Tem 78 anos e está há 34 à frente do FC Porto sem que polémica alguma o possa apear do cargo. nem os milhões de prejuízo que a SAD acumula, nem os fracos resultados desportivos põem em causa o reinado do dragão que queimou tudo à sua volta. Não tem sucessor. O mesmo não poderá dizer Fernanda Miranda. a brasileira, que levou o portista ao altar, pode ceder lugar a uma colombiana.
Sofre de esquecimento e não estamos a falar de memória. Num instante não quer saber da pessoa e do assunto. É estratega, não olha a meios para atingir os fins, o seu humor não chega para admitir que se brinque com ele. Parece forte, mas entre o parecer e o ser vai uma distância longa. Sente-se bem na zona do confronto, embora a sua posição seja à retaguarda.
Solidariedade é o substantivo que não o assiste, frisa um ex-colaborador. Faltou-lhe com Pôncio Monteiro, Artur Jorge, Fernando Gomes, Jorge Costa. Só para começar.
Na poesia, emociona-se com José Régio e António Nobre. Na pintura, elege Malhoa. A personagem histórica favorita é Nuno Álvares Pereira. Só de ver ao longe Rui Rio, ainda fica indisposto. Diz-se que desconhece o sabor do álcool. Rega jantares mas com San Pellegrino, a água mineral italiana.
Recita ‘O Cântico Negro’, de José Régio, com lágrimas que não são as de crocodilo. É ciumento. Ah, pois é. Não consegue conviver com a notabilidade alheia. Para evitar essa azia, não deixa que ninguém do clube se evidencie. Se no Benfica e no Sporting ex-jogadores assumem cargos e se destacam, no FC Porto a moda da tripa é diferente: "Essa situação não irá nunca acontecer. Pinto da Costa morreria de dor de cotovelo", sentencia um antigo jogador, que larga o aviso: "Atenção: existem dois Pinto da Costa. Aquele que quando precisa de nós nos trata com respeito e carinho, e nos faz crer que é o nosso melhor amigo. Depois o outro, que é calculista, que se vai distanciando e, se for preciso, ameaça."
Sobre o presidente do Futebol Clube do Porto que está há 34 anos a reinar na república das Antas, Manuel Serrão assume: "Pinto da Costa é uma personalidade irrepetível. Enquanto ele for vivo, eu não acredito que exista outro presidente igual." O comentador de televisão, conhecido por criticar o seu clube de coração pelos três anos de jejum de campeonato, não concorda que é o medo o travão para haver concorrentes: "É apenas por ele ser irrepetível, a razão de ninguém lhe fazerconcorrência. Pinto da Costa precisa de dizer que se vai embora para que apareça alguém." E esse é o seu maior defeito: não estar disponível para preparar a sucessão.
Muita fruta
Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa adora provocar e fazer chacota. É frontal, malabarista, trocista, um génio também por nunca ter sido condenado, não obstante as auto-estradas de processos judiciais envolvidos. Tem a fama de ser cínico, arguto, sagaz, intriguista, brilhante e romântico. Um antigo jogador portista prossegue a viagem do perfil: "Basta uma busca no YouTube e ver que Pinto da Costa está próximo – e estou a ser meigo – da corrupção." Refere-se a quilos de vídeos, mas sobretudo àqueles em que se ouve, por exemplo: "Fruta", "Fruta para dormir", "Rebuçados" ou "Café com leite". Os códigos ditos em conversas queriam obviamente subentender prostitutas para que o árbitro Jacinto Paixão se consolasse.
No Apito Dourado, o vergonhoso escândalo de corrupção no universo do futebol português surgido em 2004, o presidente do FCP tinha nas costas a suspeita de comprar árbitros. Os pagamentos seriam realizados com entregas de dinheiro, em cash, e, em alguns casos, amparados por serviços de prostituição.
Chamam-no Nuno em casa, mas os adversários clubistas preferem "Pintinho". A maioria diz que é o ‘Papa’. No liceu, foi o Jorge. Nasceu Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa. O nome completo sabe de cor quem tão decepcionado se encontra: "Destruiu a mística. Os interesses pessoais e económicos ganharam ao próprio clube. Mais vos digo: Pinto da Costa é um ingrato. A última ingratidão passou-se com o Helton, que caiu em mais uma armadilha e agora calou-se." Também Rodolfo Reis, comentador televisivo e campeão pelo FC Porto duas vezes (final da década de 70, início de 80), exteriorizou o seu descontentamento pela maneira como o clube tratou o guarda-redes, após tantas épocas a impedir golos na baliza azul-e- -branca. "O FC Porto vai ter de fazer uma festa ao Helton o mais depressa possível. Ele merece tudo do melhor, foi maltratado pelo FC Porto, mas depois…" O depois está unido a esta situação bipolar: Helton recorreu às redes sociais para divulgar que ficou a saber do fim da sua ligação contratual com o FC Porto via imprensa. Posteriormente, postou um vídeo a confirmar que estava tudo bem e que já havia esclarecido tudo com o presidente.
Não é a vida; é a rotina. O procedimento não muda nem nas presentes vacas magras. Um ex-futebolista alvitra que o fracasso de vitórias no FCP se deve à saúde do presidente. Entrou no bloco operatório por causa da máquina cardíaca e da vesícula. Verdade. "Força amorosa, graças a Deus, não lhe falta", gargalha um treina-dor, que ainda ironiza: "Na parte sentimental, não é tão bom como no futebol."
Mulheres, mulheres...
Casou-se, em 1964, com Manuela Carmona Graça, e o amor deu-lhe um filho, Alexandre, que depois de anos de afastamento do pai aterrou no FC Porto e atrai quilómetros de inimizades. Apaixonou-se depois por Filomena, nasceu-lhes uma filha, Joana, e divorciou-se da primeira mulher para se casar com a nova paixão. No ‘Calor da Noite’, agasalhou-se com Carolina Salgado. Perdeu--se de amores pela antiga bailarina, e o relacionamento do casal, inclusive o estado das suas unhas dos pés e as andanças comerciais expostas como nada ortodoxas, ficaram no livro ‘Eu, Carolina’, quando o romance acabou. Dos negócios à intimidade mais comezinha: "[Pinto da Costa tinha] problemas de flatulência [...], de vez em quando descuidava-se [...] em cerimónias oficiais, levando-me a acender, de imediato, um cigarro para disfarçar o odor. Cortava-lhe as unhas dos pés e aparava--lhe os pêlos das orelhas." A leitura não era bonita.
Regressou depois para os braços de Filomena, mas a separação oficial, e final, tornou a acontecer. Diria sim e ámen em Touros, Brasil, a Fernanda Miranda. A união consumada em 2012 resistiu até há pouquíssimas semanas.
A jovem brasileira, agora com 30 anos, ter-se-á visto trocada por uma quarentona colombiana, realidade retratada por olhos que a viram como um avião de fazer abrir a boca a mortos. Cinco mil euros, uma casa e um carro constituem as exigências de Fernanda, a legítima, mas, tal como garante um amigo: "Será quase impossível. O homem não é maluco." Conforme o Correio da Manhã noticiou esta semana, o velho dragão está protegido pelo artigo 1720 do Código Civil, que diz: "Consideram-se contraídos sob regime de separação de bens os casamentos celebrados após os 60 anos do nubente." Ou seja, Fernanda não terá direito a quaisquer bens adquiridos durante o casamento que não estejam em seu nome.
Na adolescência, enquanto aluno no Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, o seu logótipo pessoal evidenciava-se: "Não o analisei muito, mas o suficiente: já tinha uma personalidade marcada. Era líder, não era seguidor e não era menino de fazer o que lhe diziam." O padre Belo, de 91 anos e memória no início dos anos 50, e que durante um ano auxiliou o prefeito do colégio jesuíta, remata: "Ele [Pinto da Costa] foi convidado a ficar em casa." Ou seja, expulso por indisciplina. O sacerdote não se surpreendeu com o futuro do antigo aluno: "O seu temperamento procura dominar os acontecimentos, e isso é típico dos líderes." Críticas aqui são benzidas: "Como presidente, ataca de maneira violenta, para mim não a mais correcta."
Jorge Nuno Pinto da Costa, o quarto filho de José Alexandrino Teixeira da Costa e Maria Elisa Bessa de Lima Amorim Pinto, casal que mais tarde se divorciou, segue para estabelecimento de ensino em Lamego e termina no liceu Almeida Garrett, na Invicta. Antes dos 20 anos, começa a trabalhar no Banco Português do Atlântico, onde é dirigido por Artur Santos Silva, presidente do conselho de administração da Gulbenkian: "Fui director do Banco Português do Atlântico no final dos anos 60, numa altura em que o actual presidente do Futebol Clube do Porto era um elemento muito qualificado da área, em grande renovação, do processamento de dados. Era considerado um dos elementos mais valiosos dessa importante unidade." Geriu a Pincor, empresa do ramo das tintas, que terminou com consideráveis dividas à banca, e teve nas mãos outras empresas, algumas de electrodomésticos. Todas faliram. Por isso, adianta um portuense conhecido: "Durante cinco anos, não colocou um pé em Aveiro por causa dos processos por falências fraudulentas. Alguns sócios foram obrigados a fugir para o Brasil."
Em Portugal, aliás, no Porto, a estreia na bola deu-se aos oito anos, quando o tio Armando o levou a ver o Braga, em casa. Ao completar o 16º aniversário, a avó materna tornou-o sócio do FC Porto.
No dragão
Durante a sua juventude, Pinto da Costa acompanhou religiosamente o clube. Por volta dos 20 anos, integra a estrutura directiva do hóquei, mais tarde, chefia a secção de boxe e o departamento de futebol.
Em Abril de 1982, senta-se na cadeira da presidência do FC Porto. Vence o acto eleitoral por esmagadora maioria. Ganha as eleições, é bom recordar, em consequência de ter encabeçado uma rebelião contra Américo de Sá, que o eliminara da lista às eleições de 1980 devido ao palavreado assanhado. Américo de Sá, que se havia candidatado a deputado pelo CDS, morria de pavor que a língua de Pinto da Costa pudesse lesar a sua história política.
Os verbos usados pelo presidente continuam a ser escolhidos a dedo. É o maior, jura uma adepta na televisão. Mais do que não seja relativamente aos milhões... dos prejuízos: 58,4 milhões de euros em 2015/ /2016. O anterior recorde negativo era de 40,7 milhões de euros. Na época 2014/ /2015, a SAD também tinha contas negativas, em 19,4 milhões. Muito contribuiu a quebra de receitas da UEFA. Ao ficar-se pela fase de grupos da Champions, o dragão só arrecadou 11,6 milhões, longe dos 36,1 milhões em 2014/2015. Face ao ralo por onde se vai o dinheiro, um ex-guarda-redes espeta farpa: "A Altice antecipou aos dragões 37 milhões de euros de direitos televisivos e 10,5 milhões do patrocínio nas camisolas."
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