Trégua cada vez mais ameaçada em Gaza
Combates entre as forças israelitas e o Hamas abrandaram desde o cessar-fogo acordado no mês passado, mas nunca cessaram completamente.
Israel, Hamas e, desde quinta-feira, Arábia Saudita e Qatar estão envolvidos numa troca de acusações, com os árabes a apontar o dedo ao Estado judaico, responsabilizando-o por violações sistemáticas do cessar-fogo na Faixa de Gaza, e os israelitas a culparem os radicais palestinianos de não estarem interessados na trégua ao atacarem as tropas de Telavive. A tensão agudizou-se com o ataque, na quinta-feira, por parte das Forças de Defesa de Israel (FDI), a um prédio no Bairro de Zeitoun, que seria ocupado por altos oficiais do Hamas. O ataque das FDI, em retaliação por disparos efetuados por elementos do movimento radical palestiniano contra militares israelitas posicionados junto à chamada linha amarela de Gaza, estendeu-se ainda ao Sul do território. A cidade de Khan Yunis foi a visada pela ofensiva aérea israelita, uma das mais violentas desde o início da trégua e que, segundo as autoridades sanitárias em Gaza, ligadas ao Hamas, terá provocado 25 mortos.
Já na quarta-feira, numa altura em que uma dezena de jornalistas – incluindo o enviado do CM – estavam numa rara visita à Faixa de Gaza, incorporados com as FDI, junto ao Bairro de Shejaiya, na destruída cidade de Gaza, uma violenta troca de tiros de metralhadora entre o Hamas e forças judaicas indiciava a dificuldade que será a manutenção da paz no enclave palestiniano. O Hamas tem recusado a deposição das armas e sem essa condição será muito difícil a passagem para os pontos seguintes do plano de paz desenhado pela administração norte-americana de Donald Trump e rubricado pelas partes envolvidas no Egito. O Exército israelita tem denunciado ataques sistemáticos do Hamas contra posições israelitas junto e até para leste da linha amarela, uma zona que demarca o controlo judaico de Gaza. Mas Israel não denuncia apenas estes ataques. Acusa o grupo palestiniano de estar a tentar rearmar-se com o objetivo de voltar à guerra, que, no terreno, apenas abrandou sem nunca ter efetivamente parado. Já o Hamas acusa Israel de sistemáticas violações do cessar-fogo, sem mostrar disponibilidade para desarmar, nem devolver os reféns mortos ainda em posse do movimento, outra das condições para o processo de pacificação seguir em frente.
Esta instabilidade levou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar a condenar “veementemente” os ataques israelitas e a considerar que esta escalada pode minar os esforços de paz, manifestando ainda uma “posição firme e inabalável em apoio à causa palestina”. Os sauditas também criticaram Israel, mas alargaram o protesto às ações militares que as FDI também estão a executar no Sul do Líbano e denunciaram a visita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao Sul da Síria, onde também têm ocorrido investidas dos militares israelitas.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt