O negócio para António Barão era simples. Recebia os 200 mil euros, em notas, e Bruno Ramos podia levar os dez quilos em ouro que ele guardava em dois sacos na mala do carro. A 20 euros a grama.
Era o que estava combinado, foi para isso que se encontraram a 10 de Março, à luz do dia, no parque de estacionamento do McDonald’s de Massamá, Sintra. Mas Bruno não queria comprar, tal como três agentes da PSP que chegaram de repente, com crachás e armas em punho, não queriam prender. Era uma armadilha – e o empresário, sequestrado e agredido à bofetada, ficou sem o ouro.
Este ataque, segundo a acusação da Unidade Especial de Combate ao Crime Violento do DIAP de Lisboa, a que o CM teve acesso, faz parte de um esquema de roubos e extorsões montado por Sebastião Malheiro de Sousa, velho conhecido da polícia por ‘Zé Saloio’, e Bruno Ramos. Os dois contaram com outros oito elementos – e entre os quais os polícias Bruno Baptista, Jorge Pelica e Fernando Monserrate, de 32, 34 e 45 anos, respectivamente, sendo que este último foi o motorista de Orlando Romano enquanto este era director nacional da PSP (ver caixa). Todo o gang foi desmantelado pela Unidade Contra-Terrorismo da Judiciária.
Na tarde de 10 de Março, o empresário que pensava estar a fechar um negócio de ouro acabou algemado no banco de trás de um carro e agredido com "várias bofetadas" até ser abandonado, ao fim de mais de 25 minutos, na zona do parque florestal de Monsanto. E já sem o ouro.
O grupo tem mais um roubo do género, desta vez a vítima foi um empresário da construção civil, em Monção, convencido de que ia fechar um negócio imobiliário a 14 de Maio. A vítima foi atraída a uma casa, onde Sebastião Malheiro entrou de metralhadora G3 e Bruno Ramos de pistola. Disseram ser da polícia e roubaram uma mala com 213 mil euros.
AGENTE TRAFICA COM ALEMÃO
Um dos polícias acusados pelo Ministério Público, Jorge Pelica, terá também de responder por um crime de tráficode droga. Segundo o DIAP, temligações ao grupo conhecido por ‘Máfia da Noite’ e venderia cocaína em parceria com Pedro França Alemão, entretanto preso.
PORMENORES
COBRANÇA DIFÍCIL
Um dos crimes de extorsão imputados a Sebastião Malheiro de Sousa e a outros elementos diz respeito à cobrança difícil ao dono de um stand de automóveis em Julho de 2008. Se não pagasse 150 mil euros acabava na mala do carro. Avisaram-no de que sabiam qual era o colégio das suas filhas.
ARSENAL EM CASA
O polícia Jorge Pelica tinha em casa dezenas de munições, além de um bastão extensível. Quanto a Bruno Baptista, a PJ apreendeu--lhe um revólver, três pistolas, uma caçadeira, bastões, algemas, sprays paralisantes, dois aparelhos de choques eléctricos (Taser) e dezenas de munições.
CRIMES DO CABECILHA
Sebastião Malheiro de Sousa, o cabecilha, é acusado pelo DIAP por seis crimes de roubo agravado, sequestro agravado, extorsão na forma tentadae detenção de arma proibida.
ASSALTANTE CONDUZIA O DIRECTOR DA PSP
O agente Fernando Monserrate, segundo o Ministério Público, "exercia funções num departamento em que tinha acesso a informação privilegiada, designadamente a matrículas de todas as viaturas da PSP e a acções policiais em preparação". Daí parte da sua utilidade para trabalhar "em part-time" para o grupo criminoso chefiado por Sebastião Malheiro de Sousa. Mas Fernando Monserrate, apurou o CM, além de trabalhar na Direcção Nacional da PSP, era mesmo o motorista de serviço de Orlando Romano, elemento da confiança do procurador nos anos em que este ali desempenhou funções como director nacional.
Na busca que a Judiciária fez à casa de Monserrate, acusado por cinco crimes de roubo agravado, um de sequestro agravado e dois de detenção de arma proibida, os investigadores encontraram dez pistolas e revólveres, três carabinas, uma caçadeira, vários bastões, matracas, uma soqueira, um silenciador, spray, facas, gorros e luvas, entre vários crachás da PSP.
INVESTIGAÇÃO DA UNIDADE ESPECIAL DO DIAP E ELITE DA PJ
A investigação ao grupo violento chefiado por Sebastião Malheiro de Sousa, que contava com três polícias em crimes de extorsão e roubo, foi conduzida pela Unidade Nacional Contra-Terrorismo (UNCT) da PJ, liderada por Luís Neves, sob coordenação da Unidade Especial de Combate ao Crime Violento do DIAP de Lisboa, dirigido por Maria José Morgado. A PJ avançou para dez detenções pela prática de vários crimes e, depois de presentes ao juiz de instrução criminal, três dos suspeitos aguardam julgamento em prisão domiciliária, com pulseira electrónica: Sebastião Malheiro de Sousa e os polícias Fernando Monserrate e Jorge Pelica. Os restantes sete estão em liberdade, com excepção de um que está a cumprir pena noutro processo.
PSP QUER JULGAMENTO RÁPIDO
A Direcção Nacional da PSP manifestou ontem o desejode um julgamento rápido para os três agentes envolvidos no processo que, segundo a acusação do Ministério Público, "utilizaram ilicitamente" a profissão para cometer os alegados crimes. Escusando-se a comentar o processo, o porta--voz da PSP adiantou que a vontade da Direcção Nacional é ver o caso julgado "o mais rápido possível", até porque "a sanção disciplinar interna está dependente do desfecho deste". Os três agentes estão suspensos das funções policiais desde Julho, altura em que foram detidos. "A PSP promoveu os respectivos processos disciplinares, que aguardam a aplicação, com trânsito em julgado, das penas criminais", esclareceu ontem o comissário Paulo Flor.
NOTAS
GRUPO: FALSIFICAÇÃO
A criação do grupo começa em Sebastião Malheiro de Sousa e Bruno Ramos, que se dedicavam à falsificação de documentos
CADEIA: TRÊS ANOS
Sebastião tem ainda três anos de cadeia para cumprir por falsificação de documentos e auxílio à imigração ilegal
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