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O grande paradoxo da arte

A beleza pode salvar-nos a vida; mas as exigências brutais dessa musa insaciável podem derrotar-nos no final

23 de dezembro de 2018 às 09:24

Lee Alexander McQueen era um rapaz do East End londrino, uma parte da cidade sem a elegância e a sofisticação de outros bairros. Mas um talento natural para a moda levou-o para Savile Row, primeiro, e para Itália, depois, como aprendiz do ofício. Quando regressou a Londres, com uma técnica apuradíssima, prosseguiu estudos na St. Martins. O resto, como se costuma dizer, foi história.

É essa história que Ian Bonhôte e Peter Ettedgui nos apresentam em ‘McQueen’, um dos grandes documentários do ano. Recorrendo a vídeos domésticos do próprio criador e a depoimentos dos seus colaboradores, Bonhôte e Ettedgui recriam uma época – a última década do século XX, a primeira do século XXI – para nos apresentarem um artista de génio, que fez da moda uma pessoalíssima questão pessoal, exorcizando os seus demónios em criações sombrias, oníricas, teatrais. "Um hooligan com uma agulha nas mãos", como o próprio se definia, embora talvez fosse mais exacto olhar para McQueen como um surrealista fora do tempo. As sequências em que McQueen, já director artístico da Givenchy em Paris, se entretém a usar generosamente a tesoura em criações solenes de ‘haute couture’ (para horror e assombro dos trabalhadores da casa) é um dos mais impressionantes momentos sobre a natureza selvática e prodigiosa de um artista dominado pela "loucura da arte".

Fatalmente, esta é também uma história de ascensão e queda, sobretudo quando as demenciais exigências da indústria arrastaram McQueen para a velha valsa da depressão e das drogas. A transformação física do criador, para não dizer metafísica (o seu olhar adquiriu uma dureza e ferocidade pungentes), é apenas um prenúncio para o fim trágico. O contexto em que esse fim se dá, e que obviamente não vou revelar, é o testemunho da grandeza e da fragilidade que definiam McQueen como artista.

‘McQueen’, em rigor, não é um documentário sobre moda. É uma reflexão sobre o grande paradoxo da arte. A beleza pode salvar-nos a vida; mas as exigências brutais dessa musa insaciável podem derrotar-nos no final.

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