“Solução deve ser aceitável para todos”: EUA e Rússia vão avançar com “negociações" para acabar com a guerra na Ucrânia
Moscovo impõe novas condições: NATO deve retirar convite a Kiev e militares europeus não devem participar na futura missão de manutenção da paz.
Estados Unidos e Rússia concordaram na terça-feira avançar com “negociações de alto nível” para acabar com a guerra na Ucrânia de forma “duradoura, sustentável e aceitável para todos”. A decisão foi anunciada na capital saudita, Riade, no final de uma reunião de quatro horas e meia que deixou de fora a Ucrânia e a Europa, e que foi acompanhada por novas exigências da Rússia para alcançar a paz.
“Este é o primeiro passo numa longa e difícil jornada”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, garantindo que “ninguém ficará de fora” das negociações, numa reação às preocupações manifestadas por Kiev e pelos aliados europeus sobre a possibilidade de o acordo ser negociado nas suas costas. O chefe da diplomacia dos EUA frisou que um futuro acordo de paz “terá de ser aceitável para todos os envolvidos, e isso inclui, obviamente, a Ucrânia, os nossos aliados europeus e a Rússia”. Mike Waltz, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, adiantou que “questões territoriais” e “garantias de segurança” serão alguns dos temas a abordar nas negociações.
Do lado russo, Yuri Ushakov, conselheiro do Presidente Vladimir Putin, afirmou que os dois lados “mantiveram uma conversa muito séria sobre todos os assuntos que pretendiam abordar”, incluindo a preparação da cimeira Trump-Putin, que ainda não tem data marcada.
Enquanto decorria o encontro, o Kremlin reiterou que Putin está disposto a falar com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “se for necessário”, e indicou que a Rússia não tem nenhum problema com a adesão da Ucrânia à União Europeia, embora tenha reiterado que a adesão à NATO é uma ‘linha vermelha’, tendo inclusive reforçado as suas exigências a este respeito. Para o Kremlin, “já não basta” a garantia de que Kiev não fará parte da Aliança - é preciso também que a NATO retire formalmente o convite que foi feito à Ucrânia em 2008, na Cimeira de Bucareste. “Caso contrário, este problema continuará a envenenar a atmosfera na Europa”, disse a porta-voz do MNE russo, Maria Zakharova.
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, avisou também, em Riade, que o envio de tropas de países da NATO para a Ucrânia após um eventual cessar-fogo, mesmo sob outra bandeira, é “inaceitável” para a Rússia. “Explicámos aos nossos colegas que a expansão da NATO e a absorção da Ucrânia pela Aliança é uma ameaça direta para os interesses da Rússia e uma ameaça direta à nossa soberania, e que o envio de tropas dos Estados-membros da NATO, sob uma falsa bandeira, sob a bandeira da UE ou dos seus próprios países, não altera nada nesta posição. É absolutamente inaceitável para nós”, sublinhou.
Zelensky rejeita decisões sem a Ucrânia
O Presidente ucraniano reiterou na terça-feira que não aceitará um acordo de paz negociado à revelia da Ucrânia e voltou a exigir que tanto Kiev como a Europa façam parte de qualquer processo negocial. “Não queremos que ninguém decida nada nas nossas costas. Nenhuma decisão sobre o fim da guerra na Ucrânia pode ser tomada sem a Ucrânia”, insistiu Volodymyr Zelensky durante uma visita à Turquia, no dia em que delegações dos EUA e da Rússia decidiram em Riade iniciar negociações formais para acabar com a guerra. O líder ucraniano confirmou que não foi convidado para o encontro e criticou os EUA e a Rússia por “discutirem sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”. Zelensky disse ainda que decidiu cancelar a sua visita a Riade, que estava prevista para hoje, como forma de protesto por não ter sido convidado para o encontro e para evitar o que chamou de “coincidências” que poderiam “legitimar” a reunião de terça-feira.
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