A região entre os rios Tigre e Eufrates, actual Iraque, foi, há mais de cinco mil anos, palco do nascimento da civilização. Aí surgiram a vida nas cidades, a escrita e uma organização social complexa. Hoje, o cenário é de destruição
A região que se estende desde o sul da Turquia e norte da Síria até ao Golfo Pérsico, a que os gregos viriam a chamar Mesopo-tâmia (‘entre os rios’), foi habitada desde épocas tão remotas que é aí que a Bíblia (Livro do Génesis) situa o Paraíso, o ‘Jardim do Éden’.
Apesar de rodeada de montanhas a norte e a oriente, a planície aluvial dos dois rios sempre foi uma zona de passagem, aberta à circulação de povos em busca de terras férteis. Na região sul, onde hoje se situa Bassorá, começa a estabelecer-se – cerca de 3500 anos antes da nossa era –, um povo de origem desconhecida: os sumérios. Atraídos pela fertilidade do solo e pelo clima quente, favorável ao cultivo dos cereais, vão organizar-se em pequenas cidades – que dominavam o território em seu redor –, e enfrentar os desafios que a natureza lhes colocava. Com efeito, todos os anos, entre Março e Abril, essa região era inundada em resultado do degelo verificado nas montanhas do norte, situação descrita nas mais antigas versões do Dilúvio.
Através de diques e canais, os sumérios controlaram as cheias e aproveitaram as riquezas dos rios. A ausência de pedra e de madeira para a construção – praticamente só abundavam a argila, os juncos e um líquido negro (o petróleo de hoje) – leva-os a recorrer à contrução em adobe, lama amassada com palhas e seca ao sol. A fragilidade deste material, face à erosão do tempo, explica o facto de só terem chegado até nós poucos vestígios desta civilização, a qual só começa a ser conhecida em meados do século XIX.
Para além da agricultura, os sumérios dedicavam-se ainda à criação de ovelhas e cabras, à olaria, ao trabalho dos metais e à tecelagem. Através do comércio com outras regiões, trocavam os excedentes agrícolas por metais, madeiras e pedras preciosas. O desenvolvimento destas actividades enriquecia os proprietários, ao mesmo tempo que se ia criando uma organização social em cujo topo se encontrava o rei.
O NASCIMENTO DA ESCRITA
Sacerdotes e nobres constituíam as classes sociais mais ricas e importantes, auxiliadas nas suas actividades por um novo grupo emergente: os escribas. O complexo sistema económico – com pagamentos, impostos, transacções e depósitos de mercadorias – levou ao nascimento da escrita, cerca de 3100 a. C. Inicialmente, consistia apenas num sistema simples de registo, inscrevendo com um estilete sinais em forma de cunha numa placa de argila. Esta primeira escrita evoluirá para um conjunto de várias centenas de sinais, capaz de representar ideias e sons, permitindo a redacção de belos textos literários e religiosos, e até a formação de ‘bibliotecas’ com milhares de placas de argila seca.
Na Suméria, a religião constituía o pólo organizador de todas as actividades. Para além de lugar de culto, os templos eram o local onde se exercia o governo e a Justiça, armazéns de géneros, local de trabalho de vários artesãos e mesmo banco, onde se realizavam depósitos de mercadorias e metais preciosos e se contraíam empréstimos com juros. Estas operações eram facilitadas por um esboço de sistema monetário, com anéis em metal, em que, por exemplo, os anéis de prata valiam o dobro dos anéis de cobre.
O modelo seguido na construção, fosse de templos ou de palácios, era o de uma torre com escadarias exteriores – o zigurate -, assente numa base que chegava a medir 50 por 70 metros. Com vários andares ou terraços, e decorados por vezes com plantas ou flores – é esta a origem dos famosos jardins suspensos da Babilónia – tinha no topo um pequeno compartimento destinado ao culto do deus protector da cidade. Do ponto de vista religioso, os sumérios adoravam dezenas de divindades cósmicas, representantes das forças naturais e dos astros. Tendo uma visão pessimista acerca do seu destino após a morte, não acreditavam na salvação, considerando que a recompensa por servir os deuses se recebia neste mundo, com uma vida mais longa e mais fácil.
HERANÇA CULTURAL
A adivinhação, a magia e a astrologia são alguns dos traços mais duradouros da religião, tendo esta última contribuído para o desenvolvimento dos conhecimentos astronómicos, ao ponto de permitir estabelecer a duração do ano em 360 dias, divididos em 12 meses, e a duração de cada dia em 12 duplas horas.
A par da escrita, desenvolveu-se o cálculo, de base sexagesimal, como o que hoje usamos na contagem do tempo.
Os sumérios conheceram a multiplicação, a resolução de equações e as operações com raízes quadradas. Previram os eclipses, usaram relógios de água e solar, criaram mecanismos para a elevação de água, a roda dos carros, bem como a roda e o forno de oleiro, entre outros aperfeiçoamentos ou invenções de que foram pioneiros.
Cerca de 2400 a. C. a organização das cidades-estado sumérias dará lugar a um império centralizado na cidade de Ur,
a que outros se seguirão, dos quais o mais famoso é o império da Babilónia, iniciado no século XVIII a. C. pelo rei Hamurábi, autor do mais famoso código de leis da Antiguidade. Mesmo depois da conquista desse império por povos estrangeiros, entre os quais os Assírios, a cidade da Babilónia, cujas muralhas demoravam seis horas a percorrer, continuou a ser, até ao século II a. C., o centro da vida cultural de toda a região entre o Tigre e o Eufrates, símbolo do esplendor da civilização nascida na Mesopotâmia.
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