Portugal vai ter um posto para venda. O comércio de diamantes está de volta. Os melhores clientes estão na China, Rússia e EUA
Para reconhecer os bons diamantes é necessário ter para com eles a intimidade dos apaixonados. E José Baptista, 64 anos, tem esse saber. Na Associação Portuguesa de Gemologia (APG), a que preside, traça meticulosamente a rota de uma viagem que pretende trazer de volta a Portugal um comércio precioso, pois acredita que, após o declínio sofrido a partir dos anos 1980 – quando encerrou a Dialap, conhecida como Fábrica dos Diamantes – o sector volta, timidamente, a mostrar o seu brilho num país cheio de tradições.
"Temos grandes investidores, coleccionadores mesmo, e um saber de vários séculos, mas se alguém procura lucro tem de colocar a peça fora, no centro da Europa ou nos Estados Unidos, é aí que valoriza", explica. Pela parte que lhe toca, quer mudar o rumo da história. E vai lançar em breve "uma microempresa para levar este país novamente de encontro a um sector tão importante para a economia", e que, em termos globais e incluída a joalharia de diamantes, valia, em 2011, cerca de 45,5 mil milhões de euros.
O posto, como gosta de lhe chamar, funcionará em Lisboa para venda das melhores gemas, diamantes incluídos, e antecede um centro de exposições, que irá estender-se também ao Porto, como montra e espaço de informação de todas "as pedras que existem no planeta Terra". A equipa foi recrutada entre os melhores alunos dos cursos que ministra e a pesquisa inclui uma visita aos países extractores "para estudar tudo aquilo que o Mundo tem para nos oferecer".
A PEDRA DO AMOR
Apreciados desde sempre pela sua raridade e beleza, os diamantes – que os gregos pensavam ser estilhaços de estrelas caídos do céu – tornaram-se com o tempo símbolos de poder, fortuna e distinção. Durante séculos adornaram apenas as jóias da realeza, mas em finais do século XIX a abertura de novas jazidas na África do Sul ajudou a popularizar a pedra e a baixar os preços.
Em 1945, depois da empresa De Beers associar o slogan ‘os diamantes são eternos’ ao compromisso do anel de noivado, todas as europeias exigiam essa pedra. E a actriz Marilyn Monroe adicionou o picante ao garantir que "os diamantes são os melhores amigos das mulheres". Mas, por ser o material mais forte existente na Natureza e o amor ter passado de moda, acabaram usados também na indústria. No entanto, hoje os diamantes voltam a cumprir a tradição original em outros paralelos.
No virar do século XXI, 90% das americanas e 70% das japoneses exibiam um diamante no dedo anelar. E o mercado – de extracção, produção, lapidação, polimento, venda em bruto e joalharia – sobrevive graças a consumidores russos e a um namoro cerrado aos chineses.
RARIDADES DA NATUREZA
"Numa situação económica mais baixa", como a actual, "tem de existir uma ponte que corre", diz José Baptista. "A venda de diamantes em Portugal já nada tem a ver com o que foi há uns anos, nomeadamente nas fantásticas décadas de 1950 e 60 e até inícios de 70.
Nessa altura, famílias portugueses investiam em diamantes e jóias. Era uma mais-valia para qualquer necessidade. Por razões sociais e culturais, hoje já não é assim". No entanto, por ser uma rota entre continentes, Portugal pode voltar ao mercado .
No coração do Chiado, em Lisboa, onde se instala a APG, José Baptista ministra cursos de introdução às bases e ‘masters’. "Os diamantes são as pedras mais apreciadas pela sua raridade e beleza, mas é preciso explicar que da retirada de um milhão de quilates de diamantes de qualidade de gema só um por cento tem a pureza e a cor ideal para investimento", frisa. E são poucos os especialista na área, onde o conhecimento é fundamental para avaliar peças de qualidade. "Este mercado também sobrevive da base de confiança que se cria entre o cliente e o comerciante", afirma, com a experiência de que quem carrega nos genes um negócio que já vai na quarta geração.
VENDER ILUSÕES
O próximo curso arranca em Maio e os melhores alunos de aulas anteriores já estão recrutados. Polariscópios, refactrómetros, microscópios e luzes ultravioleta são instrumentos de trabalho de António Lino, 28 anos, que trocou a licenciatura em Engenharia Civil pelo fascinante mundo das gemas. Aplicado, aprendeu a decifrar os segredos e hoje avalia também diamantes, que reconhece pela pureza, cor, peso e lapidação.
"Apesar de existirem pedras com mais valor, como o rubi de Caxemira, por exemplo, a mais--valia dos diamantes vai além das regras, pois algumas cores ainda são um mistério para os gemólogos", explica. E mostra um diamante de cinco quilates e uma missonite, réplica quase perfeita, saída de fábricas norte-americanas e alemãs. "A olho nu parecem iguais. E os americanos vendem estas missonites com a indicação de que brilham tanto como um diamante e com elas as pessoas também fazem boa figura", conta entre sorrisos.
Vender as emoções que os diamantes transmitem é precisamente a tarefa de Isaac Mostovicz, consultor israelita e presidente da empresa japonesa Allied Diamonds Inc., que, numa passagem por Lisboa, explica como sobrevive este negócios em tempos de crise.
"Neste momento há que falar para quem tem dinheiro, pessoas que não sabem onde o colocar pois já não confiam nos bancos, e explicar que os diamantes não são, nunca, um negócio para lucro imediato. São um investimento de outra forma", frisa, enquanto ajeita o kipá no alto da cabeça, como que a ostentar a origem de um povo reconhecido entre os melhores lapidadores do Mundo.
Mostovicz defende no seu discurso que "o diamante tem valor pelo que faz nas pessoas. Há um sentido de propriedade quando se diz que ‘este diamante é meu’. O dono sente-se bem, forte e poderoso." E com 30 anos de experiência no ramo, o também professor de Marketing da Northampton Business School já sabe a ler nas estrelas as rotas do mercado.
"Os russos têm grande experiência na lapidação, que considero a arte de dar valor aos diamantes, e a China é um mercado colossal, que assiste a um aumento do consumo, que vai durar uns anos, mas é um ciclo curto. Mas os grandes consumidores continuam a ser os EUA. Na América, o consumidor é estável, quer mostrar um estilo de vida e há sempre 50, 30% de mercado que é fiel".
Inspirado com a luz que ao fim da tarde pinta a Baixa lisboeta, Mostovicz sorri ao recordar dois negócios que o marcaram. O de um americano, que comprou um anel com gema de cinco quilates para oferecer à mulher, que o exibia no clube de campo, e um outro que só após 30 anos de casamento pode dar a pedra exigida no matrimónio.
"Em todo o Mundo, 99% do mercado de venda de diamantes é sempre um presente do homem para a mulher. Corre a história de que foi o rei Maximiano da Áustria, no século XV, o primeiro a oferecer um anel com diamante, mas posso relatar outra versão, mais cínica, publicada há uns anos numa revista. Terá sido para garantir a oferta de uma peça de valor transportável, caso a paixão se consumasse antes do casamento e fossem largadas à sua sorte, que as mulheres passaram a exigir um anel de diamantes antes de assumirem um compromisso. As duas histórias são válidas".
A PROCURA DOS CINCO CÊS NA PEDRA ETERNA
"Um diamante é eterno e é a substância mais dura da Natureza, no entanto o seu valor varia também com a pureza, cor e lapidação, que é a proporção entre ângulos e facetas", explica José Baptista, presidente da Associação Portuguesa de Gemologia.
Numa avaliação há que ter em atenção a procura dos cinco cês, regras que explicam o que deve ser exigido num diamante a partir de meio quilate: carat, ou quilates, que determina o peso; cor, que varia entre rosa, amarelo, rubi, azul ou transparente; claridade que atesta a pureza; corte, que consiste na lapidação e polimento; e certificado, que deve ser exigido por todo o comprador.
Sobre a falta destas regras, José Baptista recorda o caso de polícia que nos anos 1980 envolveu em Portugal uma rede mafiosa de italianos e russos: "Uma cliente orgulhou-se de comprar um diamante de três quilates por 1500 euros. Obviamente era uma falsificação, pois um verdadeiro vale cerca de 40 mil".
NOTAS
ORIGEM
A origem dos primeiros diamantes data de 800 a C., na Índia, ainda hoje país extractor destas pedras.
ROCHA
A mais remota rocha vulcânica da qual se extrai diamantes tem a fantástica idade de 70 milhões de anos.
PALAVRA
Para certos autores, a palavra diamante deriva do sânscrito ‘dyu’, divindade, para outros vem do grego ‘adamas’, invencível.
DUREZA
Constituído por carbono puro, o diamante tem as propriedades de dureza que o tornam a substância natural mais dura conhecida pelo Homem.
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