Há um fio vermelho que une Helena, Imma, Patrícia e João – todos eles têm filhos com pele diferente da sua. Nunca fez diferença. O amor filial não tem cor e dispensa a biologia.
Filomena Faustino fez há dias 40 anos. Há mais de oito meses que se inscreveu na Segurança Social de Leiria para uma adopção singular. O seu processo que por lei deveria estar findo em meio ano, ainda não começou. Filomena Faustino quer ser mãe, a cor do seu filho tanto lhe faz. “Os pais preferem que a criança seja clarinha para não parecer que ela nasceu doutra barriga. No meu caso, clarinha é que daria nas vistas. Eu sou mulata.”
A história de Filomena ainda está por contar, o seu filho ainda não chegou, mas nas casas de Helena, Patrícia, Imma e João Amorim, a história já foi escrita com tinta cuja cor não importou. Estes pais de uma forma ou de outra, quando enfrentaram a burocracia, disseram que a pele não interessava, que não fazia mal que o seu filho não fosse, na cara e no corpo, igual ao resto da família.
MARIA, A PRIMEIRA A SAIR DE MACAU
Helena Pinto casou com José Manuel Vasco em 2001. Quase quinze dias depois ficaram ambos ‘grávidos’. Um telefonema de Macau do amigo João Amorim concebeu o milagre. Num orfanato, a milhares de quilómetros, estava uma menina que ninguém queria, a que hoje está na casa do casal. Maria, a menina de etnia chinesa, está sentada no sofá, muito sossegada, na sala que dá para uma marquise debruçada sobre o casario de Lisboa.
“Sempre quis adoptar uma criança...” Aos 33 anos, Helena Pinto fez a sua primeira tentativa. Ela tinha uma filha de 13 anos e estava sozinha, sem marido. A pretensão esvai-se na lei, naquela altura a adopção singular só era permitida a partir dos 40. Quando chega à idade, a lei muda. “Entretanto conheci este meu marido, o Vasco, e o meu desejo tornou-se num projecto comum.” Helena e Vasco viviam em união de facto, por isso Helena tentou mais uma vez a adopção singular. E não conseguiu. “Disseram-me para esperar até que a legislação mudasse. E lá mudou em 1998, sem que nada mudasse para mim. Tentavam sempre tirar a ideia da minha cabeça, achavam que eu era louca por não me importar que a criança fosse doutra etnia ou tivesse algum defeito físico.”
À terceira tentativa aceitam o processo de adopção a Helena que entretanto tinha já casado com Vasco. “O que não foi lá grande coisa, porque por lei teríamos de esperar quatro anos depois do casamento até podermos adoptar.” Sentada na sala de sua casa, à beira da sua menina, Helena sorri com o passado.
A cerimónia do casamento estava ainda fresca quando tocou o telefone. Helena tinha conhecido João Amorim em Macau. É aquele amigo que chama, para lhe dizer que lá longe está uma criança à espera de pais. “Ficámos logo grávidos. Foi em 2001. Ela tinha um ano e pouco. Só conseguimos ir buscá-la dois anos depois.” O casal enfrenta a batalha da papelada, o processo reinicia-se agora junto da adopção internacional. A complicação era de tal ordem que raiava o caricato – enquanto a documentação ia e vinha entre Macau e Portugal, o registo criminal com duração de três meses ia sucessivamente caducando. Helena e Vasco iam sucessivamente pedindo a emissão de um novo. “A Maria foi a primeira criança a sair depois de 1999, com a entrega da administração do território à China, o que complicou o processo.”
Durante dois anos Helena e Vasco foram pais à distância, falavam por telefone com a pessoa que tomava conta de Maria no Berço da Esperança – nome propício ao orfanato onde estava a menina – viram-lhe a cara através das fotografias que João Amorim lhe tirou.
Maria foi abandonada à nascença no hospital – tinha um defeito congénito. No TAC via-se que no desenho em forma de borboleta do cérebro havia uma asa ligeiramente comida. “Nós éramos os únicos que a queríamos. Quando ela estava em adopção internacional, houve quatro casais que se mostraram interessados mas, quando souberam do problema, desistiram. A Maria estava marcada para ser nossa filha.”
O último dia das três semanas em Macau foi o pior da vida de Helena. Maria não tinha bilhete de identidade e por isso, também não tinha passaporte, nem visto. Helena correu Macau com a autorização do tribunal, com o coração na boca e as lágrimas seguras pela determinação. Bateu até à porta do governador. “Faltavam três ou quatro horas para o avião partir para Lisboa, quando um assessor deu ordem pelo telefone a toda a gente. Eu fui buscar os papéis e corri para o aeroporto.” Helena interrompe o relato por um segundo, como se a aflição e o posterior alívio fossem ainda vivos. A 9 de Setembro de 2003, o casal e Maria Siosut Pinto Vasco aterravam em Lisboa. Juntos. A menina já chamava ‘mami’ a Helena.
Em Lisboa, Maria faz fisioterapia, o seu cérebro borboleta de asa partida é como um sinal de nascença. Ela mantém apenas um ligeiro problema de equilíbrio, que tendencialmente passará.
Aos quatro anos, Maria Siosut sabe perfeitamente donde vem. “Ela traz alguma coisa da cultura e do meio onde viveu, mas vai perdendo. Os miúdos que vivem em instituições são muito autónomos – calçam-se, vestem-se, limpam os ouvidos, quase tomam banho sozinhos se se deixasse. Safam-se e não exigem nada. Pouco a pouco, nisso, ela está a ficar como todas as crianças.”
O seu cabelo liso, a cara redonda, nada se assemelham ao cabelo e às feições da mãe. O genes são diferentes. Isso não impede Helena de achar que Maria faz lembrar a avó. “Ela herdou coisas da minha mãe. Por exemplo, quando ela diz não é não, e ponto final.”
A menina, que olha Lisboa da casa perto do Castelo de São Jorge, está a esquecer a língua materna. Para ir buscá-la, Helena e Vasco largaram tudo e atrasaram a renda da casa para pagar a viagem. Uma filha não tem preço. Quando veio embora de Macau, Helena deu flores a quem tinha tomado conta da sua filha no Berço da Esperança.
Abril e o fio vermelho Mar e Abril são as filhas de Imma Feixas, uma catalã a viver em Portugal há três anos. “A minha primeira filha formou-se na minha barriga, a outra um bocadinho mais acima, no coração.” Mar tem os cabelos aos caracóis, é alta e magra nos seus cinco anos, os olhos enormes e azuis como um oceano. Abril tem dois anos, a cara redonda, cabelo escuro e rebelde que se desprende dos totós, os seus olhos são dois traços pestanudos quando se ri. A boca parece uma rosa. “Mas quando a abre!...”, diz Imma, sentada no sofá da sua casa amarela na Linha de Cascais. E Abril abre-a, trocista, ao ouvir o comentário. “Sempre tive o desejo de adoptar um bebé. Mesmo em miúda era já muito claro para mim que um dos meus filhos viria um dia de muito longe.” Abril chegou da China. Levou dois anos a chegar.
Um pedido de adopção à Segurança Social espanhola, seguido de um certificado de idoneidade, configurou o processo remetido para aquele país – dez documentos via correio deram entrada a 28 de Novembro de 2001. O processo de Imma recebeu o número 1709. Quinze meses depois tinha nas mãos a fotografia de Abril. Imma chorou de alegria e de tranquilidade – a sua filha já tinha um rosto, já sabia quem ela era. “Apesar de estarmos na altura a residir em França (o pai da família trabalha numa multinacional e muda frequentemente de país), tivemos muita ajuda da nossa comunidade (catalã), da Associação de Famílias Adoptantes na China e da embaixada espanhola em Paris. Nunca nos sentimos desamparados.”
Abril entrou na família há dois anos. A mãe, Imma, guardou tudo o que tinha a ver com o seu processo de adopção, registou todos os momentos, todos os sobressaltos e as alegrias do processo, porque achava que a sua filha chinesa merecia ter o diário da sua origem. O registo compulsivo vai ser publicado daqui a dois meses, em livro pela editora portuguesa Gótica. E porque Abril estava destinada a ser sua – acredita Imma – o livro chamar-se-á ‘Fio Vermelho’ como o provérbio chinês que diz que duas pessoas, quando estão destinadas uma à outra, estão unidas por um fio vermelho que, por muito que se embrulhe, nunca se parte.
Imma chegou à China no dia em que Abril fazia nove meses. A menina foi abandonada à porta de um orfanato. Quem a abandonou pregou-lhe na sua roupa um papel encarnado com a data e a hora do nascimento – a cor do papel significa um desejo de sorte. “Pela maneira como ela foi abandonada, acreditamos que foi uma decisão muito difícil para os pais biológicos, já que o abandono de um bebé é seriamente penalizado na China. E foi também um grande risco deixá-la assim à porta, por forma a que ela fosse encontrada rapidamente.” Naquele país o abandono paterno é penalizado com uma multa que pode corresponder a dez anos de salário. Imma acredita que Jing Wu Hua – o nome chinês de Abril – foi vítima da política chinesa do filho único. Se o casal tiver mais que uma criança, também é multado.
Imma nunca conheceu o orfanato onde a sua menina foi abandonada três dias depois de nascer. Abril estava numa família de acolhimento, a soleira da porta onde ela foi deixada ficava a sete horas de carro. Durante quatro dias, Abril chorou, estranhava o casal espanhol que a queria. Um dia Imma pegou-a e a bebé aninhou-se. Imma trouxe-a para Portugal, depois de fazer um donativo de três mil dólares ao orfanato. A mãe de Abril não gosta de falar em dinheiro – não comprou a filha, gosta de pensar que pagou pelas outras crianças que lá ficaram.
“Estas muy guapa, amor!” Abril entra a saracotear-se nas suas calças de ganga com folhinhos na bainha. Mar acompanha-a e quem a vê, protectora, no seu papel de irmã mais velha, não adivinha as lágrimas que ela verteu quando os pais chegaram a casa com um bebé de cabelo espetado nos braços. “Ela passava o dia inteiro a dizer: ‘Eu não gosto nada da Abril, mas eu não gosto nada da Abril’.”
No sossego da sua casa a poucos metros do mar, Imma olha as suas duas filhas, tão diferentes. Em Espanha, a diferença daria pouco nas vistas. “No ano passado cerca de três mil crianças chinesas foram adoptadas por espanhóis.”
Mar e Abril são como todas as irmãs. “Há dias em que guerreiam por causa dos brinquedos e depois são capazes de se abraçarem e trocarem um beijo, porque sim, porque lhes apetece.” Elas não vieram da mesma barriga, nem compartilham os genes, mas como diz a mãe de ambas, Imma: “Compartilham o seu passado, o seu presente e o seu futuro… e o nosso”.
NUNO ENGRAVIDOU A MÃE DURANTE TRÊS DIAS
Nuno entra na sala com uma grande caixa cheia de dinossauros em miniatura e entorna-a no tapete. Ele tem quatro anos. Em 2001 chegou àquela casa em Setúbal, ao colo de uma assistente social e ficou filho de Patrícia Alexandra e Jorge Soares; irmão de Raquel, então com 19 meses. “Tenho presente a imagem da primeira vez que o peguei ao colo, como tenho da primeira vez em que peguei na minha filha, depois dela ter nascido. O sentimento é o mesmo.”
Patrícia sempre quis ter um filho adoptivo, vontade que coabitava com a certeza de que também iria engravidar. Em pequena tinha lido todas as histórias da órfã Anne Shirley e sonhava que um dia havia de fazer sua uma menina que não tivesse pais.
Quando casou em 1995, o filho biológico não apareceu à primeira. Quando fez três anos de casada entrou com os papéis para adopção – menina, de preferência pequena, não fazia diferença a etnia. Seis meses depois de ter dado início ao processo de adopção, engravidou de Raquel. “Como fiquei grávida, as assistentes sociais resolveram interromper o processo nas nossas costas, queriam ter a certeza de que a vontade de adoptar ainda se mantinha. Em Portugal tem-se a ideia que só se adopta quando não se pode ter um filho.”
Sentado ao lado da mulher, Jorge Soares lembra, com o ar de quem ainda não apagou bem a mágoa, que só souberam que o processo tinha sido suspenso porque Patrícia encontrou, por acaso, na rua, uma das responsáveis da segurança social e a interpelou.
E então houve um dia em que entre as fraldas e as papas de Raquel, o casal recebeu uma chamada telefónica. A Segurança Social queria marcar nova visita domiciliária, para ver como estava a família depois do nascimento da menina. “No fim da visita disseram-nos que tinham uma criança para nos propor. E perguntaram-nos se a podíamos receber um dia ou dois depois.”
Jorge lembra o rebuliço da notícia, dizer que não, que só tinham roupa para um bebé, um berço e um carrinho ainda ocupados, era deitar fora a oportunidade tão esperada de aumentar a família. Disseram que sim. E depois as assistentes mostraram-lhe a fotografia de um menino, com quase um ano, tão diferente da menina de cabelos castanhos e pele branquinha que eles tinham lá em casa. “Fiquei grávida outra vez, durante três dias, aqueles que passaram até ele entrar pela nossa porta a dentro.”
Nuno foi entregue para a adopção quando nasceu, em Portugal. Um ano depois teve uma família. Mas a memória começa cedo. Durante os primeiros tempos na nova casa, ele dedicava mais afeição aos homens carecas que ao pai com cabelo quanto baste. “Uma vez veio cá um homem da TV Cabo que era careca e ele não o largava. Se o homem quisesse tinha-o levado com ele. E tinha também especial predilecção pelo tio, que também tem falta de cabelo”, conta Jorge. Ao conhecerem o passado do seu menino, perceberam este afecto inusitado por tamanho azar capilar – desde o dia em que nasceu até ao dia em que chegou à casa da sua família, o único homem que Nuno tinha visto era o pediatra careca.
Nuno continua no chão com os seus dinossauros. Não fala, mas os pais percebem que está atento à conversa que sobre ele versa. Contaram-lhe a história do seu passado, de forma como se conta a uma criança de quatro anos. A irmã, Raquel, menina pragmática, acha a coisa muito natural. “Uma amiga minha está grávida doutro rapaz e a Raquel virou-se para ela e disse-lhe: ‘Olha, problema teu, se tivesses adoptado já podias ter escolhido’.”
Contaram a história ao Nuno porque dentro de pouco tempo, quando ele for para a escola, a diferença entre ele, o seu pai, a sua mãe e a sua irmã será mais notada, e as perguntas inevitáveis. “Já hoje olham para nós. Mas não temos tido nenhuma experiência negativa.” Boa-vontade a de Jorge, que já nem se lembra muito da vez em que procuravam uma ama para o seu filho, logo depois dele ter nascido para a família. “A senhora disse-nos que sim, até nós dizermos que ele era mulato. Aí, disse que não, que não era por ela mas por causa dos outros pais.”
No quarto dos seus dois filhos, Jorge e Patrícia riem-se enquanto os vêem a brincar com um Lego. Tivessem eles dinheiro, saísse-lhes o Euromilhões, voltariam a fazer nascer de dentro deles um filho e a trazer ainda outro para dentro das suas vidas.
SAU LEE NÃO QUER FALAR CHINÊS
João Amorim está na Fundação Oriente, onde trabalha. Na mesa do seu escritório mostra uma fotografia de Sau Lee Menezes de Sequeira Amorim, uma pré-adolescente de 11 anos, com os cabelos negros pelas costas, emoldurada por uma sebe de flores orientais – parece um postal.
Em 1994, João e Maria João decidiram adoptar por não conseguirem ter filhos. Viviam em Macau, João era delegado da fundação. “Foi um problema porque havia poucas crianças para adopção. Ali, a realidade é diferente da da China, os níveis sócio-económicos da população superiores.” E a administração portuguesa preferia as candidaturas de pais chineses.
João e Maria João estiveram à espera três anos. João desesperava e mantinha já alguns contactos informais em Pequim, esperançado na facilidade de adopção propiciada pelas autoridades chinesas. “Foi nessa altura que nos chamaram.” O bebé de ano e meio que para eles escolheram estava no orfanato Berço da Esperança, ao colo de uma ama filipina e rejeitava-lhes os braços. Com o mundo no chão, João e Maria João sentaram-se na sala – o bebé que poderia ser deles não queria o seu colo. “Até que uma menina, que já tinha três anos, começou a rodear a minha mulher, a brincar com os brincos dela, a espreitar-lhe a mala.” O namoro terminou no colo desocupado de Maria João.
Dois dias depois, Sau já lhes chamava de pai e mãe.
Sau foi para o Berço da Esperança com dois anos, depois de ter sido abandonada pela mãe numa pessoa que acabou por também não poder tomar conta dela. João e Maria João não sabem muito mais do passado da filha de etnia chinesa. “E talvez seja melhor.”
A menina que os escolheu no Berço da Esperança falava chinês. João nunca conseguiu que ela se lhe dirigisse neste idioma. “Eu percebia que ela entendia a língua. Lembro-me de ir ao supermercado e as funcionárias das caixas falarem com ela. Ela dizia com a cabeça que sim ou que não, mas não abria a boca.” A prova de que a suspeita tinha cabimento está em vídeo. Aconteceu certo dia, quando João passeava com Sau. Num momento de distracção, devidamente filmado, ela trauteou as cantilenas chinesas que tinha aprendido no tempo em que ainda esperava por pais.
Filomena Faustino continua sem ter história para contar. A socióloga acredita que algures um filho espera também por ela. Aos 40 anos, decidiu descruzar os braços e desembaraçar o seu fio vermelho. No pedido de adopção em Portugal não fez distinção em relação à etnia, nem por isso teve mais depressa resposta. Ela contratou uma advogada e iniciou um processo de adopção em Cabo Verde. Um destes dias faz as malas e vai lá buscar o seu filho. Na pele parecido com ela. Para Filomena Faustino isso nunca foi o mais importante. Ela só quer ser mãe.
OS FILHOS DE MONJARDINO
Aos 15 anos, B. inscreveu-se na Juventude Socialista. “Fiquei perfeitamente babado com este meu filho que me está a seguir as pisadas”, diz Carlos Monjardino. B. é um dos 12 filhos do presidente do Conselho de Administração da Fundação Oriente – oito, entre os quais este socialista precoce, são meninos entregues pelo Tribunal de Menores. Monjardino não quis adoptá-los. Ser pai, sim, mas através da figura de tutor.
“Era impossível fazer o que eu fiz com oito miúdos através da adopção. É mais complicado, mais moroso e a minha filha mais velha nem sequer a podia adoptar, tinha mais idade do que a permitida por lei.”
Alguns dos oito meninos de Monjardino são irmãos biológicos entre si; só um deles chegou à Fundação Oriente sozinho.
Quando completou 50 anos, Carlos Monjardino percebeu que tinha recebido da vida mais que a maior parte das pessoas. Com a sorte de Midas fizera uma escalada profissional, iniciada no Banco Português do Atlântico e prosseguida em funções de administração noutros bancos europeus e depois na pasta de Economia, Finanças e Turismo de Macau. “Tinha um pecúlio de que não precisava, e resolvi fazer uma fundação com capital suficiente para que dos seus rendimentos pudesse ter a cargo a tutela de crianças.”
Esta disponibilidade financeira tem por detrás uma história sentimental. Depois do primeiro filho biológico, o casal Carlos e Ana Monjardino não conseguiu aumentar a prole. “Tentámos tudo, até fomos ao médico que tinha feito Sofia Loren ter um filho.” O projecto da adopção é abandonado. O casal acaba por ter mais dois filhos.
Há uma dezena de anos, os outros filhos de Monjardino começaram a chegar à Fundação – todos da área da Grande Lisboa, todos de famílias com problemas de toxicodependência. A grande incógnita era saber se dali resultaria uma família. “Chegaram-me a ligar de Espanha para saber como corriam as coisas.” O primeiro exemplo de amor entre irmãos ocorreu no dia em que um deles fugiu para ir ter com a mãe e foi seguido por outro miúdo. “Eu vi a aflição dos outros com o desaparecimento e com a posterior repreensão. Só foram à cama, quando perceberam que tudo estava bem.”
Dois decretos-lei de dia 10 de Fevereiro autorizam a DanAdopt, Sociedade Dinamarquesa de Apoio Internacional à Criança, e a Bras Kind, uma sua congénere suíça, a mediar a adopção de crianças portuguesas.
Dorte Fjalland, da DanAdopt, esclareceu que a sua associação está autorizada a mediar a adopção de crianças estrangeiras para a Dinamarca. Em 2004 foram 172 crianças.
Portugal que rectificou a Convenção de Haia para a adopção internacional, ainda não tem nenhuma instituição mediadora para ajudar os pais portugueses a adoptarem no estrangeiro. Em França existem 60.
Em Setembro de 2004, um ano após a entrada em vigor das alterações à Lei da Adopção, haviam em Portugal 16 mil crianças para adopção. À espera de uma criança estavam 2.800 candidatos a pais.
ADOPTAR EM PORTUGAL
A França é o país que mais adopta crianças cabo-verdianas, segundo fonte da procuradoria de menores da Cidade da Praia que assinala ainda o aparecimento, nos últimos meses, de pedidos provenientes de Portugal.
O processo passa-se nestes moldes – através de um contacto, os pais adoptantes têm conhecimento de que existe uma criança disponível para adopção, sendo depois o encaminhamento feito por um advogado local que chega a cobrar mil euros de honorários.
A maioria dos processos de adopção começa nas famílias biológicas. “Os pais adoptantes enviam bens e desenvolve-se um elo de ligação. Mas a lei do nosso país impõe sempre um período de convivência.” Este período de seis meses pode ser rodeado por expediente legal – a delegação voluntária de poder paternal em que os pais adoptantes levam para o seu país de origem as crianças. Findo esse prazo, o processo é reavaliado a fim de se proceder à adopção formal.
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