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O pai do nosso Costinha

A hilaridade angolana abre com sentença meiga: “tenho muito orgulho”. Quilogramas, toneladas de brio por ser pai do Costinha. Esse mesmo – Costinha – ilustre jogador de futebol que já vestiu inúmeras camisolas.

09 de julho de 2006 às 00:00

A última, ‘made in’ Moscovo, talvez lhe tenha ficado húmida devido ao choque eléctrico com o treinador, mas apesar do talento lusitano ter ficado uma longa e injustificada temporada no banco de suplentes, neste Mundial – inoportuno para cardíacos – a sua presença na selecção portuguesa consegue, e não importa se recebermos a taça de campeões, a magia no campo.

Corre em velocidade brava, finta com feitiço pertinente, do seu ‘fair-play’, até, nenhum adversário dúvida. Quando “o meu filho”, o nosso Costinha, não é convocado para entrar num jogo, até a equipa contrária sente a sua falta. “Ele tem muito bom coração. Não mudou”. O cartaz da fama não alterou a simplicidade do miúdo que vivia nas redondezas do Bairro do Relógio, não estragou o puto que gostava de ficar sozinho no quarto “a brincar com carrinhos”, enquanto o pai Costa fazia do carro de adultos o ganha pão. “Em criança queria ser engenheiro electrotécnico”, mas quando a idade cresceu, a engenharia não superou a adrenalina de manejar a bola. A arte de driblar a bola poderá ser genético? António Damásio que confirme o caso. “Também eu tinha queda...”, mas o pai Costa não teve oportunidade.

Nos anos 60 veio de Angola para o estádio da vida. Trabalhar em Lisboa. Ao filho, rapaz com “educação delicada e à antiga portuguesa”, do género (em via de extinção) que escancara as portas para as senhoras passarem “sempre lhe disse”, sempre lhe aconselhou: “não largues os estudos”. O Costa, chefe da família, dizia, tornava a dizer, gastava as cordas vocais, mas o seu filho varão, apesar de excelente aluno a todas as disciplinas, só queria frequentar outro tipo de escola: a universidade do golo. “Ainda me fez o gosto”: acabou o 11.º ano de escolaridade “quase com noventa por cento”. Depois da franca percentagem das notas escolares, o trinco nunca mais largou a esfera.

“O meu filho até pode jogar na lua”, o pai Francisco Costa não abandona a profissão de taxista. “Foi no táxi que consegui proporcionar uma vida melhor aos meus familiares”. O facto de a conta bancária do barão do futebol ter engordado, a rotina do seu progenitor segue inalterável. Doze horas atado ao volante. “E isto está muito mau”. Depois de uma pausa, o superlativo sobe para péssimo. “O gasóleo está mais caro do que o petróleo”. A rima encaixa muito bem.

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