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O filme da Cientologia

Documentário baseia-se em depoimentos de ex-membros da igreja.

16 de março de 2015 às 11:39

Crianças obrigadas a trabalhar 14 ou 16 horas por dia, pais separados de filhos e irmãos de irmãos, punições físicas e emocionais para "disciplinar" os membros em campos de reeducação. Já para não falar do dinheiro que os crentes entregam à igreja e das ameaças feitas aos dissidentes ou a quem pretenda investigar os meandros da doutrina.

As histórias sinistras em torno da Cientologia – conhecida mundialmente graças aos rostos famosos que a seguem (como Tom Cruise, John Travolta, Kelly Preston ou Kirstie Alley) – têm vindo a acumular-se ao longo de anos e dado origem não a um mas a vários documentários em torno desta prática religiosa, fundada nos EUA em 1952 pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard (1911-1986). O mais recente, e também aquele que os críticos consideram "o mais letal" para a Cientologia, chama-se ‘Going Clear: Scientology and the Prison of Belief’ (qualquer coisa como ‘Ser Claro: A Cientologia e a Prisão da Crença’) e chega ao canal de cabo HBO a 29 de março, depois de uma pré-apresentação no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro.

Baseado no livro homónimo do escritor e jornalista de investigação Lawrence Wright, e assinado pelo realizador Alex Gibney, centra-se no testemunho de pessoas que já pertenceram à igreja mas que a abandonaram e agora criticam os seus princípios e métodos. Com Paul Haggis (‘Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos’ e ‘Colisão’) à cabeça.

Praticante durante 35 anos (desde os 21), Haggis tem duas filhas homossexuais e é conhecido por defender as minorias. Quando uma das filhas lhe disse que a Cientologia era contra o casamento homossexual, começou a investigar. E ficou chocado com o que descobriu. Sobretudo com a exploração do trabalho infantil. "O pior de tudo foi perceber o quão estúpido eu tinha sido durante tanto tempo", disse em entrevista, admitindo ter algum receio das represálias que a igreja possa vir a exercer. Até porque tem membros poderosos em Hollywood…

Aliás, foi mesmo através de Hollywood que se espalhou, ao ponto de reclamar atualmente entre oito a 10 milhões de praticantes.

O QUE É A CIENTOLOGIA? 

A Cientologia é um desenvolvimento da Dianética, técnica de psicoterapia desenvolvida por Hubbard e que procura detetar os traumas dos indivíduos (desta ou de vidas passadas, já que acredita na reencarnação) e ajudar a superá-los. O livro ‘Dianética: A

Ciência Moderna para a Saúde Mental’, publicado em 1950, foi pioneiro dos livros de autoajuda, vendeu milhões e tornou o autor num homem rico. Mas o dinheiro esfumou-se e Lawrence Wright diz que "a certa altura Hubbard percebeu que a melhor forma de ficar muito rico era fundar uma igreja". Coisa que fez em 1952.

Desde o início que a Cientologia procurou atrair gente famosa para as suas fileiras e aliciar gente como Walt Disney, Howard Hughes, Gloria Swanson ou Rock Hudson. Um dos famosos que aderiu – mas depois bateu com a porta – foi o escritor William S. Burroughs. O serial killer Charles Manson também chegou a dizer-se cientologista durante um período de tempo. Mas ninguém fez tanto pela causa como Tom Cruise, cujos casamentos com Nicole Kidman e Katie Holmes terão azedado por "desentendimentos religiosos", dizem muitos. Em 1993, depois de um processo contra o Estado, a Cientologia viu perdoada uma dívida de 945 mil milhões de euros ao IRS e ficou doravante isenta de impostos. Entretanto, acumulou uma riqueza avaliada em 1,134 mil milhões de euros.

Nos últimos anos, a doutrina tem sofrido revezes. Em 2010, Daniel Montalvo, de 19 anos, processou a igreja por escravatura laboral (trabalhava cem horas por semana por 33 euros) e Jenna Miscavige, sobrinha do líder David Miscavige, escreveu um livro em que descreve os horrores da sua infância e juventude como membro da congregação. Agora, mais vozes juntam-se à contestação no documentário de Alex Gibney. O filme demorou dois anos a fazer e 160 advogados viram-no antes de estrear. Para se certificarem de que não dará azo a processos judiciais.

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