Casado com uma mulher de direita, tem amizades nesse quadrante, mas foi uma imposição de José Sócrates ao PS.
Nas legislativas de 2009, quando estavam a ser feitas as listas para os deputados, o nome Conde Rodrigues ficou de fora do círculo de Santarém. Não gostou. Não gostou nada. Foi-lhe lembrado por José Sócrates que a sua profissão era a advocacia e que possuía um escritório. Menos gostou. Sentiu que lhe estavam a dar um grandessíssimo baile. E logo a ele, que tem pé pesado. Para o lugar de deputado de Santarém tinha, e repete-se, tinha que entrar alguém desconexo do Partido Socialista e que precisava da ajuda do PS. E lá entrou em fá maior. João Galamba. A determinada altura, a coisa, isto é, a sua candidatura, podia ter ido pelo cano abaixo. João Galamba chamara – escrevera, o que é pior – "filho da puta" a um adversário (João Gonçalves) que havia criticado João Constâncio, filho de Vítor Constâncio. O PS de Santarém manteve a confiança em Galamba, embora tenha enviado o recado: esperava que houvesse mais civismo.
No partido sediado no Largo do Rato há alguns militantes que não se riem da rápida ascensão de João Galamba. Choram para dentro e dizem que lutaram contra o Antigo Regime e, por conseguinte, mereciam um lugar na Assembleia. Lastimam-se que se encontravam na calha e que o rapaz do brinco chegou e zás, subiu e ultrapassou o tecto. Não é bem assim, sussurram outras laringes. Há ministros socialistas que chegaram à casa da sorte sem terem passado pela casa de partida. Uns andam depressa e outros de mota. É o caso. João Galamba tem uma e um Mini Cooper. Um piercing na orelha. E uma filha linda. Os músculos da garganta, enquanto sepultava verbalmente o séquito de Pedro Passos Coelho, chegavam à orelha. Ainda hoje chegam, se o assunto o enerva.
A sua prosa política, analisada só pelos olhos, é dura e distancia-se de poesia. Ele reconhece, às vezes, que exagera. É possível, imagine-se, que no passado tenha sido mais estridente e, agora, vá lá, anda calmo. Anda, anda. Impulsivo. Intenso. Apaixonado. É do Sporting. Idealista com dose pragmática, um conservador de esquerda. Casou na igreja para que a esposa recebesse o santo sacramento. Ele, não, não quis receber. É ateu, sem ser anticlerical, e de Deus apenas importa o pão-de-deus com fiambre que come ao pequeno-almoço, e de preferência amparado com uma meia de leite. João Galamba gosta do "rif", uma onda incrível que vai ao céu e cai na água na Ericeira. De rugby. E de massas italianas, de cerejas negras, do vinho tinto H.O, de trufas, das praias da Adraga e da Amoreira, da Costa Alentejana, de pessoas e de uma discussão honesta.
ÍNTIMO DA DIREITA
Alérgico à desonestidade intelectual, e a debates demagógicos, sabe que, quando a luta é civilizada, é possível construir encontros duradouros, amores perenes de outros nortes, e amizades improváveis. É caso para dizer: Deus escreve direito por linhas tortas. Em Outubro de 2009, casou-se com uma senhora de direita, a advogada Laura Abreu Cravo. Nem toda a gente desse hemisfério beija a imagem de Salazar. E isso salvou-lhe o amor. Aqueles que o conhecem fora da televisão e da Assembleia não ficaram com o queixo ao nível da rótula pelo facto de ter morrido de amores por uma eleitora madeirense do PSD, recém, digamos, convertida ao CDS-PP. Que se descubra o mistério de como um socialista com um discurso tão acrisolado, tão agudo, enfim, tão soprano-alto, é amigo, e muito, do social-democrata Miguel Frasquilho: "Conversamos sobre economia e política. Temos pontos de vista diferentes, mas mostramos esses pontos de vista de maneira civilizada. Temos confiança um no outro e almoçamos com frequência, agora menos devido ao meu trabalho." O presidente da AICEP aponta uma qualidade a Galamba, que está isenta de politiquice: "É um cozinheiro excelente." Peixe braseado, talvez tenha sido atum, "irrepreensível". O molho, caramba, o molho rondava o degrau XPTO.
O centrista Adolfo Mesquita Nunes seca toda a dúvida sobre a afeição entre duas pessoas de linhas distintas: "… Não perco um segundo a estranhar a minha amizade com o João, assim como não perco um segundo a estranhar a amizade com todos os meus amigos que pensam de forma diferente da minha." E que se aprenda: "O João transporta uma intensidade no debate, na defesa das suas convicções, que é reconhecida por todos, e que se manifesta da mesma forma quando estamos a conversar sobre outros assuntos que não a política. É uma intensidade natural, que faz parte dele, com a qual convivo perfeitamente, e que o tornou um dos principais deputados do PS." Adolfo Mesquita Nunes revela que ambos têm sentido de humor muitíssimo presente, sarcástico, mesmo em circunstâncias de maior tensão, e que nem sempre é bem interpretado. "Foi o que sucedeu na tomada de posse do efémero XX Governo, em que alguém me apanhou a perguntar-lhe, em clara provocação, se dali a 15 dias era ele a subir as escadas do Palácio da Ajuda para tomar posse, as mesmas escadas, que me cabia, naquele dia, subir." Riram da piada. A piada acabou por ser notícia. Mais se riram.
JUVENTUDE NA PRANCHA
João Saldanha de Azevedo Galamba nasceu no dia 4 de agosto de 1976, parte da adolescência viveu-a na Rua da Palmeira, ao Príncipe Real, em Lisboa. Com o divórcio dos pais, vai com a mãe para São João do Estoril e, ao contrário do que alguns leitores estarão a pensar, a família não ficou desestruturada.
Na primária, a professora Isabel Morais deu-lhe aulas de Gramática, Aritmética e Português na escola Árvore, onde o ensino se destacava pela criatividade e humanismo. Impossível esquecer um aluno que exigia uma paciência de santa: "O João era irrequieto, contestatário, um miúdo muito vivo. Ele precisava de ser convencido e de estar de acordo. Não aceitava nada sem ‘discutir’. E tinha imensa graça."
Um histórico socialista não só lhe acha graça, como diz que o porta-voz do PS veio dar uma lufada de ar menos poluído às bancadas parlamentares. Custou a despertar para a política, apesar da referência do pai, militante socialista, preso em Peniche e participante activo nos movimentos esquerdistas antes do 25 de Abril. João Galamba não se pode queixar; a temporada do cavaquismo passou-lhe literalmente ao lado. Praticava bodyboard e viajava. Nuno Trovão, que é o actual seleccionador nacional de bodyboard, perdeu a conta dos anos em que são amigos. Sabe que foi o mar que os aproximou. João Galamba teria 14 anos, passava as férias grandes na casa dos avós na Figueira da Foz. Um miúdo que parecia ser mais velho. Com o Nuno Trovão, as ondas e a estrada, fizeram este mundo e o outro mundo. "Nós tínhamos o mesmo estilo de vida: viver, viajar, experimentar coisas novas e praticar desporto." Sobretudo bodyboard, que na altura usufruía da fama de ser um exclusivo para malandros. Não eram.
O primeiro automóvel de João Galamba, um Fiat Uno, deu-lhes a liberdade urgente. O motor levou-os a tanto lugar. Do sudoeste francês tiveram que regressar mais cedo: "Fomos assaltados!" Enquanto pranchavam no oceano, os ladrões fanaram-lhes a roupa. Apenas com o fato de bodyboard, deslocaram-se à polícia e, de seguida, vieram para casa.
De avião, logo aos 18 anos, estiveram no Havai, via Amesterdão, logicamente. Não se ralaram de terem sido eliminados na etapa inicial da competição, e permaneceram um mês inteirinho no arquipélago no meio do oceano Pacífico não como parvos turistas. Em Portugal também se gozava a vida: "Queima das Fitas, praia da Arrifana, São João do Estoril e as miúdas do surf." E depois, o baile parou, aliás, amoinou.
João Galamba licencia-se em Gestão pela Universidade Nova de Lisboa, trabalha no Santander Negócios, a seguir em consultadoria, começa o doutoramento na London School of Economics. Mas cansa-se dos ingleses e volta para Portugal, onde ingressa no fantástico cosmo dos blogues. Funda o ‘Metablog’, desafiam-no para escrever no ‘5 dias’, depois a zanga dos participantes desse blogue impõe uma separação, uns ficam e outros vão para diferente endereço. João Galamba segue para ‘Jugular’.
A sua escrita desperta curiosidade de profissionais da política. Certo dia, ouve no seu telemóvel a voz de José Sócrates, que, assim resumidamente, lhe lança o convite em forma de pergunta: queres ser deputado? O Correio da Manhã noticiou, em fevereiro de 2010, que o ‘Simplex’, o blogue criado para apoiar a campanha eleitoral de José Sócrates, havia sido alimentado com os meios do Governo. João Galamba, um dos fundadores desse blogue, recebeu do Governo verbas pagas através de contratos de serviços por ajuste directo.
É improvável que João Galamba tenha vendido a sua opinião e as suas ideias a troco de um qualquer apoio. A pessoa que afirma esta sentença não dá a cara, mas dá a palavra de honra. E a honra, na política, já teve melhores dias.
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