Obra não é uma apologia de Gonçalo, muito menos da Pátria. De certa forma, é mesmo o contrário.
Todos os verões regresso a Eça de Queiroz. Desta vez optei por reler ‘ a Ilustre Casa de Ramires’. O que me irrita neste livro, como aliás em ‘A Cidade e as Serras’, é o facto de ainda haver portugueses que pensam que estas obras foram inteiramente escritas por Eça.
A história é mais complicada do que parece. Algures na década de 1890, ele começou a escrever um conto que intitulou ‘A Ilustre Casa de Ramires’. Um ano depois, a sua extensão levou-o a optar por um livro, tendo começado a publicar o texto, em folhetins, na ‘Revista Moderna’. O romance estava por acabar quando, em 1900, ele morreu.
O maior especialista na obra do romancista, Guerra Da Cal, considera que a ideia de levar o protagonista, Gonçalo Ramires, até África deve ter surgido a Eça, se surgiu, depois de publicados os folhetins, visto que neles nunca tal possibilidade foi aventada. Após a morte de Eça, a editora pediu a Júlio Brandão para corrigir umas provas. Dado o manuscrito ter desaparecido, não se sabe o que este terá mudado. Em rigor, desde meados do capítulo X, ou seja, desde a madrugada que antecedeu a sova que Ramires dá a Narcejas até ao fim, o texto é um ‘póstumo’. Sabendo-o, podemos contudo rir-nos com alguns diálogos.
Veja-se a cena em que uma irmã dele lê alto uma carta que uma parente lhe enviara sobre as andanças de Gonçalo. Relatava que, após quatro anos de África, regressara a Lisboa. Dizia ter enriquecido com coqueiros, cacau e borracha, mas que decidira que a vida em África não era para ele. Os presentes aproveitaram para discutir os méritos das colónias. Um deles, o administrador do concelho, considerava-as um fardo: "A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros e com sezões todos os anos. Boa para vender!"
A irmã de Gonçalo indignou-se, exclamando que eram terras que tinham custado a ganhar. Gouveia não se comoveu: "Quais trabalhos, minha senhora? Era desembarcar na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos... Essas glórias de África são balelas. Está claro, V. Excia fala como fidalga, neta de fidalgos... Mas eu como economista..."
‘A Ilustre Casa de Ramires’ é um semi-póstumo que a direita portuguesa resolveu enaltecer porque
é ignorante ou burra. Para começar, a figura de Gonçalo é patética. A história dos avoengos parece estar ali apenas para salientar a fraqueza do homem. Trutesindo, o antepassado medieval, podia ter uma alma bárbara, mas era um homem que cumpria a palavra dada, o que não sucede no caso do descendente. ‘A Ilustre Casa de Ramires’ não é uma apologia de Gonçalo, muito menos da Pátria. De certa forma, é mesmo o seu contrário.
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