Mais de 30 países ameaçam bloquear acordo final por falta de roteiro "credível" para energias fósseis

Presidente da COP30 está sob pressão de cerca de 200 países reunidos em Belém desde a semana passada para elaborar um texto capaz de alcançar um consenso.

21 de novembro de 2025 às 08:28
30ª Conferência das Nações Unidas (COP30) em Belém, Brasil Foto: Fernando Llano/AP
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Mais de trinta países escreveram na quinta-feira à presidência brasileira da conferência climática da ONU (COP30) a pedir que reveja a proposta de acordo final e inclua um roteiro para a eliminação gradual das energias fósseis.

O presidente da COP30 - que termina esta quinta-feira-, o diplomata André Correa do Lago, está sob pressão de cerca de 200 países reunidos em Belém desde a semana passada para elaborar um texto capaz de alcançar um consenso, de acordo com as regras da COP.

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O último rascunho do texto, consultado na quinta-feira pela agência France Presse, não faz menção às energias fósseis.

"Estamos profundamente preocupados com a proposta atual, a aceitar ou a rejeitar", escrevem a Colômbia, França, Reino Unido, Alemanha, entre mais de três dezenas de países, de acordo com uma lista fornecida pela delegação colombiana à AFP.

A França e a Bélgica confirmaram a assinatura.

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"Devemos ser honestos: na sua forma atual, a proposta não cumpre as condições mínimas para um resultado credível nesta COP", continuam os países.

"Não podemos apoiar um texto que não inclua um roteiro para uma transição justa, ordenada e equitativa para a eliminação dos combustíveis fósseis", escrevem ainda.

A saída do petróleo, carvão e gás, amplamente responsáveis pelo aquecimento global, voltou com força ao debate em Belém, embora o assunto parecesse impossível de ser reacendido desde um primeiro apelo na COP28, no Dubai, há dois anos.

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O próprio Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou na abertura da COP30 a ideia de um roteiro e o primeiro rascunho de texto apresentado na terça-feira pelo Brasil apresenta opções a serem negociadas. Mas o tema está longe de ser consensual entre os quase 200 países presentes.

Porém, segundo um negociador em declarações à AFP sob condição de anonimato, a China, a Índia, a Arábia Saudita, a Nigéria e a Rússia rejeitaram a proposta.

Um grupo de cientistas classificou como provocatórias as propostas de roteiros para a eliminação dos combustíveis fósseis e para o fim da desflorestação conhecidas até agora na conferência do clima de Belém.

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Os cientistas referiam-se ao texto divulgado na terça-feira pela presidência COP30, que sobre a intenção de abandonar os combustíveis fósseis sugere três opções: organizar um 'workshop' para as partes partilharem histórias de sucesso; convocar uma reunião ministerial de alto nível para ultrapassarem progressivamente a sua dependência dos combustíveis fósseis e uma terceira opção sem qualquer texto.

"Um roteiro não é um 'workshop' ou uma reunião ministerial. Um roteiro é um verdadeiro plano de trabalho que nos mostre o caminho desde onde estamos até onde queremos estar e como chegar lá", escrevem sete cientistas, incluindo alguns conselheiros da presidência da COP30, numa declaração publicada na quarta-feira.

Em declarações a jornalistas portugueses na quarta-feira à noite, à margem de um evento organizado em Belém pela Fundação Oceano Azul, um desses cientistas, o diretor do Instituto Postdam para a Investigação do Impacto Climático enfatizou a urgência de aprovar verdadeiros roteiros nestes dois temas.

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"A situação é urgente e por isso apoiamos tão fortemente um roteiro para acelerar o abandono dos combustíveis fósseis (...). Um roteiro deve ser um plano de trabalho, deve ter quantificações para todos os países, com o que deve acontecer em 2026, 2027, 2028. É agora, não podemos adiar isto", disse Johan Rockström.

Para Johan Rockström, o caminho é claro: "Sabemos cientificamente que daqui para a frente temos de reduzir as emissões globais em 5% por ano e estamos atualmente a aumentar 1% por ano. Os melhores planos em cima da mesa aqui na COP30 vão reduzir as emissões em 5%, mas é ao longo de 10 anos. Ou seja, 10 vezes mais devagar do que deveriam".

O que os cientistas pedem é "o mínimo exigível, nem sequer é um caminho ambicioso, é só para evitar um perigo muito provável para milhares de milhões de pessoas no mundo", pelo que a proposta da presidência da COP30 é vista como uma provocação: "Simplesmente não é sério".

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Johan Rockström recordou que o roteiro também tem de incluir a questão do financiamento, de como ajudar as economias emergentes e em desenvolvimento a abandonarem o carvão.

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