O Papa Francisco é estrela no twitter e no instagram e até há um site de encontros exclusivo para fiéis.
Quando encontro um mendigo o que faço?: a) Pergunto-lhe como está e se o posso ajudar de alguma forma; b) Tenho sempre algumas moedas para dar; c) Gostaria de o ajudar mas na verdade alguns euros não são a solução; d) De mim não leva nada, eu tenho de trabalhar pelo meu dinheiro." Esta é apenas uma das questões que o site www.datescatolicos.org coloca aos membros quando se inscrevem. Também há perguntas sobre como gostam de passar as folgas, o que acham de emprestar o carro a um amigo, o que pensam sobre ter filhos e ainda se consideram relevante preservar a virgindade até ao casamento. A Igreja está na internet e a dar cartas em todas as frentes – até no que ao coração diz respeito.
O papa Francisco é a estrela mais cintilante do ciberespaço católico: O sumo pontífice tem quase 30 milhões de seguidores no Twitter e três dias após a sua publicação de estreia no Instagram, em março deste ano, já tinha alcançado um milhão e meio de seguidores. A acompanhar a primeira imagem que publicou nesta rede social, o Papa deixou um apelo aos fiéis: ‘Rezem por mim’, escreveu. Em poucos segundos já tinha milhares de ‘gostos’ e comentários, prova provada que a mensagem divina pode ser transmitida num altar dentro de uma igreja ou à frente de um computador – desde que haja assistência.
Para se aproximar dos mais jovens, o papa utiliza inclu-sive termos tecnológicos – como aconteceu no final da Jornada Mundial da Juventude, na Polónia, em que aconselhou os participantes a instalarem a "melhor aplicação, a de um coração que vê e transmite o bem sem se cansar", seguindo o exemplo de Deus, cuja "memória não é um risco rígido".
Quem quer casar?
E se o líder da Igreja Católica é o exemplo maior de que as máximas cristãs podem utilizar as novas tecnologias, não é disso o único exemplo: a forma como começamos este texto é disso prova.
O site www.datescatolicos.org é exclusivamente para católicos e, por isso mesmo, tem uma grande diferença em relação às outras redes sociais onde as pessoas se podem conhecer virtualmente antes de passarem a um contacto mais direto, venha ou não a sair dali alguma coisa. "O objetivo do nosso site não é conhecer pessoas, é um serviço de casamento. Por isso, antes de criarem o seu perfil, os membros preenchem uma declaração em como desejam casar pela igreja e em como estão canonicamente em condições de o fazer", explica Marta Pimenta de Brito – psicóloga e investigadora que trouxe o serviço para Portugal e o implementou em conjunto com o marido, António.
Esta plataforma nasceu em língua alemã, na Áustria, na Suíça e na Alemanha, há dez anos e já proporcionou – segundo Marta – 500 casamentos católicos. A ideia agradou-lhe, quando dela ouviu falar, porque sentiu na pele a dificuldade de conhecer alguém que partilhasse a fé com a mesma convicção. "Há muitas pessoas à procura, que chegam aos 30 e não encontram, porque nós não temos escrito na cara que somos católicos e que andamos à procura de alguém como nós", conta, justificando desta forma o projeto do site que já completou nove meses.
"Temos três mil utiliza-dores diários e o primeiro casamento entre membros portugueses do datescatolicos.org já está marcado", orgulha-se a psicóloga. Não é João o noivo. "Estou inscrito desde outubro e já conheci cinco pessoas no site mas continuo solteiro", explica o bancário, de 33 anos, que prefere não dizer o apelido para não expor a sua "intimidade". Apesar de o site fazer um ‘match’ entre as pessoas – através de uma métrica automática que avalia a compatibilidade dos membros com base nas respostas à lista de perguntas que têm de preencher no início – ainda não encontrou ninguém com quem se imagine a subir ao altar. Com uma das inscritas ainda iniciou uma relação que durou alguns meses, mas que nem a fé conseguiu prolongar no tempo. "Tínhamos objetivos diferentes e por isso não resultou". Com outra mulher também marcou encontro, mas o problema era diferente… "Era das pessoas mais bonitas que conheci mas era demasiado devota. Ela própria admitia que tinha uma devoção à Igreja quase extrema e é difícil para mim que uma pessoa dedique 90% da sua vida à Igreja, porque eu gosto de sair à noite, gosto de conviver e dou importância à minha profissão. Tanto que no dia do nosso encontro ela disse que ainda tinha de passar pela Igreja", explica este católico convicto… mas sem exageros. João continua com fé de que vai encontrar a noiva por ali, haja tempo para navegar em busca do amor.
"Inscrevi-me neste site porque não tenho paciência para conhecer pessoas totalmente diferentes de mim. Sou católico, tenho fé em Deus, quero casar-me pela Igreja e desde que terminei a formação superior que compreendi que é difícil conhecer pessoas com quem me identifique e que acreditem em Deus. Não posso ter uma relação com uma pessoa que me diz que Fátima é uma treta – como uma rapariga já me disse – ou que não se imagine a ter filhos", partilha.
"A nossa grande questão é que as pessoas através desta plataforma consigam perceber que tipo de católicos são e o que procuram. O António deixa sempre os sapatos na sala, mas para mim é mais importante partilhar a fé com o António do que ele arrumar os sapatos", diz Marta Pimenta de Brito, de 36 anos.
No datescatolicos.org também há espaço para os utilizadores serem fiéis às suas preferências físicas: "A minha cara metade pode ser: a) muito magra; b) magra; c) musculosa; d) cheiinha e e) ter excesso de peso". Ou deixar claro se aceitam ou não determinados comportamentos, como fumar, por exemplo.
Padre na internet
De visita a Lisboa em janeiro de 2015, o presidente do Conselho Pontifício da Cultura – uma espécie de ministro da cultura do Vaticano – sublinhou que a Igreja Católica tem de se apresentar com a sua mensagem na internet. O cardeal Gianfranco Ravasi disse que Jesus usava o Twitter do seu tempo, dando como exemplo a sua intervenção sobre a relação entre fé e política: "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". "Tem de ter conteúdo de um tweet. Essencialidade e clareza", sublinhou.
Nada disto é novidade para o padre Júlio Granjeia, pioneiro em Portugal na transmissão de missas pela internet e no contacto com os fiéis via redes sociais. "Comecei em 1997, numa altura em que nada é como era hoje e a única coisa que encontrei foi o site de um sacerdote brasileiro. Criei o meu próprio site e depois comecei a falar com os fiéis através dos chats da altura, como o Mirc, depois passei para o ICQ e por aí fora", recorda sobre o início da ‘aventura’ cibernética, que no ano 2000 já tinha dado um passo de gigante.
"Tinha um colega professor que conheceu uma brasileira na internet e me pediu para transmitir o casamento deles via internet, para os pais dela poderem assistir". Depois desse, outros se seguiram. Hoje, além do site, este pároco de Águeda, no distrito de Aveiro, está no Facebook, Instagram, Twitter e YouTube, onde tem mais de 2000 vídeos publicados. "Um deles foi visto por meio milhão de pessoas. É um vídeo em que as crianças da catequese cantam na igreja uma oração que os judeus fazem. É a forma que eu tenho para chegar às pessoas e a um ritmo constante: basta clicar que a qualquer momento entro ‘no ar’ no Facebook." Através dessa ferramenta, o padre Júlio faz a transmissão de eucaristias, casamentos, batizados.
"Chego a ter 100 pessoas a ver em direto. Em diferido chego às 600", conta quem tem quase cinco mil amigos na rede social. "Tal como a porta da Igreja, a minha página de Facebook também está sempre aberta. Não concordo quando dizem que é virtual, estamos a falar de pessoas na mesma e muitas enviam mensagens a pedir conselhos. Dizem o que não teriam coragem de dizer pessoalmente, é quase uma confissão", explica o padre de 58 anos. "Queria que uma pessoa que escrevesse ‘padre’ no Google por precisar de falar com um encontrasse ajuda e, por isso, estou na internet. É uma porta de entrada. O meu ‘produto’ é um Jesus Cristo sempre pronto a dar oportunidade às pessoas seja por que via for".
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