Bastou uma discussão com a amante para a NBA banir o proprietário dos Los Angeles Clippers.
É de elementar justiça admitir que Donald Sterling passou 33 anos de vergonhas à custa dos Los Angeles Clippers. No entanto, a equipa de basquetebol, detentora da pior percentagem de vitórias da NBA desde que foi comprada pelo milionário, pagou a ofensa com juros, após a divulgação de uma conversa em que este exigia que a amante parasse de trazer negros para os jogos, realizados no Staples Center, tal como os dos Lakers, a principal equipa da cidade californiana.
A divulgação pública da conversa entre Sterling e V. Stiviano, uma mulher de 31 anos, de ascendência hispânica e negra, levou a NBA a agir depressa e em força. O dono dos Clippers foi condenado a pagar uma multa de 2,5 milhões de dólares (1,8 milhões de euros) e banido para sempre da liga profissional de basquetebol. Devido à decisão, anunciada na terça-feira pelo comissário Adam Silver, o mais antigo patrão da NBA pode ser forçado a vender a equipa. Um cenário que o próprio afasta.
Entre os candidatos à compra, destacam-se dois negros: a figura da televisão Oprah Winfrey e o ex-basquetebolista Earvin ‘Magic' Johnson. Vender a este último rebentaria a escala da ironia, pois o ‘histórico' dos rivais Lakers contribuiu para a autodestruição de Sterling. Foi por V. Stiviano ter colocado no Instagram uma fotografia ao lado de Magic que o empresário, de 80 anos, telefonou à amante, sem imaginar que a conversa seria gravada e iria parar ao site noticioso TMZ.
"Perturba-me muito que tu queiras difundir que te dás com gente negra", disse o dono dos Clippers, na conversa telefónica. Quanto a Magic Johnson, o empresário concordou que "ele deve ser admirado", mas voltou a condenar a divulgação de fotografias nas redes sociais e os convites para assistir aos jogos. "Tenho pena que não o possas admirar em privado. Trá-lo cá, dá-lhe de comer, f...-o, não me importo!", exclamou, pensando que estava a dar por encerrada uma discussão em que até garantiu "amar as minorias".
CONDENAÇÃO PRESIDENCIAL
Desafiado a comentar a gravação, durante uma conferência de imprensa na Malásia, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que confiava no comissário da NBA para resolver o problema. Mas não resistiu a espetar uma lança em Sterling: "Quando ignorantes querem publicitar a ignorância, nada temos de fazer. Apenas deixá-los falar."
Filho de um homem negro e de uma mulher branca, como Obama, a principal estrela dos Clippers, Blake Griffin, ainda não comentou as palavras e a punição do seu patrão. No entanto, todos os jogadores demonstraram o seu descontentamento no quarto jogo do play-off, contra os Golden State Warriors, virando os equipamentos do avesso. Já o treinador, Doc Rivers, que é negro, disse logo que não estaria disponível para trabalhar com Donald Sterling na próxima época.
Os patrocinadores distanciaram-se, fazendo desaparecer do Staples Center a publicidade da marca de automóveis Kia e da companhia aérea Virgin America, cobertas com panos pretos. A NBA apelou para que regressem, feliz por ter banido Sterling antes da noite de terça-feira. Jogadores e treinadores das duas equipas já tinham combinado não entrar em campo se o racismo ficasse sem punição.
ACUSAÇÕES DE INQUILINOS
As palavras de Sterling, magnata do ramo imobiliário que trouxe os Clippers de San Diego para Los Angeles, ficando quase sempre à sombra dos Lakers - graças a ‘Magic' Johnson, Shaquille O'Neal e Kobe Bryant, venceram oito títulos da NBA nos últimos 30 anos -, não foram uma surpresa para quem o conhece há muitas décadas.
Nem o facto de ser filho de imigrantes judeus o impediu de praticar discriminação racial nos seus empreendimentos. Em 2006 foi processado pelo Departamento de Justiça dos EUA por recusar-se a alugar apartamentos a negros nos seus prédios em Beverly Hills. "Cheiram mal e atraem ratos" terá sido uma das justificações, enquanto as reservas em relação a hispânicos se deviam à convicção de que "fumam, bebem e passam o dia à porta dos prédios".
A mulher com que está casado desde 1955, Rochelle ‘Shelley' Sterling, também se distanciou do marido, apesar de não confirmar que fosse mesmo a voz do pai dos seus três filhos, um dos quais morto em circunstâncias misteriosas. "Não sou racista e não apoio o que ouvi naquela gravação", referiu, antes de marcar presença no jogo da noite de terça-feira. No entanto, desde então a imprensa californiana recordou processos de inquilinos, que a acusam de ter proferido insultos racistas.
Quanto a V. Stiviano, que está a ser processada pela legítima mulher de Sterling - que a acusa de se ter apropriado de mais de um milhão de dólares, referente a presentes do empresário -, garantiu, por intermédio do advogado, que ficou triste ao saber que o seu amante nunca mais poderá sequer assistir a um jogo da NBA.
Igualmente solidário, o excêntrico multimilionário Donald Trump renegou o racismo do dono dos Clippers, mas insistiu que Sterling foi "alvo de uma cilada", preparada por uma "namorada do Inferno".
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