Perseguições põem o Estado em causa
O procurador-geral da República esteve ontem reunido com Carlos Teixeira, o magistrado que tutela o processo ‘Apito Dourado’. Pinto Monteiro diz que ficou estupefacto quando soube que o procurador do Tribunal de Gondomar tinha sido perseguido em 2004.
A Procuradoria-Geral da República vai investigar a perseguição de que foi alvo o magistrado titular do processo ‘Apito Dourado’, Carlos Teixeira, em 2004, nas ruas de Gondomar.
“Quando um magistrado do Ministério Público é perseguido, o próprio Estado fica em causa”, disse ontem ao CM o procurador-geral da República, Pinto Monteiro. minutos depois de se ter reunido com Carlos Teixeira, em Lisboa, durante pouco mais de duas horas.
Pinto Monteiro assegurou, ainda, que “tudo” o que diga respeito ao processo de corrupção no futebol português “tem e vai ser devidamente investigado”.
No caso da perseguição a Carlos Teixeira, o procurador-geral não escondeu que ficou estupefacto quando leu a notícia no CM: “Só no domingo é que fiquei a saber que esse facto tinha acontecido. Quando um magistrado do Ministério Público é perseguido, naturalmente que têm de tomar-se todas as medidas necessárias. Como já referi, as perseguições a procuradores do Ministério Público põem em causa o próprio Estado.”
O sucessor de Souto Moura não quis revelar se Carlos Teixeira lhe disse quem é que o perseguiu nas ruas de Gondomar, pouco tempo depois (Abril de 2004) de terem sido detidos os primeiros arguidos do processo ‘Apito Dourado’ casos de Pinto de Sousa e Valentim Loureiro.
Na entrevista que o CM publicou no passado domingo, Carlos Teixeira admitiu que reconheceu a pessoa que o perseguiu em 2004, recusando divulgar se foi um arguido do processo que titulava. “Não posso falar sobre isso. Digo, apenas, que reconheci o indivíduo, apesar de ele ter tentado esconder a cara com o braço quando parei o meu carro ao lado do dele”, afirmou Carlos Teixeira, que, em Abril de 2004, chegou a ter protecção policial.
Quanto à reunião com o magistrado do Tribunal de Gondomar, Pinto Monteiro, que esteve acompanhado pelo vice-procurador-geral da República, Agostinho Homem, adiantou que serviu para se inteirar do processo ‘Apito Dourado’: “Posso dizer apenas que correu bem. Agora já estou a par de tudo.”
O procurador-geral disse também que já leu o livro de Carolina Salgado, ex-companheira de Pinto da Costa: “Não vou dizer, por enquanto, o que penso do assunto. Só amanhã ou depois é que a procuradoria vai emitir um comunicado sobre o assunto.”
Carlos Teixeira, que abandonou o local num carro da procuradoria, recusou prestar qualquer declaração sobre a reunião que teve ontem à tarde com Pinto Monteiro.
MOURÃO PEDIU PROTECÇÃO POLICIAL
O juiz Pedro Mourão, ex-presidente da Comissão Disciplinar da Liga que tentou investigar o processo ‘Apito Dourado’ no âmbito da Justiça desportiva, garante que este atrevimento lhe provocou dissabores, tendo mesmo sido ameaçado e obrigado a pedir protecção policial.
“Um árbitro internacional no activo ameaçou-me de forma indirecta, através de uma jornalista, dizendo para eu não mexer no processo ‘Apito Dourado’. Tive de pedir protecção às autoridades competentes”, afirmou ao CM. O juiz não revela o nome do árbitro para proteger a jornalista.
ALÍPIO RIBEIRO AGUARDA POR INVESTIGAÇÃO
A Polícia Judiciária começou esta semana a investigar um processo sobre o alegado envolvimento de um seu antigo inspector-chefe na vigilância a magistrados, incluindo perseguições, em Gondomar. De acordo com fonte da direcção da PJ, foi uma notícia avançada pelo CM que levou os responsáveis a iniciar o processo interno – que é independente das investigações que o procurador-geral da República anunciou ontem, em Lisboa, após a reunião com Carlos Teixeira.
As revelações do livro ‘Eu, Carolina’ sobre a fuga de informação da PJ do Porto – que permitiu a fuga de Pinto da Costa – também estão a ser investigadas, mas com o Ministério Público a dirigir.
MOURINHO CRENTE NA TECNOLOGIA
Numa entrevista ao jornal ‘Expresso on-line’, José Mourinho afirmou não estar atento ao processo ‘Apito Dourado’ simplesmente porque não consegue “acompanhar um processo que dura cem anos”. O treinador do Chelsea tem, porém, uma opinião sobre os contornos fulcrais deste caso: “Só a tecnologia poderá melhorar as coisas. Reduz os erros e, ao reduzi-los, reduz a crítica e a suspeição. E reduz a responsabilidade dos árbitros. A tecnologia no futebol é o fim de todos os ‘apitos dourados’ que possam existir”, afirmou.
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