"A desinformação confundia as nossas tropas. Parecia que alguma coisa ia correr mal", conta Acácio Sousa.
Nome
Comissão
Angola, 1973-1975
Força
* Info
67 anos, aposentado, presidente do Orfeão de Leiria, diretor do ISLA-Leiria
Calhara-me ser "voluntário à força" no Centro de Operações Especiais de Lamego, onde se aprendia a controlar o medo. Rapaz com simpatia por uma esquerda muito interventiva, acabei por ser mobilizado para Angola, como muitos foram. As contradições juvenis refugiavam-se na ideia de fazer trabalho ideológico e ter que safar a pele. Talvez as coisas não corressem mal. Por ter estado em Lamego, sendo alferes, parti a comandar a 1ª companhia do batalhão, pois o capitão entrou de baixa na véspera do embarque.
Em 1973, os batalhões como o nosso saíam de Portugal com meio contingente e eram completados com recrutamento local.
Aos 22 anos, a comandar uma companhia, impreparado no que dizia respeito a administração militar, circulei durante uma semana por várias repartições, em Luanda, a receber instruções, mas nunca me foi dito nada sobre as populações que iria encontrar. Fiquei a saber que iríamos para o norte, patrulhar a antiga Rota do Café, zona de infiltração da FNLA. Nada mais.
A minha companhia foi partida. O meu pelotão ficou a proteger o comando do batalhão estacionado no Toto. Um outro foi reforçar a companhia destacada para Bessa Monteiro, e outros dois foram para a destruída Missão do Bembe. Havia, ainda, uma outra companhia no Colonato do Vale do Loge e mais duas independentes, nas inóspitas Quimaria e Quibala.
Por aqui fora o corredor de escoamento do café para os portos de Ambriz e Ambrizete. Agora, a importância da zona era estratégica para controlo de todo o norte, face às infiltrações da FNLA vindas dos campos de treino no Zaire, a caminho das bases do Songo e do Luena.
O 25 de Abril
As noites na mata, em sucessivos patrulhamentos, tornaram-se um hábito. Quando eram detetadas colunas de grande dimensão, vinham os "paras" e o reboliço era maior.
Um dia, fui enviado com outros 22 homens para deter uma coluna de cerca de 300… uma tempestade travou a progressão, mas deixou-nos isolados com o repentino caudal de um rio.
No dia 25 de abril de 1974, saímos de madrugada. À noite, à chegada ao quartel, soubemos de uns rumores de difícil perceção. Depois, sim, as notícias começaram a chegar. Primeiro, as oficiais, confusas. Depois, todos começaram a receber das namoradas e dos amigos a informação clara da reviravolta. Começou a perpassar a dúvida se a guerra continuava. E continuou, pois os três movimentos de libertação de Angola queriam marcar território antes do início das negociações. A guerra tornou-se, até, mais dura em muito lado e a desinformação confundia as nossas tropas. Parecia que alguma coisa iria correr mal.
Outro Portugal
Sorte. O Batalhão mudou para uma chamada zona de descanso. A minha companhia voltou a juntar-se, na paradisíaca mas quase abandonada vila do Ambriz. Os guerrilheiros saíram da mata e nem sempre a cooperação foi fácil, entende-se porquê. Mas passou-se.
Em maio de 1975 regressámos a um outro Portugal, com a ilusão de recuperar vidas interrompidas, mas o estado de alma também nos iludia, por vezes.
Cada qual foi à sua vida. Seria diferente sem a guerra? Talvez. O que ficou? Um esforço inglório? Os rapazes foram obrigados, mas eram genuínos, generosos e valentes, e isto será sempre reconhecido àqueles que por lá andaram nos alvores das suas vidas. Eles sabem que há quem reconheça o valor de quem se expôs e esteve com brio num serviço militar obrigatório.
Ah! Ficaram as conversas sobre Adolfo Pinho, angolano do MPLA, incorporado no nosso pelotão e que desertara. Que fora feito dele? Recontarmo-lo 40 anos depois!! Em Portugal - e o pelotão voltou a reunir! Em festa!
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