espírito de sacrifício e elevado moral frente ao inimigo".
Eu era o soldado de Infantaria nº 01678065 na Companhia de Caçadores 1560, os ‘Leopardos’, comandada pelo capitão de Infan-taria António Augusto da Costa Campinas, que foi colocada em Gilé de maio de 1966 a janeiro de 1967, onde fazíamos principalmente patrulhamentos e ação educativa e medicamentosa junto da população. Mas depois, entre janeiro de 1967 e fevereiro de 1968, efetuámos operações como ‘Alcides’ (vale do rio Messinge), ‘Segunda Vez’ (região da Base Liconchire), ‘Sobe-Sobe’ (serra Juzagombe), ‘Alferes Ambar’ (região da Base Liconchire) e ‘Crepúsculo’ (entre os rios Messinge, Nossi e Luavize); entre muitas outras.
Na transcrição da portaria publicada na OE nº 25 - 3ª série, de 1968, sobre a minha Cruz de Guerra de 1ª classe pode ler--se que tive um magnífico comportamento nas operações ‘Quatro Camaradas’ e ‘Sobe-
-Sobe’. "Na primeira - escrevem - conduziu-se com extraordinária bravura, espírito de sacrifício e de missão durante o violento combate de cerca de hora e meia, travado com numeroso e bem armado grupo inimigo, sempre ao lado do comandante do Grupo de Combate, agindo como apontador de lança-
-granadas foguete e expondo-se constantemente ao fogo adverso (...)". E frisam que, apesar de gravemente ferido logo no início do assalto, continuei "a fazer fogo com o seu lança-granadas foguete, apoiando, assim, com eficiência, a progressão das nossas tropas".
Ajudei, ainda, os camaradas feridos, até à chegada do helicóptero que os evacuou em primeiro lugar e mal eu próprio saí do hospital, onde também recebi tratamento, ofereci-me como voluntário, embora não tivesse sido aceite por não estar totalmente restabelecido.
Já a Cruz de Guerra, de 3ª classe, foi quando eu, na operação ‘Ou Vai ou Racha’, mesmo depois de atingido por um estilhaço numa coxa e debaixo de intenso fogo inimigo, ainda disparei sozinho por quatro vezes o LGFog "sobre a principal posição inimiga, silenciando-a". Escreve-se: "Apesar de ser ele o ferido mais grave pediu para só ser socorrido em último lugar, tendo feito voluntariamente a pé o percurso de vários quilómetros até ao local onde se encontravam as viaturas, para que o seu comandante de Secção, também ferido, pudesse utilizar a única maca então disponível."
Por graça, não posso ainda deixar de lembrar um episódio caricato com a Polícia Militar, ocorrido mesmo antes do embarque, em frente do Hotel Portugal, na Baixa de Nampula, quando passeávamos alguns da 1560. Quando passou um jipe da Polícia Militar, alguém do nosso grupo gritou: "Adeus, ó Chekas" (nome dado aos recém-
-chegados). De imediato, eles correram para nós. Receando complicações antes do regresso à metrópole, todos debandaram menos eu, por ter a consciência tranquila mas também por estar ainda coxo devido ao meu último ferimento em combate. Foi então que vi vir o cabo, exaltado, direito a mim… Agarrou-me pelo colarinho, puxou-me e eu desequilibrei-me e bati ‘sem querer’ com a minha testa no nariz dele, pelo menos assim o expliquei posteriormente, embora nem todos tenham acreditado na história - alguns dos graduados da CCAÇ 1560 presentes tiveram de evitar a gargalhada.
As cruzes de guerra têm estado numa gaveta mas, no último dia 29, coloquei-as ao peito, quando fui homenageado na minha terra".
Nome
António Maria Nobre
Comissão
Moçambique, 1966-1968
Força
Companhia de Caçadores 1560 ‘Leopardos’
+ Info Padeiro Nasceu e vive em ermidas do sado. Tem 74 anos e três filhas
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