Os medos que rodeiam a internet são a galinha dos ovos de ouro de outros. Os novos empresários não vestem fato, não se levantam cedo e não precisam de sair do conforto do lar para fazer fortuna.
Existem aqueles que não compram um livro ou CD para a namorada através da internet. Há os mais fatalistas que temem que, num futuro próximo, a tecnologia se vire contra o Homem e que, da água à electricidade, todas as pequenas conquistas estejam ameaçadas pelo mau uso dos utilizadores. E existem os puritanos, que excluem por completo o diálogo com o desconhecido.
Numa semana em que tanto se falou dos riscos da web e em que foi assinalado o Dia da Internet Segura – 6 de Fevereiro – há também aqueles que fecham os olhos ao medo e mergulham de cabeça no universo online, ganhando a vida com um simples dedilhar no teclado. A partir do sofá de casa, do café da esquina ou do jardim do bairro, são estes os novos empresários, ausentes das típicas secretárias de escritório e permanentemente contactáveis.
Quando perguntam a Jorge Lima qual a primeira vez em que olhou para a ‘net’ como uma oportunidade de negócio a descontracção da resposta diz tudo: “A história já vai longe”, recorda o engenheiro informático de 27 anos. Não gosta de ser rotulado com a etiqueta de empresário “porque as pessoas assumem que eu sou alguém importante e cheio de dinheiro”, diz rapidamente. Prefere que o definam como “jovem empreendedor”. Motivos para tal não lhe faltam. “Tinha 18 anos e já fazia trabalhos de tradução via internet e registei-me num site para dar explicações.” Frequentador assíduo de um site de distribuição de tarefas, os clientes pediam os trabalhos e Jorge estipulava um preço. Foi o ponto de partida para uma realidade que é agora bastante mais lucrativa. Jorge, ou melhor, Eggy Lippmann, foi o primeiro português a entrar no ‘Second Life’ – um cenário a três dimensões que apenas existe no mundo virtual, onde há ilhas, moeda própria e habitantes com empresas rentáveis e negócios bem reais. Hoje, é dono da Beta Technologies, uma empresa de design de objectos 3D.
TRABALHOS DE CASA PELA 'NET'
No início, quando ainda fazia os trabalhos de casa pela ‘net’ aos alunos de liceu, o que ganhava não era significativo. Só mais tarde chegaram os trabalhos de programação. O primeiro trabalho a sério chegou em 2001, numa empresa de construção de sites, mas a entrada no Second Life fê-lo alcançar novas perspectivas.
O primeiro projecto pago no mundo virtual foi uma réplica do Teatro de Dionísio. Hoje tem três portugueses a trabalhar consigo e outros 40 colaboradores subcontratados em todo o Mundo.
Sobre os riscos associados à internet, Jorge garante que “nunca houve ninguém a recusar-se a pagar” pelos projectos. “Más experiências existem em todas as empresas e indústrias”, diz o jovem, assumindo que os maiores problemas são com “clientes que não sabem o que querem e mudam de ideias várias vezes”. Não confia em todas as pessoas, mas também não vê motivos para alarmismos com o ciberespaço.
E quando tem que contratar novos funcionários à distância? “Há certas coisas que transparecem logo”, diz Jorge. Ainda assim, o jovem engenheiro joga pelo seguro: “Só contratamos pessoas que conheçamos, que tenham trabalho reconhecido ou que são amigos de pessoas com quem trabalhamos.”
Os trabalhos neste mundo da virtualidade custam entre 10 a 200 mil euros, aplicados a projectos que duram entre um a seis meses. Apesar de praticar preços baixos, Jorge admite que factura já “alguns milhares de euros”. Em resumo: “Dá-me para viver bastante confortavelmente”.
TRABALHO CIBERNÉTICO
Tiago Gaspar ainda só faz part-time, mas vai já ganhando uns trocos apetecíveis no trabalho cibernético. Todas as noites, no conforto do lar, edita conteúdos em cinco blogs diferentes, com notícias sobre novas tecnologias. Sem muito trabalho, mas com bastante dedicação, o estudante de Design e Programação Multimédia, com apenas 23 anos, consegue facilmente amealhar entre 500 a mil euros mensais.
“Tive o primeiro contacto com este tipo de trabalho através de fóruns. Estavam a pedir pessoas para actualizar um blog e eu candidatei-me”, explica entusiasmado. Da facilidade de “poder trabalhar em casa” ao rápido envolvimento numa área tão dinâmica, em pouco tempo concorreu a mais trabalhos do género. Material para actualizar os conteúdos dos blogs não falta: “Há sempre produtos novos a ser lançados, empresas a serem criadas e outras a falirem.”
Tudo funciona na base da troca de e-mails. E, mesmo sem conhecer pessoalmente o patrão que está do outro lado, Tiago confia em pleno em quem gere o seu trabalho. “Sinto-me seguro porque na internet as pessoas têm uma reputação a manter. Os sites estão ligados entre si e quando alguém faz alguma coisa errada, ou fica um mês sem pagar, toda a internet fica a saber.”
Rui Silva, director da XiraTV também já percebeu que a internet é um negócio em expansão. “É uma das minhas apostas”, diz com segurança. Depois de ter entrado no universo das televisões regionais, o ex-jornalista acredita que a “publicidade na internet vai dar um passo gigantesco”, por isso não tem dúvidas que, apostando agora, “daqui a cinco anos a web vai ser um mercado muito atractivo”.
COMPUTADORES SOB ALTO RISCO
Um em cada quatro computadores do Mundo pode estar a ser usado por criminosos nas chamadas ‘botnets’ – redes de computadores geridos por robots. O alerta foi lançado recentemente em Davos, na Suíça, por um dos pais da internet, Vint Cerf. Estes softwares criam resultados e simulam a presença humana na web. Por exemplo, quem nunca clicou numa pequena janela de publicidade sem saber que, com esse pequeno gesto, está a aumentar o retorno em publicidade de uma empresa? Ou quem nunca foi bombardeado com um spam no seu e-mail? Cerf, que actualmente trabalha para o Google, não se inibiu de comparar o alcance e propagação das ‘botnets’ a uma “epidemia generalizada”.
NÚMEROS DO DESCONFORTO
600 milhões de computadores estão actualmente ligados à internet
100 a 150 milhões de computadores fazem parte das redes ‘botnet’
15% da capacidade de busca do motor do Yahoo foi usada por uma única ‘botnet’ para alcançar informações
50% dos Windows pirateados trazem já pré-instalados programas maliciosos como o conhecido ‘Trojan Horse’
É quem mais lida com a internet que o diz: é preciso deixar de olhar para a tecnologia como um ‘bicho-papão’. Aqui ficam cuidados que deve ter em conta.
A- ANTIVÍRUS ACTUALIZADO
Um dos primeiros passos para manter o seu computador minimamente seguro é ter um antivírus e uma firewall permanentemente ligados. Como os vírus estão em constante mutação, é importante fazer actualizações destes softwares com a maior regularidade possível.
B- ATENÇÃO AOS EMAILS
Uma das formas mais eficazes de conseguir dados dos utilizadores da web é pela simulação de emails provenientes de instituições idóneas, como bancos. Facultar nome, idade, número de telefone, morada ou dados bancários é meio caminho andado para ser enganado.
C- AMIZADES PERIGOSAS
Recentemente, as redes sociais – como o Myspace e o Hi5 – têm sido palco de aliciamento dos mais novos, que em muitos casos expõem o seu dia-a-dia e intimidade através de fotos e depoimentos. Em alguns países, existe já o alerta para o risco de propagação de redes pedófilas.
D- PRESSÃO PSICOLÓGICA
O anonimato surge aliado à internet. E há quem se sirva dele para ameaçar, divulgar conteúdos íntimos, insultar ou até mesmo intimidar as pessoas. E quando a agressão surge sobre os mais novos, há quem tenha vergonha de se queixar, sujeitando-se à pressão psicológica.
À DISTÂNCIA (Opinião da jornalista Dulce Garcia)
A imaginação é uma arma. Podemos utilizá-la para fazer e desfazer castelos, inventar personagens e alimentar ideias que não aguentariam dois segundos de embate com a realidade. Por que é que gostamos sempre mais dos livros do que dos filmes? Porque fantasiámos sobre eles, e a fantasia do realizador é sempre diferente da nossa. Nunca quis conhecer os meus ídolos. Chamem-me anormal, se quiserem, mas sempre soube que a sua visão, em carne e osso, lhes ia roubar grandeza.
Escritores que venero, músicos que admiro, políticos que respeito, não me interessa conhecer nenhum. Diz--me a experiência que em noventa por cento dos casos vou sair a perder. Por que raio é que um narrador brilhante tem de ser um óptimo conversador? Não tem. Alguns gastaram a graça e o encanto todo na ficção. E eu detesto ficar com os restos. O Homem das cavernas vivia, literalmente, em cima do semelhante. Passou a revolução industrial entalado entre a máquina e o parceiro do lado. Com o chefe por cima. Depois vieram os tempos modernos e a moda das estruturas horizontais. Foi o triunfo dos chamados ‘open space’, vulgo tudo ao monte – chefes misturados com empregados, estando os primeiros separados por redomas de vidro, e os segundos nem por isso. E quando o metro quadrado já não comportava nem mais uma formiga, as novas tecnologias prometeram abrir perspectivas de trabalho. Os países civilizados já tinham mandado uns recados para a cauda da Europa: ou começam a levar a sério os ‘part-time’ e o cibertrabalho, ou em vez de oito por cento de desemprego, passam a ter 80.
Não tenho nada contra as pessoas que trabalham à distância, antes pelo contrário. Sei que não era coisa para mim – um bicho altamente sociável – mas admito as múltiplas vantagens: poupa-se espaço e dinheiro com a mobília e o software, evitam-se as conversas com o parceiro do lado (fatais para a produtividade), acaba-se com metade dos mexericos e – sobretudo – fantasia-se à brava com os colegas. Sim, fantasia-se. A voz rouca do ilustrador, as piadas incríveis do consultor financeiro e o charme da tradutora de alemão estarão sempre acima dos lindos olhos do Armando da secretaria e das pernas da Cristina do marketing. A esses atributos, de tanto os ver, a pessoa habitua-se. E começa a encontrar-lhes pequenos defeitos. Aos outros não, permanecerão estoicamente até que a imaginação falhe. Ou que os próprios venham ao escritório para uma reunião…
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