Se hoje me tratam com mais respeito, devo-o ao ‘Aliciante’”. Quem fala assim é Madalena Palma, 31 anos, jornalista. Ou simplesmente Mad, nick pelo qual é conhecida no imenso universo que é a blogosfera, onde se move há quatro anos. Viver numa cidade pequena não é fácil, sobretudo quando se é jovem e conhecida: “Ouvia falar de mim e pensava: estas pessoas não me conhecem. Iniciei o blog para mostrar um pouco mais de mim. Antes, tudo o que eu escrevia estava guardado nos meus caderninhos”.
Quatro anos depois, a experiência rendeu: “Sinto que as pessoas me lêem. Deixei de escrever para mim. Tenho um público”. Madalena deixou de ser apenas Madalena Palma, a jornalista: “Isto está a levar um caminho que eu já não consigo travar. Uma vez, uma pessoa disse-me: “Se faço isto, é não só pelo respeito que tenho por si, mas pelo respeito imenso que tenho pela Mad’”.
Para Madalena, hoje não se pode dizer que há blogs “de mulheres”, nem se podem arrumar em categorias: “Cada vez mais, os blogs estão individualizados”. Deixa, contudo, uma marca bem feminina no ‘Aliciante’, ao ilustrar os seus poemas e pensamentos com fotos de mulheres nuas. “Sou assumidamente louca por homens”, afirma, “mas acho que a sensualidade está no corpo da mulher”. E passa “horas à procura da foto ideal para uma determinada composição”.
Declara que o ‘Aliciante’ tem mais de mil visitas por dia. E que tem “mudado mentalidades”.Um sucesso destes é ao mesmo tempo uma responsabilidade: “O ‘Aliciante’ tem de ser alimentado todos os dias”. Considera o blog “uma ferramenta extraordinária, que também é poder”. Mas está consciente que é preciso tomar cuidado, porque “há quem viva nisto o dia todo”. E “há muito mais vida para além da blogosfera”.
Teresa C também não tem tempo para se perder na blogosfera. É de noite que se dedica ao blog, já que de dia tem a sua actividade profissional e familiar sobre as quais prefere manter reserva. Uma “vida banal”, afirma. Já a Tati, está longe da banalidade. No estilo, na iconografia com que ilustra os posts, que “alguns definiriam como kitsch”, mas que, para a autora, é mais o reflexo do seu gosto pelo “glamour”, por uma feminilidade esquecida. Tudo começou como uma brincadeira com uma amiga: “Tentámos fazer uma espécie de retrato de uma revista feminina, uma coisa pirosíssima”, recorda. “Até nos nomes era no gozo: eu era Tati, ela era Lulu”. O estilo do ‘Sem Pénis, nem Inveja’, um título ‘roubado’ a uma crónica de Clara Ferreira Alves era uma paródia “à literatura dita feminina, fútil”. Quando a amiga a “abandonou”, Teresa ainda tentou continuar no mesmo tom, mas cedo compreendeu que aquilo não era para ela. E achou o seu lugar. Conquistou ao longo dos últimos três anos e meio na blogosfera um universo de 500 leitores por dia que brinda com uma escrita “que alguns poderão ver como despudorada, mas que é muito depurada”.
Pensa o blog como “um espaço de liberdade”, no qual quer manter total privacidade, mas também como um meio de afirmar as suas preocupações com “a dignificação da mulher” na sociedade e a evolução das mentalidades. Acredita na afirmação de um eterno feminino, um apelo que não faz directamente, porque tem “vergonha”, mas que exprime através dos quadros que acompanham os textos, escolhidos de forma a “exaltar o que há de bom e de belo no sexo feminino”. Para ela, “as mulheres têm uma forma de intervir mais plena”, ao passo que, “para os homens, é pura actividade mental”.
Catarina Campos é o que se pode chamar uma hiperactiva da blogosfera. Quatro anos, quatro blogs. Cada um o seu estilo e os seus leitores. Entre eles, o mais feminino, até por ser um colectivo de mulheres, será o ‘Sociedade Anónima’, ou ‘SOCA’, como é chamado familiarmente por uma legião de visitantes e comentadores, homens e mulheres. 100nada é o nome com que assina, embora assuma plenamente a autoria de todos os seus blogs. ‘100nada’ é também o nome do primeiro blog, individual, que ainda mantém e que define ironicamente como “o blog de um gajo”. Uma opinião compartilhada por Mad, que diz ser este “o blog mais masculino da blogosfera escrito por uma mulher”. ‘Sociedade Anónima’ não. Mantido unicamente por mulheres, “o blog não tem qualquer temática. Vai seguindo a onda. Talvez agora tenha virado mais para o sexo, mas compreende-se: é primavera”. Catarina afirma que “os comentadores são óptimos”, mas admite que já tiveram “imensas faltas de respeito”. Sempre por parte de homens. Acha que é “fácil perceber quando um homem escreve a tentar fazer-se passar por mulher”. Já o contrário nem sempre. Porém, é de opinião que não tem uma escrita feminina nem masculina. Mas que é ela própria em todos os blogs. Assim como considera que quem está na blogosfera costuma mostrar-se como é. Por isso, avança sem receios quando tem oportunidade de conhecer mais alguém do meio.
CKinUK. Uma mulher do Norte, desbocada como só as mulheres do Norte sabem ser. Vive em Londres, ou melhor dizendo, na “Bifalândia”. Com o seu Elvis, holandês, aliás, “Tulipe”. O seu blog é um mundo muito próprio, escrito ao sabor de um teclado inglês, sem acentos, e quem o segue sente-se a fazer parte da vida desta “Priscilla, rainha do deserto”. Apaixonada por sapatos, orgulhosa da sua condição de mulher simultaneamente sofisticada e sem papas na língua, cedo ganhou lugar de destaque entre os milhentos leitores e comentadores que conquistou com o seu sentido de humor e forte personalidade. Não se atrapalha em dizer o que pensa, seja sobre o aborto ou sobre as presidenciais francesas. Ame-se ou odeie-se, deixa um aviso, logo à boca do blog: “Não se metam com ela”. Quem a lê desconfia no entanto que é cordeiro a vestir pele de lobo. No fundo, diverte-se com tudo, e sobretudo, ri de si própria. Assume o seu blog como “de gaija”, o que se nota, já que é “cor-de-rosa da cabeça aos pés”. Acha que as mulheres na blogosfera marcam a diferença: “Intervêm muito na política, dão muito mais facilmente opinião, metem o bedelho onde não são chamadas, sentem, e isso vê-se tudo pelo blog. Também fazem mais follow up: se alguém tem um problema, elas vão lá dar-lhe apoio”. CK considera que um dos pontos positivos da blogosfera no feminino é precisamente “o circuito de apoio e afinidades que se cria”. Afinal, as mulheres na blogosfera são, antes do mais, mulheres.
QUEM PENSA ASSIM... SÃO ELAS
"As calças remeto ao escuro dos armários. Quero vestidos, saias que esvoacem ou moldem a figura, sandálias de salto presas por tiras aos pés. Preciso de alças e ombros nus." (In Sem Pénis, nem Inveja)
"Outra técnica libertadora da neura é o uso do sapatinho apertadinho como o C. Funciona mesmo bem. O sapatinho bem apertadinho – praí um número abaixo – livra qualquer mulher de qualquer neura. Há também a dor de dentes, mas feliz ou infelizmente a dor de dentes ainda não se pode self induce." (In CK in UK)
"Quando escrever à minha alma dir-lhe-ei: “Memoriza apenas o que de bom se passa comigo” Quem ler a carta que escreverei à minha alma dirá: “Mas é com as coisas más que crescemos” Mas onde será que isso está escrito? Se vivêssemos apenas de alegrias não seria apenas isso que transmitiríamos uns aos outros? Não é a alegria contagiante? O amor quando partilhado divide-se ou multiplica-se?" (In Aliciante)
"Xem-me cá pensar o que é que um gajo teve assim alegre no dia: iadaiada com as amigas, sim, iadaiadaiada também com mais amigas, também sim, sapatos (...) Sapatos ou é de mim ou é de alguma coisa, que são todos foleiros. Ou são giros e têm saltos foleiros, ou são foleiros com saltos giros, ou então são aqueles sapatos absolutamente horrorosos depois de uma pessoa os virar e pensar, fod... caneco, digo, duzentos euros???? Brinquemos? Que sapatos mais totalmente feios!" (In Sociedade Anónima
SELECÇÃO DE DIÁRIOS FEMININOS NO CIBERESPAÇO
“(...) pedir contas a um crocodilo? Se não tem autoconsciência, como pode ser responsabilizado por comer a perninha de alguém(...)?” (http://bomba-inteligente.blogspot.com/
“Porque nós somos lindas... Porque nós mulheres merecemos tudo de bom... e porque somos vaidosas... E porque os homens não nos entendem. (...)” (http://cerebrofeminino.blogs.sapo.pt/
“Um pormenor íntimo: farto-me facilmente. Um dos mais eficazes aceleradores de tédio, para mim, é a espera (...) Isto aplica-se nos amores, nas amizades.” (http://www.controversamaresia.blogspot.com/
“Atrevo-me a dizer que chupa-chups são verdadeiras armas brancas de assédio sexual. (...) O rapaz viu-se aflito e, como já anda desesperadinho, zás!!!” (http://gajaspodresdeboas.blogspot.com/
“(...) estão cada vez mais fúteis e poucos são os que ao perceberem que acabaram de se apaixonar por um trambolho assumem isso de imediato (...)” (http://osexoeaansiedade.blogspot.com/
“Nesta coisa dos blogs é chato quando alguém se adianta a escrever um post semelhante ao que andámos a pensar” (http://misspearls.blogspot.com/)
Catarina Campos tem 43 anos, é economista e mãe solteira de um filho único de seis anos. Já vai no quarto blog: “Gosto imenso de escrever, mas não sou muito organizada. Os blogs ajudam-me”.
http://soc-anonima.blogspot.com/
http://100nada.blogspot.com/
http://getasecondlife.net/
http://omeufilhoeeu.blogspot.com
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