Videntes e ‘mediums’ com nomes esotéricos como Karamba, Bambo, Fofana ou Alaje, anunciam os seus serviços de ‘ocultismo’ nos jornais e prometem resolver ‘problemas impossíveis’. Afinal, quem são eles?
A vida não corre mal aos videntes da nossa praça. Só em Lisboa existem 43 consultórios de futurologia. Em época de crise, económica e espiritual, os portugueses não se importam de abrir mão a dezenas de euros e recorrem cada vez mais a estes gurus de túnica e barrete que prometem “resolver todos os casos sem solução”. Mas nem sempre é fácil falar com estes mestres que contactam com os astros. A simples menção da palavra “jornalista” fecha algumas portas. No gabinete do Professor Fofana, num 2.o andar a precisar de obras, à Alameda, somos recebidos como ‘aliens’. “Quem vos mandou cá?”, perguntou-nos rispidamente o assistente.
“Tínhamos combinado uma entrevista com o professor ”, respondemos enquanto o nosso interlocutor sussurrava ao telefone com o seu patrão, o vidente que apregoava nos jornais: “Aconselho mesmo nos problemas mais difíceis e desesperados!”. Exasperados ficámos nós quando soubemos que não queria receber-nos. “Não tem disponibilidade!”. Enquanto isso, um colega seu inspeccionava o nosso gravador. “Deve haver um mal-entendido. Ainda ontem falámos consigo e não havia qualquer entrave”. As palavras não surtiram efeito. Fomos ‘encaminhados’ para a porta, com palmadinhas nas costas.
O ‘dom natural’ de Alaje
Os ponteiros do relógio tinham avançado umas horas, e encontrávamo-nos agora no apertado consultório do Mestre Alaje, perto da Almirante Reis. A sua sala de trabalho, decorada com um enorme tapete africano, tresandava a incenso. O vidente, “que aconselha todos os casos que parecem não ter solução” parecia algo tenso. Mas ao mostrarmos o cartão de imprensa o ambiente desanuviou-se. O Mestre demonstrou ser pessoa de língua afiada: “O ano de 2003 será melhor que 2002. Haverá mais paz e reconciliação”, garante com ênfase e gestos grandiosos. Ao contrário dos colegas, que recorrem a tarot, cartas, mão, ou estrelas, para ler o futuro, Alaje não usa nenhum desses métodos. “Tenho um dom natural”, herdado por bisavós, avós, e pais, videntes naturais de Gabu uma região do Leste da Guiné-Bissau. “É um leite que tirei da mama da minha mãe.”
O Mestre chegou a Portugal, em 1985 e foi coleccionando clientes. “Recebo 26 cartas e trinta e tal telefonemas por dia de pessoas do Kuwait, Iémen ou Suíça. A minha fama é mundial.”, assegura. “Há pessoas que já recorreram a psicólogos e padres para resolver o seu mau-olhado. Sou o seu último recurso. E garanto que resolvo todos os problemas dos que aqui entram!” Sobre a concorrência, pouco tem a dizer: “Não me preocupo como é que os outros trabalham ou se têm ou não clientes. Mas não devo ser uma pessoa muito popular no meio porque nenhum deles é meu amigo.” O vidente diz só os contactar quando vai rezar à mesquita de Lisboa. “Tenho uma ligação à religião muçulmana. Ao contrário do que se pensa, o Islão significa paz e os muçulmanos são irmãos.”
O consultório do Professor Bambo, a caminho do Marquês de Pombal, é o mais sofisticado e concorrido. Na sala de espera várias mulheres esperam pela sua vez. O gigante medium, que enverga uma majestosa túnica branca e fala em francês, garante que trabalham com ele “dezenas de pessoas”, não faltando um “departamento de comunicação” e “40 linhas telefónicas”. O cheiro a incenso, fotografias de gurus africanos e os caracteres árabes espalhados pelo consultório são em tudo semelhantes aos do Mestre Alaje. “Sem querer ofender ninguém, considero que o meu trabalho é mais sério que o do resto da concorrência,” declara no início da conversa. A família do Professor Bambo imigrou da Guiné-Conacri e do Senegal e instalou-se em Paris há algumas décadas.
“O meu avô, que era um prestigiado chefe religioso, foi confidente de Georges Pompidou e adivinhou que ele iria presidir a República Francesa.” Como prémio, o estadista gaulês “ofereceu-nos uma vivenda.” O seu método de trabalho tem raízes em África mas “foi modernizado na Europa”. Como é que ele funciona na prática? O segredo continua a ser a alma do negócio. “Mas garanto-lhe que tem resultados garantidos!”. Bambo faz sessões ocultas em Lisboa mas também numa rádio gaulesa de emigrantes, adivinhando as perturbações dos ouvintes, bastando para isso “saber apenas a sua data de nascimento”. Hoje, “até os mais cépticos” recorrem aos seus serviços. Mas alerta aos detractores: “Tal como os médicos não conseguem curar a sida ou um cancro, também não tenho a poção mágica para todos os males!”
E o futuro? Bambo mostra-se menos optimista que Alaje: “Não tenho ilusões sobre 2003. A crise mundial afecta as pessoas no plano financeiro e até amoroso. Elas não estão tranquilas. Mas estejam calmos e serenos. Não existirão acontecimentos dramáticos para o ano que se adivinha.”
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