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CULINÁRIA: A MANIA DA COZINHA

A arte da cozinha aprende-se lá para as bandas de Campo de Ourique, em Lisboa. Uma loja pouco ortodoxa dá cursos de culinária a candidatos amadores mas com pretensões a ‘chef’.

04 de maio de 2003 às 15:27

Tradicionalmente, a cozinha foi um espaço “exclusivo” das mulheres. Hoje, apesar de um certo machismo, muitos homens estão a entregar-se às artes culinárias. A prová-lo, a loja “Cozinhomania”, em Campo de Ourique (Lisboa), que, para além de ter equipamento de cozinha, dá cursos de gastronomia, abrangendo não só a comida portuguesa, como manjares de diversos países e culturas. Neles, a presença masculina anda pelos 50 por cento e, não raras vezes, ultrapassa a das mulheres.

O proprietário, Carlos Braz Lopes, conta a história da sua iniciativa que, crê, ser única no nosso país. A ideia de um estabelecimento com tais características, disse, nasceu em Londres em 1974.

Na capital britânica, os parcos rendimentos do trabalho, por uma questão de poupança, levaram-no a cozinhar para si e para os seus companheiros de “exílio”. Na cidade do Tamisa encontrou várias lojas que, tal como a sua, se dedicavam não só a vender equipamento, como a ministrar cursos de cozinha.

Regressado a Portugal, Carlos Braz Lopes, após se licenciar em Gestão de Empresas, teve uma “recaída”, começando por abrir um restaurante no Mercado de Santa Clara e acabando na “Cozinhomania”, a ideia com raízes londrinas. Hoje, decorridos seis anos sobre a experiência, o quase engenheiro e gestor fala do êxito da sua iniciativa, comprovado pelos cerca de mil alunos/ano que comparecem nos frequentes cursos, ministrados por colaboradores amigos, na sua maioria não profissionais. Ultrapassando a iniciação à cozinha, os instruendos podem conhecer os segredos das comidas italiana, marroquina, egípcia, indiana, japonesa, bem como doçaria, nomeadamente conventual.

HOBBY SABOROSO

Luísa Mexia, uma das colaboradoras de Carlos Braz Lopes, no dia da visita da “Domingo Magazine”, ocupava-se em dar um curso de iniciação. Confessando ser “amiga de há muitos anos do Carlos”, afirmou-se como amadora, salientando o seu grande interesse pela cozinha, nascido ainda em miúda, no meio de uma família grande, na qual já a avó e a mãe se dedicavam também à nobre arte de cozinhar. “Passo noites a ver livros de receitas, procurando novos pratos, aos quais, depois, dou um toque pessoal”. E não resiste a contar que, presentemente, se entretém a tentar “decifrar “ um livro de uma das avós, manuscrito e já roído pelas traças. Frente a oito alunos preparava uma ementa para quatro pessoas, composta por um creme de espinafres, “bacalhau rosa”, lombo de porco assado e tarte de framboesas. Explicou que o prato de bacalhau com natas se diferenciava do habitual por ser confeccionado com tomates, daí a denominação de “rosa”, mais um modo de cozinhar o “fiel amigo”, com um “toque pessoal”.

Entre os participantes do curso, Sofia Soares Franco, de 20 anos, solteira, estudante de Ciências Políticas, disse-nos que ali se encontrava para aumentar os seus conhecimentos sobre culinária. Sobre se fora sua mãe que lhe despertara o interesse pela cozinha, sorrindo, disse que a progenitora não tinha “nenhum jeito” para tal tarefa. Soube dos cursos através de pessoas amigas. “Vale a pena, porque se aprende muito sobre a técnica das bases de cozinha”, disse a concluir.

Gonçalo Costa Andrade, de 32 anos, casado, trabalhando na área da Informática, já é o quarto ou quinto curso que frequenta, e considera-os uma “maneira de quebrar o stress”. Filho de uma grande família em que, surpreendentemente, são os homens, entre dois irmãos e cerca de vinte primos, que se interessam pela cozinha. Surpresa não menor, o facto de a mulher não cozinhar, sendo ele, portanto, o responsável pela confecção dos alimentos. Ao contrário de Sofia, sua companheira de curso, Gonçalo prefere a comida portuguesa, mesmo a “pesada”, como o “cozido”, a “dobrada” ou a “feijoada”, não desdenhando, contudo, os pratos de “pasta” à italiana. Razões para a habitual comparência nos cursos: “aprofundar os seus conhecimentos e apanhar novas ideias para confeccionar pratos mais elaborados”.

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