Nasceu em 1974 na cabeça de um arquiteto húngaro e ficou imortalizado com o nome do seu criador, Rubik. O cubo de Rubik.
É de plástico, tem pequenos quadrados às cores, diversas versões e é tridimensional. Chamam-lhe o quebra-cabeças por excelência e desde a sua invenção, em 1974, desafia a lógica e destreza dos humanos. Popularizou-se de forma transversal na sociedade dos anos 80, quando a era digital dava ainda os primeiros passos. Mas perdura. Não raras vezes, vemo-lo ao canto da secretária no escritório, na sala dos brinquedos, na biblioteca, num cantinho junto à TV. É o cubo mágico do húngaro Rubik, que seduz há 40 anos.
"A importância do cubo reside essencialmente no facto de ter sido um quebra-cabeças. Repare que existem muitos quebra-cabeças, desde as palavras cruzadas até puzzles com madeiras ou outros materiais. Este foi um fenómeno quase icónico dos anos 80, devido, sobretudo, às suas cores brilhantes, que excitavam", refere à ‘Domingo’ Pedro J. Freitas, professor de Matemática na Faculdade de Ciências, em Lisboa, também ele um apaixonado pelo cubo. "Foi um objeto que, por um lado, estava muito dentro dos padrões da sua época, mas, por outro, inovou porque foi um novo tipo de desafio que não existia até àquela altura", explica o professor, insistindo que a popularidade do cubo reside precisamente no tremendo desafio que constitui a sua resolução.
A DESCOBERTA DO CUBO
O inventor do cubo mágico, Erno Rubik, um arquiteto húngaro, situa, de forma genérica, a primavera de 74 como a data do ‘feito’. No entanto, o próprio, que completa 70 anos em julho próximo, sublinha que a patente só foi registada quase um ano depois. Aliás, Rubik, que raramente fala à imprensa, cultivando assim uma auréola enigmática adequada à invenção, confessou que não inventou o cubo. Apenas o ‘descobriu’ quando quis ensinar aos seus alunos da Escola de Artes Aplicadas de Budapeste, onde lecionava, os segredos do espaço através de um objeto tridimensional.
Mas logo naquela primavera de 1974 começou a ‘história’. O formato do primeiro protótipo do Rubik era então 2x2x2 e não o popular 3x3x3, que hoje todos conhecemos. Mesmo assim, nos anos seguintes à invenção foram vendidas 12 mil unidades, só na Hungria. "A popularidade do cubo demonstra que o pensamento matemático não é de maneira nenhuma exclusivo dos meios intelectuais ou estudiosos. Qualquer pessoa, com uma motivação adequada, que goste de pensar, apaixona-se facilmente por este quebra-cabeças", afirma o professor, ressalvando que há muitas pessoas que, pura e simplesmente, não gostam de pensar.
"Quem gosta de refletir, de pensar, de exercitar a mente, não tem necessariamente de ocupar nenhum cargo superior, nem desempenhar nenhum papel especial na sociedade. Basta que goste de pensar e que tenha alguma persistência", afirma. E a sua disseminação pelos quatro cantos do Mundo prova-o. Em 1980, só na Alemanha foram vendidos mais de quatro milhões de cubos mágicos, que bem depressa se tornaram em objetos de culto, com exposições nos mais exclusivos museus mundiais, incluindo o de Arte Moderna de Nova Iorque. E este ícone cultural chegou mesmo ao grande ecrã, em êxitos de bilheteira como ‘Quero Ser John Malkovich’ (1999), ‘Homem-Aranha’ (2012) ‘Armageddon’ (1998) e ‘Prometheus’ (2012). Um culto que encerra, provavelmente, a fórmula ideal: desafio e destreza.
Não admira, pois, que as competições e os campeonatos internacionais se multiplicassem. Em todo o Mundo, Portugal incluído, foram batidos recordes atrás de recordes nas mais diversas categorias e modalidades. Basta um olhar atento na net e logo encontramos centenas de participantes, incluindo portugueses, como Didier Ferreira, de 29 anos, que resolve o cubo em cerca de 16/17 segundos, ou Leandro Baltazar, que, segundo o site do World Cub Association, apresenta uma média de resolução de 14 segundos.
"Não descobri sozinho a resolução. Tive conhecimento de alguns métodos mas, a partir daqui, existe já a receita, embora haja uma primeira parte que a pessoa tem de aprender sozinha, depois é seguir a receita", afirma Pedro J. Freitas, explicando que, há 10 anos, por ocasião do 30º aniversário do cubo, foi publicado um método de resolução, no Boletim da Sociedade Portuguesa de Matemática.
OS GRANDES CRAQUES
O recorde atual pertence ao holandês Mats Valk, com 5,55 segundos para resolver o quebra-cabeças, obtido no ano passado. Mas, depois, existem as modalidades entre as modalidades e, aqui, os recordes e a destreza multiplicam-se. Há campeonatos só com ‘uma mão’, de olhos vendados, de diversas configurações geométricas, com complexidade (e angústia...) crescente.
"Ainda desperta muita paixão. Basta ir ao YouTube e encontra-se uma parafernália incrível: pessoas a fazerem cubos muito maiores (com quatro, cinco, seis, etc.), a fazerem o cubo de olhos vendados e até debaixo de água... Portanto, o fascínio mantém-se", acrescenta o professor universitário.
Mero objeto lúdico ou instrumento auxiliar no ensino da lógica? Nem uma coisa nem outra, no entender deste matemático, de 42 anos. "Há uma parte da Matemática que se chama teoria de grupos que tem alguma coisa a dizer sobre a resolução do cubo. Mas a ligação entre o cubo e esta disciplina é apenas a forma de pensar, porque quando alguém quer resolver um problema matemático precisa da lógica, persistência, atenção – desenvolve o estilo de raciocínio parecido com o necessário para se fazer Matemática", diz Pedro J. Freitas, que nunca desafiou nenhum dos seus alunos para decifrarem o enigma. E explica que há essencialmente dois métodos para tentar a resolução do cubo, ambos referenciados na net mas "de forma pouco precisa e incompleta". Quanto ao chamado algoritmo de Deus (resolução com um mínimo de movimentos), Pedro J. Freitas refere que em 2010 falou-se que seria possível resolver o enigma com 22 movimentos, o que é extremamente difícil, mesmo para os mais experientes.
"Tenho o cubo aqui em cima da minha secretária. Sei o método de cor e, de quando em vez, ainda vou testando a minha destreza, para não esquecer", acrescenta o matemático, recordando que atualmente existem muitos outro puzzles lógicos, que também estão a chamar a atenção. "O raciocínio lógico é o mesmo que se usa na matemática", sublinha o professor que, no entanto, não se mostra adepto da utilização do cubo no ensino. "Provavelmente que numa vertente paralela ao ensino ele possa ser utilizado para desenvolver as capacidades de raciocínio dos alunos", referindo um novo jogo que se está a tornar extremamente popular, o ‘2048’, que "também é um instrumento útil para treinar o raciocínio".
O ‘velhinho’ ícone dos anos 80 permanece vivo. Quiçá a sua fórmula, o seu raciocínio e a sua destreza expliquem a longevidade. Até hoje já se venderam mais de 400 milhões de cubos e há pelo menos 43 triliões de possíveis combinações...
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