Livre fez campanha a sonhar ser "partido autárquico" com IL quase sempre na mira
Rui Tavares diz que foi a partir das últimas eleições autárquicas que o partido se reergueu: um ano depois, em 2022, regressou ao parlamento, onde hoje já tem seis deputados.
O Livre partiu para a campanha das autárquicas com o objetivo de aumentar a sua implantação local, ainda reduzida, sem nunca deixar de apontar a mira à Iniciativa Liberal, alvo principal de Rui Tavares.
"O Livre é um partido autárquico, não se esqueçam disso". A frase é de Rui Tavares, porta-voz do partido, que em diversas ocasiões durante a campanha para as autárquicas de domingo tentou sustentar a tese de que o Livre não se esgota na sua representação parlamentar.
Recuando a 2021, ano em que Joacine Katar Moreira passou a deputada não inscrita e o Livre perdeu representação na Assembleia da República, Tavares argumentou que foi a partir das últimas eleições autárquicas que o partido se reergueu: um ano depois, em 2022, regressou ao parlamento, onde hoje já tem seis deputados.
Nas autarquias, contudo, o panorama é diferente: o Livre conta apenas com oito eleitos municipais e estas serão as terceiras eleições autárquicas nas quais concorre desde a sua fundação, sendo estreante em muitos concelhos e freguesias.
A campanha eleitoral mostrou que a implantação local do Livre ainda tem caminho a fazer, com iniciativas que contaram quase sempre com apenas duas dezenas de participantes e se dividiram por dois périplos: um com Rui Tavares, outro com Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar e também porta-voz.
A mobilização foi maior em concelhos como Lisboa, Sintra e até Coimbra, locais onde o partido concorre coligado à esquerda e apoia três antigas ministras socialistas: Alexandra Leitão, Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa.
Também no Porto, cidade na qual vai a jogo sozinho e onde elegeu dois deputados nas últimas legislativas, os militantes participaram em maior número.
Antecipando que o Livre irá acabar por ultrapassar a Iniciativa Liberal (IL) como quarta força política nacional, os liberais estiveram quase sempre na mira dos discursos e declarações de Rui Tavares.
O porta-voz repetiu em diversas ocasiões que a IL pretende despedir funcionários municipais, pedindo "coragem" a Mariana Leitão para dizer quantos, e exigindo saber se essas contrapartidas estão incluídas em acordos de coligação com o PSD e o CDS-PP.
Mas foi no tema do Médio Oriente que a troca de acusações subiu de tom: ao quinto dia de campanha, a líder da IL responsabilizou Livre e BE de incentivar "atos de vandalismo" após uma manifestação pró-Palestina em Lisboa.
Tavares acusou a liberal de desespero e exigiu um pedido de desculpa, algo que não aconteceu, com Mariana Leitão a devolver que o deputado do Livre tem "um discurso sonso", colando-o à "extrema-esquerda".
Além dos ataques diretos à IL, Rui Tavares foi deixando algumas indiretas à CDU, coligação PCP e Partido Ecologista "Os Verdes", dizendo que o Livre rejeitou tratar o país como "chapa cinco" ao concorrer em todos os municípios da mesma forma.
A aposta passou pela convergência à esquerda, que o partido tanto defende: de um total de 49 candidaturas, em cerca de metade o Livre juntou-se a PS, BE ou ao PAN.
No âmbito dessas coligações, os porta-vozes do Livre estiveram muitas vezes em ações de campanha com dirigentes do BE, como Marisa Matias, que substituiu a coordenadora bloquista até ao regresso de Mariana Mortágua a Portugal, após ter sido detida em Israel.
Muitas vezes interrogado sobre o porquê de em determinados locais concorrer em coligação e noutros não, Tavares insistiu que o partido tem que preservar "a credibilidade da papoila no boletim de voto", numa referência ao símbolo do Livre, acrescentando que "o povo é inteligente" e sabe distinguir realidades.
Quanto a metas eleitorais, Rui Tavares nunca especificou um objetivo concreto, ambicionando apenas "crescer" e ter "mais autarcas do que deputados" no parlamento a partir do próximo dia 12.
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