Nunca na História da democracia a direita foi tão dominante

O resultado das eleições de maio último, não deixam dúvidas: a direita arrasa a esquerda.

28 de dezembro de 2025 às 17:00
Nas legislativas de 2025, a AD reforçou a maioria. A grande surpresa foi o Chega, que tem hoje 60 deputados. O PS continuou a cair Foto: José Sena Goulão/Lusa
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A história que vai sendo feita tem o hábito de perturbar a história que muitos quiseram fazer. Os anos 2024 e 2025 estavam para ser aqueles em que, sob o magistério do partido dominante da democracia portuguesa, o PS, se celebrariam com aparato os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e da transição para a democracia entre 1974 e 1975. Sentado numa maioria absoluta que devia durar até 2026, o PS, que já tinha criado em 2021 uma comissão comemorativa do 25 de Abril, esperava alardear a sua predominância política no País, fundando-a na história das origens da democracia portuguesa. Estava para ser a consagração da democracia do PS. Foi então que tudo começou a correr mal. A maioria absoluta caiu e o cenário político começou a ser agitado por um partido cuja fidelidade à democracia criada em 1974-75 é no mínimo ambígua, o Chega.

As eleições de 2024 foram percorridas por um ambiente de pânico pelo regresso do fascismo, caso o Chega se aproximasse do poder. Mas o PS perdeu para a AD, mesmo se por pouquíssimo, e o Chega teve mais de um milhão de votos, aproximando-se muito do PS e do PSD. E o pior estava para vir: tendo-se aberto outra crise política no início de 2025, houve novas eleições em maio, que a AD ganhou mais folgadamente, enquanto o PS e a esquerda se afundaram e o Chega, com apenas menos cinco mil votos do que o PS, o ultrapassou em deputados. Nunca na história da democracia portuguesa a direita foi tão dominante e nunca o PS tinha descido ao terceiro lugar. O segundo lugar do Chega nas eleições legislativas de 18 de maio foram, por isso, o facto político dominante do ano.

A importância do resultado do Chega vai para além desta aritmética partidária, pois mostra uma insatisfação dos portugueses com a democracia que tão afincadamente se quis comemorar. Muitos parecem estar zangados com ela e, a avaliar pela sociologia e geografia dos votantes no Chega, os principais insatisfeitos são jovens, homens, com graus de qualificação menos elevados do que os votantes na AD e no PS, originários de zonas anteriormente em larga medida dominada pela esquerda, do PCP ao PS, como o Alentejo, o Algarve e algumas zonas das periferia de Lisboa, indo até Setúbal. É uma grande traição do povo à “esquerda de Abril”. Dois desenvolvimentos terão ajudado à afirmação do Chega. Um, a sucessão de eleições, que criou um ambiente de descrença no sistema político – de resto, sem essa sucessão, ninguém provavelmente teria dado conta do crescimento do Chega, pois neste momento ainda António Costa seria primeiro-ministro, apoiado numa maioria absoluta. O outro, o incrível crescimento da imigração, que acrescentou um milhão ou mais de pessoas ao País em poucos anos, originando tensões sociais e culturais exploradas pelo Chega. A questão não se vai ficar por 2025, continuará a fazê-lo nos próximos anos.

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