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Israel já destruiu mais de 1500 edifícios em Gaza. Haverá violação do acordo de cessar-fogo?

Plano de paz para o Médio Oriente referia que "todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, seriam suspensas". Entrou em vigor a 10 de outubro.

13 de novembro de 2025 às 15:13

Desde o cessar-fogo com o Hamas, iniciado a 10 de outubro, que Israel já destruiu mais de 1500 edifícios em áreas de Gaza sobre as quais ainda mantém o controlo. Os números da destruição são avançados pela BBC Verify que analisou imagens de satélite recentes. Esta fonte refere que o número de edifícios destruídos pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) pode ser superior aos divulgados, uma vez que, nem todas as imagens de satélite estão disponíveis para verificação.

Segundo alguns especialistas, estas demolições podem significar a violação do acordo de cessar-fogo anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Isto porque o plano de paz para o Médio Oriente referia que "todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, seriam suspensas". Os edifícios, analisados pela BBC, localizam-se atrás da Linha Amarela - fronteira que percorre o norte, sul e leste de Gaza - que Israel concordou em retirar as suas forças, assim que foi assinado o acordo de cessar-fogo.

A mesma fonte menciona que, quando comparadas as imagens de satélite existentes dos mesmos edifícios, no início da guerra a outubro de 2023 e pela data do cessar-fogo, as alterações verificadas são poucas. Mas, entretanto, o cenário mudou. A cidade de Abasan al-Kabira no sul da Faixa de Gaza, por exemplo, está agora reduzida a escombros. Muitos edifícios que pareciam intactos, antes do acordo de paz entrar em vigor, estão agora destruídos.

Lana Khalil, que morava em Abasan al-Kabira, descreveu a sua antiga casa como um "paraíso". Lana foi deslocada para al-Mawasi. Dentro da própria cidade de Gaza, a destruição continuou depois do passado dia 10 de outubro, tendo-se verificado no bairro oriental de Shejaiya e perto do hospital indonésio nos arredores do campo de refugiados de Jabalia.

À BBC Verify, as Forças de Defesa de Israel dizem que estão a cumprir o plano de paz. Eitan Shamir, ex-chefe do Departamento de Doutrina de Segurança Nacional do Ministério de Assuntos Estratégicos de Israel, disse à BBC que o Exército israelita considera que se "o Hamas tem permissão para fazer o que quiser no território que controla, Israel tem permissão para fazer o que quiser no território que controla."

De acordo com o ponto 13 do acordo, toda a "infraestrutura militar, terrorista e ofensiva, incluindo túneis e instalações de produção de armas, será destruída e não reconstruída".

Eitan Shamir considerou que as ações das IDF não constituem violação do cessar-fogo, argumentando que os termos do plano não se aplicam às áreas da Faixa de Gaza além da Linha Amarela. No entanto, nas redes sociais têm sido partilhados vídeos de destruições de prédios em áreas atrás da Linha Amarela.

O especialista Adil Hanque defende que Israel pode estar a violar as leis da guerra que proíbem que propriedade civil seja destruída por forças ocupantes. O professor de Direito da Universidade Rutgers, nos EUA, refere que, estando um acordo de cessar-fogo em vigor, "não é plausível que uma destruição tão significativa de bens civis tenha sido absolutamente necessária para operações militares".

A mesma opinião é partilhada por Hugh Lovatt, elemento do Conselho Europeu de Relações Exteriores, que afirma que estas demolições verificadas em algumas áreas de Gaza podem comprometer o plano de paz.

"O problema das demolições israelitas aumentará quanto mais tempo Israel permanecer na zona atrás da Linha Amarela. Em última análise, a sensação de que Israel está a protelar a sua retirada e a procurar criar novos factos permanentes no terreno, tal como fez na Cisjordânia, tornar-se-á uma ameaça cada vez maior à manutenção do cessar-fogo", explicou Hugh Lovatt. 

Shamir revelou à BBC que Israel acredita ser improvável que o grupo palestiniano cumpra a segunda etapa do acordo. Nesse sentido, as IDF consideram que "o espaço deve ser preparado para a continuação dos combates, para não lhes dar nenhuma opção de emboscar os soldados".

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