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Cilada em negócio de cobre roubado

Casal e amigo búlgaros levavam 10 mil euros para comprar material a ladrões perigosos, que os terão executado a tiro.

20 de dezembro de 2010 às 00:30

Quando partiram em direcção ao Alentejo, na quarta--feira de madrugada, já sabiam que os esperava um negócio arriscado. Com um grupo "perigoso". Habituados a comprar sucata para revenda, o casal búlgaro Vascil e Sasca, 55 e 50 anos, e o amigo Yriacen, de 39, não conseguiram recusar uma boa oferta e fizeram-se à estrada, de Palmela até Aljustrel, na carrinha do patrão. Levavam dez mil euros para comprar cobre e alumínio roubados, mas já não deram mais sinal de vida. Os três caíram numa emboscada. Foram executados a tiros de caçadeira – e a Polícia Judiciária procura o grupo de ladrões de cobre. Já referenciados.

A carrinha Mitsubishi das vítimas accionou a Via Verde nas portagens da A2 pelas 05h30 de quarta-feira. Sabe-se que não foram assassinados logo nesse dia – uma vez que os agricultores que encontraram os cadáveres, às 09h00 de sábado, na herdade do Monte de Valverde, tinham atolado um tractor no local do crime na quinta-feira. E nada viram. O que aponta para o rapto das vítimas num local próximo entre quarta-feira e o fim-de-semana. Até à execução. De quarta a sábado, os telemóveis dos três imigrantes estiveram ligados mas ninguém atendia, o que levou amigos a alertar a GNR.

Vladimir Yurokov, amigo e vizinho das vítimas na Quinta do Conde, em Sesimbra, recorda: "Terça-feira à noite falaram-me que iam fazer um negócio perigoso porque eram pessoas que trabalhavam com cobre e alumínio roubados. Nós nunca mais soubemos nada deles."

Os amigos dos búlgaros e o patrão no negócio das sucatas já foram ouvidos pela PJ, que procura o grupo suspeito. Estão referenciados por roubos de cobre dos postos de transformação (PT) e dos pivôs de rega no Alentejo. A maioria dos ataques ocorre nos concelhos de Aljustrel, Ferreira do Alentejo e Castro Verde. Um PT pode custar 15 mil euros, e o metro de fio de cobre 10 euros. Os ladrões de cobre vendem-no a metade do preço.

SASCA VEIO TER COM O MARIDO A PORTUGAL EM OUTUBRO PASSADO

Vascil e Yriacen, de 55 e 39 anos, respectivamente, estavam em Portugal há três anos, onde começaram a trabalhar na compra de ferro-velho para posteriormente ser vendido em sucatas. Sasca só chegou ao nosso país em Outubro para trabalhar com o marido. Os três viviam num anexo alugado na Quinta do Conde, em Sesimbra. Os vizinhos recordam-nos como pessoas educadas e trabalhadoras. "Não faziam mal a ninguém. Estavam sempre a trabalhar e a arranjar forma de encontrar material para vender", disse ao CM o vizinho António Pereira.

COMPRAVAM EM OFICINAS PARA VENDER EM SUCATAS

As três vítimas abatidas a tiro trabalhavam por conta própria. Compravam vários materiais a oficinas para as vender depois em sucatas. Uma delas é a Resisperfil, Lda, sediada em Palmela, com a qual trabalhavam. A empresa, presidida por Manuel Augusto Moleiro, valoriza todo o tipo de resíduos metálicos, mas, contactado ontem pelo CM, o proprietário não quis prestar declarações. "Eles não imaginavam que este negócio os levaria à morte. Viviam bem e pensavam que era rentável. Agora os filhos ficaram sozinhos", diz o amigo Metori.

"ESTRANGEIROS SUMIRAM DA SUCATA"

A sucata da Resisperfil é malvista pelos vizinhos devido a várias confusões geradas pelo transporte dos materiais. Uma das moradoras junto àquela empresa disse ao CM que durante meses trabalharam

naquele espaço vários estrangeiros, "mas que de repente sumiram". "Ultimamente não eram vistos porque quem aí trabalha tem armas", disse Olinda, revoltada. Ao que o CM apurou, na passada quinta-feira um dos trabalhadores envolveu-se em discussão com um dos vizinhos, que não queria deixar passar uma das máquinas retroescavadoras no seu terreno. "Tivemos que chamar a GNR. Comecei a ouvir gritos, mas quando vi a caçadeira nas mãos é que telefonei logo para a polícia", disse ontem ao CM a mulher de 65 anos.

TRANSPORTADOS PARA A MORTE NUM MONTE EM RUÍNAS

Quem armou a execução dos três búlgaros conhecia na perfeição a herdade do Monte de Valverde, Aljustrel. Primeiro levou as vítimas na carrinha para junto de um monte em ruínas – onde deixaram rasto de pneus. Mas como estavam próximos da estrada para Escanchadas (100 metros), conduziu-as para outro monte (na foto) a mais de 500 metros do alcatrão. Foi neste lugar ermo que ocorreu o triplo homicídio, entre a noite de quinta-feira e a madrugada de sábado .

"Deviam estar sob ameaça de arma. Ninguém vem para aqui porque quer", frisou João Colaço, um dos três agricultores que se depararam com os corpos. O macabro achado deu-se na manhã de sábado, pelas 09h00, quando os agricultores, residentes em montes vizinhos, se preparavam para desatolar um tractor, imobilizado no terreno desde quinta-feira.

"Mataram as pessoas depois deste dia", diz João Colaço, acrescentando que a carrinha estava encostada à parede traseira do monte, e um dos corpos, do motorista e mais novo das vítimas, deitado de costas na estrada de terra, a 10 metros da viatura. Apresentava um tiro na zona lombar. O casal estava deitado de bruços junto à viatura. Foi executado à queima-roupa.

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