Falou-se da sua extinção e foram criadas comunidades para perpetuar o gene, mas estão hoje mais na moda do que nunca.
Na Irlanda acredita-se que os cabelos ruivos trazem boa sorte, na Nova Zelândia que garantem um caminho direto para o céu. Existe a crença de que será afortunado quem passar a mão em cabelos cor de fogo e rico quem caminhar entre duas ruivas. Mas mais verdadeira do que a convicção popular é a realidade que sobressaiu na última New York Fashion Week: os ruivos estão na moda.
"Nunca como agora foram vistos tantos ruivos na passerelle. Isso faz-nos pensar que os ruivos são a mais forte tendência desta temporada", escreveu o jornal ‘Huffington Post'. Giuliana Leila Raggiani, a designer de moda por detrás da marca Giu Giu, concorda: "Os ruivos são especiais, e combinados com uma roupa especial fazem magia. As ruivas têm poder para sobressair e devem agarrar isso com vida e espontaneidade." E, já agora, convém também algum fair-play para lidar não só com os mitos e as superstições mas também com boatos que dão à costa com alguma frequência. No verão de 2007, alguns meios científicos avançaram (incluindo a ‘National Geographic', embora numa análise mais cética) com estudos que concluíam que, em 2060, não haveria mais ruivos no Planeta, devido à cor em questão ser originada por um gene recessivo. Os cabelos vermelhos são causados por uma mutação no gene MC1R, que precisa que ambos os pais passem a versão mutante do gene para produzir uma criança ruiva. Por ser recessivo, pode não aparecer numa geração e aparecer noutra se os progenitores forem ambos portadores do gene, independentemente da cor dos seus cabelos.
Sabe-se que os ruivos representam entre 1 e 2% da população mundial (entre 70 e 140 milhões de pessoas), sendo que é o Reino Unido que tem a maior percentagem de ruivos do Mundo (entre 10 e 13% da população, embora 40% tenha o gene recessivo ruivo). Ainda assim, uma coisa parece certa: os ruivos são cada vez menos, já que o seu nascimento só acontece quando tanto o pai como a mãe transmitem o gene das características ruivas.
Acasalar ruivos
Pouco depois de ter tocado o alarme da extinção dos ruivos, a comunidade de internautas ‘save the readheads' (‘salvem os ruivos') apresentou um plano de salvação que passava por tentar acasalar ruivos para assegurar a continuidade do género. Para o efeito, angariava óvulos e esperma de pessoas ruivas para ajudar a aumentar a quantidade de ruivos no Mundo. Para suportar economicamente o trabalho vendiam pins, a que chamaram ‘freckles' (‘sardas', uma das características comuns aos ruivos). Os avanços desta comunidade não estão disponíveis - o movimento parece até ter abrandado -, mas a verdade é que nos últimos anos muitos outros surgiram a apoiar os ruivos. Também o site www. redhedd.com descreve detalhadamente um plano para aumentar a quantidade de ruivos no Mundo. "Atualmente, apenas 1 a 2% da população é ruiva. Nós vamos mudar isso. Faça o programa de três gerações proposto e seremos cerca de 5 a 7% no ano de 2080. Esperamos ser 10% em 2120 e 20% em 2200. Se não acontecer, devolvemos o seu dinheiro", brincam na internet. Mais séria, a ‘revolta' dos ruivos na Costa Oeste americana - em resposta ao National Kick a Ginger Day (Dia Nacional de Bater num Ruivo), um ‘movimento' criado por adolescentes que incitou ao bullying agressivo contra os cabelos vermelhos em 2011. O administrador do grupo - que teve página no Facebook - tinha então 14 anos e, quando confrontado pelas autoridades, garantiu tratar-se de uma piada, mas a verdade é que nessa altura várias notícias sobre agressões contra crianças e jovens ruivos vieram a público. Tudo isto terá sido despoletado por um episódio de ‘South Park' (uma sitcom americana) em que se dizia que os ‘gingers' não têm alma, comparando-os com vampiros. Um ensaio publicado pela Universidade de Massachusetts em 2010 elaborava uma proposta de uma comunidade exclusivamente ruiva, onde viveriam dependentes das suas próprias leis. "Nós, ruivos, devíamos ser levados para comunidades especializadas e remotas, onde poderíamos viver em paz e procriar para fortalecer os nossos números. Aqueles que nascem sem cabelo vermelho seriam colocados num sistema de deslocalização que colocaria esses recém-nascidos em lares de cor de cabelo semelhante. Embora isso separasse as crianças das suas famílias, era uma segregação necessária. Ia garantir que apenas os bebés ruivos cresceriam para criar mais bebés ruivos", escreveu a autora, Olivia Hull.
Num passado remoto, as mulheres ruivas eram os melhores sacrifícios a Osíris, e em Roma as escravas mais caras. Na Idade Média foram perseguidas, queimadas e acusadas de todo o tipo de bruxaria. Mas se antes eram motivo de exclusão, hoje são também objeto de cobiça. A fotógrafa Virginia Nuñez tem corrido o Mundo em busca de modelos ruivos para o seu projeto. E no Brasil, em setembro de 2012, um grupo pediu ao governo para incluir os ruivos nos Censos.
Em Portugal, é sobretudo no Norte que existem mais ruivos, o que segundo os geneticistas se explica com a conquista celta do Norte da Península Ibérica.
Foi precisamente nessa região do País que encontrámos Sara Martins, uma enfermeira de 33 anos no hospital de Guimarães. "Desde pequena sempre me achei diferente e na brincadeira costumava dizer que era adotada, porque os meus pais são morenos. Claro que eles sempre me explicaram que eu tinha nascido assim porque tinha antecedentes familiares (uma prima da parte da mãe e outra da parte do pai), mas sempre fui muito visada." Na infância - altura em que o seu cabelo era quase laranja fluorescente - várias pessoas paravam a mãe na rua para lhe perguntar se pintava o cabelo à criança. "E até ao 12º ano sempre fui a cenourinha, era a única ruiva da minha escola. Sempre fui o centro das atenções." Apesar de tudo, Sara - solteira e sem filhos - gostava de ter descendência ruiva. "A ideia de uma comunidade para os ruivos se conhecerem e perpetuarem o gene parece-me complexa. Tenho esperança de que mesmo que o pai não seja ruivo eles nasçam com um cabelo igual ao meu", brinca.
Daniela Fernandes também mora a Norte - na Vila das Aves, uma pequena localidade onde, por coincidência, "vivem mais dois ruivos". Mesmo assim, a jovem de 17 anos alargou o seu leque de conhecimentos ruivos. "Quis começar a saber mais sobre nós e inscrevi-me num grupo brasileiro, o Ruivosmania", conta quem sofreu piadas "no infantário e na primária". "Na altura era muito complicado lidar com isso. Felizmente que agora que sou mais velha e sempre que falam do meu cabelo é para elogiar."
Em Portugal também existe um grupo de ruivos no Facebook, que tentou no verão de 2012 juntar o maior número possível de cabelos vermelhos em Coimbra, mas a empreitada não foi bem sucedida. "Só apareceram cinco pessoas. Não sei se a divulgação foi suficiente", pondera Sara Martins. Não terá sido, ao que parece, por timidez desta ‘minoria'. Pelo menos, a julgar pelos mitos e ditos que circulam sobre os ruivos. Diz-se que são faladores, apaixonados e impetuosos.
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